Internacional

Laudo de esquizofrenia é último recurso contra morte de brasileiro

O brasileiro Rodrigo Gularte foi preso na Indonésia em 2004 e condenado à morte por tráfico de drogas. Um laudo que atesta que Rodrigo tem esquizofrenia, um distúrbio mental, é a última esperança para suspender a execução dele, que pode acontecer ainda este mês.

O Fantástico conversou com a prima do Rodrigo, Angelita Muxfeldt, que está na Indonésia há quase um mês acompanhando de perto o desenrolar do caso.

“Ele está muito confuso, ele não consegue entender a realidade do que está acontecendo com ele”, diz Angelita Muxfeldt, prima de Rodrigo Goularte.

Angelita acompanha o brasileiro desde a prisão, há quase 11 anos, por tráfico de drogas na Indonésia. Rodrigo foi condenado à morte e está na lista dos presos que serão executados ainda este mês. "Ou será no dia 21 ou no dia 28", diz Angelita.

Agora, junto com a família, Angelita faz a última tentativa para livrar Rodrigo do pior: provar ao governo da Indonésia que ele sofre de esquizofrenia, um distúrbio mental. E, assim, evitar que ele tenha o mesmo destino do outro brasileiro condenado por tráfico, Marco Archer, fuzilado há quase um mês.
Rodrigo, hoje com 42 anos, nasceu em Foz do Iguaçu, no Paraná, em uma família de classe média alta.

Mês passado, a mãe, Clarisse Gularte, contou ao Fantástico que ele era um jovem tranquilo: “O Rodrigo sempre foi uma pessoa boa, nunca fez mal para ninguém. Ele sempre foi um bom filho”, declarou.

Apaixonado desde pequeno por surfe, Rodrigo se envolveu com drogas na adolescência. Chegou a ser internado duas vezes em clínicas para dependentes. A família diz que nunca desconfiou do envolvimento dele com o tráfico. E que Rodrigo sempre teve problemas psicológicos.

“O Rodrigo tinha um quadro de depressão e bipolaridade. E, nos últimos tempos antes de ser preso, ele se afastou bastante da família”, diz Angelita. 

Rodrigo foi preso em julho de 2004. Ele tinha saído de Florianópolis, onde estudava administração, a caminho de Bali, na Indonésia. A polícia encontrou seis quilos de cocaína nas pranchas de surfe que Rodrigo levava.

Com ele, estavam também outros dois brasileiros. Segundo a família, Rodrigo inocentou os colegas e assumiu a culpa. “Ele tem um coração muito bom. Quis poupar os dois que estavam com ele”, afirma a prima.

Angelita chegou à Indonésia no início do ano e faz duas visitas por semana ao primo.

“O Rodrigo está muito confuso, ele não está entendendo… Umas histórias sem fundamento, conversas desconexas, delirantes, surreais assim. Ele fala das nossas vidas passadas, ele fala que nós todos temos sósias” conta ela.

Esta semana, a pedido da família, um médico credenciado pelo governo da Indonésia apresentou um laudo sobre o estado de saúde de Rodrigo.

“Ele contou para o médico inclusive que, à noite, ele escuta bombas que invadem a prisão e escuta vozes”, diz Angelita.

Segundo o laudo, Rodrigo estava 'agitado' e 'um pouco tenso' ao se apresentar ao médico. O psiquiatra diz que ele apresenta 'nível de consciência normal' e é 'capaz de cuidar de si mesmo'.

No entanto, o médico afirma que o brasileiro tem pensamentos 'irreais' e 'ilusões bizarras'. Ainda de acordo com o laudo, Rodrigo também sofre de 'alucinações visuais e auditivas' e tem dificuldades de compreensão e atenção. Seu estado emocional é descrito como 'indiferente.'
“E um dos presos contou que ele falava sozinho, que ele não comia nada. Todos tinham medo de ficar com ele porque ele tinha muitas alucinações. As pessoas sabem, os guardas sabem, todo mundo sabe que Rodrigo está doente. Ele está com alucinações mesmo, com esquizofrenia. Não é normal como ele está”, diz Angelita.

O Fantástico pediu para o psiquiatra brasileiro Alexandre Keusen, especialista em esquizofrenia, comentar o laudo feito na Indonésia. “O laudo diz que ele está lúcido, orientado, ciente do mundo real que está em volta, ou seja, ele sabe onde ele está, o nome dele, o dia e a hora. Mas em termos da evolução do transtorno de esquizofrenia, ele está com o pensamento desorganizado, ideias que são frouxas, que não dão sequência própria. Ele está fora da realidade”, ele diz.

Fantástico: Pelo diagnóstico que o laudo traz, o que o Rodrigo tem exatamente?
Alexandre Keusen: A conclusão do laudo é de esquizofrenia do tipo paranoide.
Fantástico: As drogas podem ter potencializado a evolução da doença?
Alexandre Keusen: As drogas podem induzir, precipitar e agravar a presença da doença.
O laudo foi assinado pelo médico da prisão na sexta-feira (13). No sábado (14), foi encaminhado para a embaixada da Indonésia em Brasília.

“Eles vão entregar para o advogado e o advogado vai entregar para o procurador-geral. Quem vai determinar a internação é o procurador-geral”, diz Angelita.

Em 18 de janeiro deste ano, um dia após a execução de Marco Archer, a repórter Mallu Mazza conversou por telefone com o embaixador do Brasil na Indonésia, Paulo Alberto da Silveira Soares. Ele comentou o estado de Rodrigo Goularte: “Realmente está transtornado. Não tem condições coitado. Ele está num estado, eu diria beirando o grave”.

Na época, o embaixador disse que o pedido de internação pode não ser suficiente para evitar a morte do brasileiro: “Pode passar uma semana, duas, três, um mês, ele internado e acabar acontecendo a mesma coisa. Porque eles mesmo do governo, o próprio procurador-geral, já disseram que vão continuar as execuções dos que estão condenados”, diz o embaixador Paulo Alberto da Silveira Soares.

O Fantástico procurou o Itamaraty novamente esta semana, mas ninguém quis se manifestar.

A embaixada da Indonésia também não respondeu às nossas tentativas de contato.

Fantástico: Como é que está a mãe do Rodrigo?
Angelita: Está deprimida, procura a fuga no sono. Só quer ficar quieta dormindo, não quer fazer nada, não quer ver ninguém. E quando fala, só chora. Se eu pudesse, ficaria lá dentro com ele.
Fantástico: Vocês estão preparadas para o caso de vocês não conseguirem reverter isso?
Angelita: A gente tem que estar preparada, mas não sei. Acredito que, se isso acontecer, vai ser uma coisa assim muito difícil de enfrentar. Claro, nós vamos ter que enfrentar, mas a gente espera que não, que não aconteça.

Fonte: g1

Redação

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