O islamita é mantido incomunicável em lugar desconhecido desde o golpe militar que o retirou do poder, em 3 de julho, na sequência de manifestações em massa contra seu governo.
A transição política egípcia tornou-se, desde então, um impasse diplomático para os EUA, já que o país seria obrigado por lei a interromper seu auxílio financeiro a partir do momento em que classificasse os eventos deste mês no Egito como um golpe de Estado.
Um funcionário da administração do presidente Barack Obama ouvido pelo "New York Times" afirma, porém, que o governo americano irá escapar da saia-justa ao simplesmente não fazer qualquer conclusão a respeito da transição política no Egito.
De acordo com o jornal nova-iorquino, a opinião legal corrente na Casa Branca é de que o governo não é obrigado a determinar se houve ou não um golpe militar no Egito -e, diante da frágil segurança regional, não seria do interesse americano contribuir para a desestabilização do país.
RUAS
Estão previstas para hoje manifestações tanto dos simpatizantes de Mursi quanto da oposição secular que pediu sua deposição e insiste, agora, nos planos de transição política coordenados pelo presidente interino Adly Mansur.
Há, como nas sextas-feiras anteriores, expectativa de violência nas ruas do Egito, em especial no Cairo -onde manifestantes têm sido mortos em confrontos entre ambas as facções, desde o golpe de Estado.
Em 8 de julho, 51 islamitas foram mortos durante a repressão do Exército diante de um quartel da Guarda Republicana, onde se acredita que Mursi esteja detido.
A Irmandade Muçulmana, à qual o islamita está ligado, afirma que as acusações contra o ex-presidente são "ridículas". "Acreditamos que mais pessoas vão perceber o que esse regime realmente representa -um retorno ao antigo Estado do [ex-ditador Hosni] Mubarak", afirmou o porta-voz Gehad el-Haddad.
O Exército do Egito estabeleceu na quinta-feira (25) um prazo de 48 horas para que a organização islamita Irmandade Muçulmana concorde em fazer parte dos planos de reconciliação política no país.
Mursi está sob investigação por sua fuga de uma prisão no norte do Cairo, ao lado de outros líderes da Irmandade. Há suspeita de que houve participação do Hamas no incidente, o que constituiria uma interferência externa ilegal, por lei egípcia.
Entre as acusações contra o islamita está a de "colaboração com o Hamas para efetuar atos agressivos no país, atacando estrutura policial e soldados", de acordo com informação da mídia estatal.
Diante dos esforços das Forças Armadas do Egito em combater militantes islamitas no deserto do Sinai e também da repressão a membros do Hamas na fronteira com a faixa de Gaza, incluindo a destruição de túneis ilegais, a acusação da Justiça egípcia também toca nas relações agora complicadas entre o país e a facção palestina.
Fonte: Folha On Line
Foto: Mohamed Abd El Ghany /Reuters