As principais câmaras de empresários do país divulgaram comunicados rejeitando as iniciativas do governo de utilizar uma lei antiterrorismo contra determinados negócios e de tentar votar o projeto de uma nova lei de abastecimento.Aprovada em 2011, a lei antiterrorismo foi citada pela presidente na semana passada, quando questionou o fechamento de uma gráfica na Argentina com capital americano.
Cristina Kirchner sugeriu que a gráfica Donnelley foi fechada deliberadamente pelos controladores americanos para desestabilizar a economia argentina, com a demissão de 400 empregados. Os donos da gráfica alegaram que o fechamento ocorreu por conta de uma falência.Ela indicou que usaria a lei antiterrorismo para processar os controladores da gráfica.Em seguida, o presidente da Comissão Nacional de Valores (CNV), Alejandro Vanoti, disse que houve "uma confusão" e que a lei não seria usada.
Abastecimento
Já o projeto sobre a mudança em uma polêmica legislação – a Lei de Abastecimento de 1974 – começou a ser debatido no Senado nesta quarta-feira, e o governo espera aprová-lo nos próximos dias.Este projeto foi rejeitado pela oposição e pelo setor empresarial por "autorizar o governo a regular a cadeia produtiva, estoques e lucros", segundo afirmaram empresários e políticos ouvidos pela BBC Brasil.
"Se essa lei for aprovada, funcionários do governo passam a controlar nossos estoques, preços e lucros. E se ele entender que ajustei preços ou pratiquei alguma outra irregularidade estarei sujeito a multas milionárias e a fechar as portas. O governo vai agir primeiro para eu explicar depois, e sem justiça", disse um empresário que pediu para não ter o nome revelado. Segundo ele, a preocupação é ser "enquadrado também" na lei antiterrorismo.
A senadora da oposição Gabriela Michetti afirmou que se aprovada a lei dará ao governo "o poder de fechar empresas".O representante do setor rural, Luis Miguel Etchevere, disse a lei seria uma violação da propriedade privada. "Vamos apelar à Justiça", disse.
Proteção
Nesta quarta, em novo discurso, a presidente disse a empresários e ao setor financeiro que não há motivos para preocupação."São leis para proteger o consumidor", disse Cristina durante um evento para celebrar o aniversário da Bolsa de Comércio (Valores) de Buenos Aires. "Os projetos estão sendo debatidos e estamos abertos à discussão."Aliados da presidente entendem que sua política econômica está no caminho certo. Para o economista András Asian, o kirchnerismo tirou o país da bancarrota e melhorou a vida dos argentinos.
Já para os críticos, ela voltou a dar uma guinada em sua política depois que um juiz de Nova York, Thomas Griesa, determinou que o governo argentino somente pague os juros da dívida de 2001, reestruturada em 2005 e em 2010, se também pagar àqueles que recusaram as ofertas do governo e exigem o pagamento integral dos títulos públicos esses credores são os chamados 'fundos abutres'.
"A economia argentina parecia estar entrando nos trilhos depois que o governo chegou a acordos para acertar alguns de seus principais problemas externos como o pagamento à petrolífera espanhola Repsol pela expropriação da empresa YPF e o acordo para o pagamento. Mas depois da medida do juiz de Nova York, a presidente voltou a radicalizar seu discurso e a gerar preocupação entre investidores", escreveu um colunista do jornal La Nación.
G1