Foto: Reprodução
O médico especialista em neurocirurgia, Fernando Zúniga, que atua no Hospital Regional de Sorriso (398 Km da Capital), escreveu uma carta informativa, em que relatou sérios problemas na unidade hospitalar que, segundo ele, impedem o funcionamento do local de forma digna e segura. (leia a carta abaixo)
De acordo com o profissional, os serviços de neurocirurgia na unidade começaram a ser ofertados em outubro de 2014. Desde então, os profissionais que atuam no hospital, segundo Zúniga, realizaram cirurgias de “alta complexidade e elevado grau de dificuldade”.
No entanto, o médico afirma que atualmente o hospital traz “mais riscos” que benefícios aos seus usuários.
“É com frustração, muita tristeza e, sobretudo, constrangimento que relatamos a realidade que enfrentamos nos últimos meses. Atualmente, o Hospital Regional de Sorriso não apresenta as condições mínimas necessárias para uma prática de medicina digna e segura”, afirmou em sua carta.
Conforme o relato do neurocirurgião, entre os problemas enfrentados pelos profissionais que trabalham na unidade está a falta de pessoas em número e qualificação em todos os segmentos do hospital, além de o centro cirúrgico, que está “sucateado”.
Tais problemas, segundo Zúniga, tem causado prejuízo da qualidade nos resultados finais dos tratamentos, prolongamento do tempo de internação e de sofrimento e o aumento dos riscos de outras complicações graves, inclusive morte.
“Não compactuamos com esta realidade. Guardamos sempre a esperança de melhora, de poder voltar a oferecer uma medicina, no mínimo decente e segura para quem precisa, mas colhemos apenas promessas sem resultados”, disse.
Atualmente, o hospital de Sorriso é gerido pelo Consórcio Intermunicipal de Saúde da Região do Teles Pires, que reúne 15 municípios da região.
O Estado é responsável pelas despesas de manutenção do hospital, bem como por toda a folha de pagamento, ficando a cargo do Consórcio somente a complementação salarial dos médicos.
Atualmente, o hospital possui 112 leitos cadastrados no Ministério da Saúde, todos dedicados ao atendimento pelo SUS.
Questionamento
Ainda em sua carta, o médico Fernando Zúniga questionou o discurso apresentado pelo município e pelo o Estado, que alegam a existência da crise econômica para justificar os problemas na unidade.
“Se a responsabilidade desta triste e lamentável situação é do município, do Estado ou, simplesmente, das grandes autoridades que assim nomeiam de ‘crise’, eu não sei dizer. A única certeza que tenho é de quem esta pagando por ela: o humilde que não tem outra opção de tratamento”, declarou.
Outro lado
A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da Secretaria de Estado de Saúde, que ficou de enviar uma nota de esclarecimento sobre o caso.
Até a edição dessa matéria, no entanto, a assessoria ainda não havia se manifestado.
Leia a carta do neurocirurgião na íntegra:
“CARTA INFORMATIVA
Iniciamos o serviço de neurocirurgia no HOSPITAL REGIONAL DE SORRISO (HRS) em outubro de 2014, no inicio daquele período, realizamos cirurgias de alta complexidade e elevado grau de dificuldade, que trouxeram imenso orgulho e satisfação para nossa equipe.
Mas, é com frustração, muita tristeza e sobretudo constrangimento que relatamos a realidade que enfrentamos nos últimos meses. Atualmente, o Hospital Regional de Sorriso não apresenta as condições mínimas necessárias para uma prática de medicina digna e segura.
– Faltam pessoas em numero e qualificação em todos os segmentos do hospital.
– UTI e PRONTO SOCORRO com falta de monitores e equipamentos.
– Centro cirúrgico sucateado mesas, materiais, iluminação. . . .
– Irregularidade e descontinuidade no controle de higiene em todo o hospital.
– Serviço de esterilização sem profissionais qualificados e com equipamentos ultrapassados operando de forma não recomendada.
– Prestadores de serviços e fornecedores que suspenderam a relação comercial com a instituição devido a falta de pagamento.
As consequências de toda essa desordem, culminam em:
– Redução do numero e da qualidade do serviço prestado
– Aumento alarmante do índice de infecção hospitalar, causando:
Prejuízo da qualidade no resultado final do tratamento
Prolongamento do tempo de internação e de sofrimento
Aumento dos riscos de outras complicações graves, inclusive morte.
Não compactuamos com esta realidade, guardamos sempre a esperança de melhora, de poder voltar a oferecer uma medicina no mínimo decente e segura para quem precisa, mas colhemos apenas promessas sem resultados.
Não aceitamos a ideia de que, por sermos de uma cidade do interior do Mato Grosso, devemos realizar uma medicina medíocre, ultrapassada e desumana.
Todo nosso conhecimento e tempo são dedicados numa luta constante na preservação da vida, e quando não é possível, temos a obrigação de garantir a dignidade e o alívio da dor.
Colocamos aqui, para conhecimento de todos que atualmente o HOSPITAL REGIONAL DE SORRISO, traz muito mais risco que beneficio para os seus usuários, que esperam um tratamento médico adequado.
Se a responsabilidade desta triste e lamentável situação é do município, ou do estado ou simplesmente das grandes autoridades que assim nomeiam de “crise ? ? ?”, eu não sei dizer. . . . a única certeza que tenho, é de quem esta pagando por ela. . . . o Humilde que não tem outra opção de tratamento.
. . . o que preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons. . . .
SORRISO, 30 de Janeiro de 2017
FERNANDO ZÚNIGA – Neurocirurgia”