Mesmo com o dólar agarrado à marca de R$ 6 pelo terceiro dia seguido, o Ibovespa subiu 0,72% nesta terça-feira, aos 126.139,20 pontos, alternando perdas e ganhos nas últimas quatro sessões: intervalo dentro do qual tocou os 124,6 mil pontos, na mínima desde 28 de junho no fechamento da quinta-feira, 28 de novembro, então no piso de cinco meses. Hoje, o índice da B3 oscilou dos 125.233,45 aos 126.417,20 pontos, saindo de abertura aos 125.235,46. O giro ficou em R$ 21,8 bilhões na sessão. Na semana e no mês, o Ibovespa sobe 0,38%. No ano, cai 6,00%.
Destaque da agenda doméstica nesta terça-feira, o PIB do terceiro trimestre teve alta de 0,9%, na margem, em leitura acima do esperado para o período, com mediana do Projeções Broadcast a 0,8%. Assim, com atividade acima do esperado, tanto o câmbio como a curva de juros operaram em alta pela manhã. A curva do DI manteve a tendência até o fim do dia, mas o câmbio se acomodou à tarde, com o dólar à vista em baixa de 0,16%, a R$ 6,0584, no fechamento da sessão.
“A combinação de um mercado de trabalho aquecido, condições de crédito mais favoráveis e o impulso fiscal explicam essa expansão mais forte da economia ao longo de 2024”, diz Rafael Perez, economista da Suno Research, casa que elevou para 3,4% a projeção de alta para o PIB de 2024. “O bom desempenho do consumo das famílias está ligado ao mercado de trabalho aquecido, com o desemprego em mínimas históricas”, o que contribui para o “crescimento dos rendimentos do trabalho e da massa salarial, além das melhores condições de crédito e da expansão das transferências sociais”, acrescenta Perez.
A despeito da relativa cautela que ainda prevaleceu em parte dos ativos nesta terça-feira, o Ibovespa teve um dia de alívio, embora ainda se mantenha em “tendência de baixa e, por análise técnica, seja necessária uma confirmação de fim do movimento de queda”, observa Inácio Alves, analista da Melver. Ele destaca o desempenho de algumas ações do setor bancário – segmento que vem de perdas e hoje contribuiu para o avanço do Ibovespa, com destaque para Itaú (PN +1,12%) e Banco do Brasil (ON +1,22%), além de Santander (Unit +2,39%, na máxima do dia no fechamento)
Entre as blue chips, o dia foi ao fim positivo para Petrobras (ON +0,12%; PN +0,89%, no pico da sessão no encerramento) e negativo para Vale (ON -0,76%, mínima do dia no fechamento, a R$ 58,47). Na ponta ganhadora do Ibovespa, Brava (+9,05%), Caixa Seguridade (+4,55%), Ambev (+4,53%) e BRF (+4,48%). No lado oposto, Petz (-4,09%), Embraer (-2,66%), Eztec (-2,53%) e LWSA (-2,51%).
“Os dados do PIB, levemente acima do esperado, reforçam a avaliação do mercado de que o Copom que volta a se reunir na semana que vem provavelmente precisará ser mais duro para conter a pressão inflacionária em uma economia ainda bastante aquecida”, diz Fabrício Norbim, especialista da Valor Investimentos. De outro lado, acrescenta o analista, os dados de atividade não aliviam os receios do mercado com relação ao risco fiscal, apesar do “leve fôlego” mostrado pelo Ibovespa na sessão, em meio ainda à volatilidade no câmbio e no DI.
Dólar
Após cinco sessões consecutivas de alta, o dólar à vista fechou em leve queda no mercado doméstico nesta terça-feira, 3, mas se manteve acima da linha de R$ 6,00. Embora com algumas trocas de sinal, a divisa operou em terreno positivo na maior parte do dia, firmando-se em baixa apenas na última hora de negócios, quando sugiram notícias positivas no front fiscal.
A recuperação do real coincidiu com falas do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e do secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron. Lira, que na semana passada prometeu celeridade na apreciação do pacote fiscal, pautou hoje à tarde requerimento de urgência para votação em plenário de duas medidas propostas pelo governo – uma delas é o projeto de lei que ajusta as despesas com salário mínimo aos limites do arcabouço fiscal.
Já o secretário do Tesouro afirmou que há condições de fechar 2024 com um déficit primário mais perto de 0,2% do PIB do que de 0,25%, o piso inferior da banda de tolerância da meta fiscal, que neste ano é de déficit primário zero.
Com mínima a R$ 6,0320 e máxima a R$ 6,0954, o dólar à vista fechou em baixa de 0,16%, cotado a R$ 6,0584, após ter acumulado valorização de 4,5% nas cinco sessões anteriores e renovado pico nominal histórico nos últimos quatro pregões. Apesar do refresco hoje, o real teve desempenho inferior a de seus principais pares latino-americanos, os peso mexicano e chileno.
Termômetro do comportamento da moeda americana em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY recuava 0,12% no fim da tarde, ainda acima da linha dos 106,200 pontos. Destaque negativo no dia para o won sul-coreano, que chegou a perder mais de 1% na comparação com o dólar diante de uma crise política deflagrada pela decisão do presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, de decretar e, em seguida, suspender lei marcial de emergência.
Para o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, a manutenção da taxa de câmbio acima de R$ 6,00 mostra que existe um desconforto grande com a questão fiscal. Ele ressalta que não há, por ora, sinais de que o governo possa adotar medidas que amparem uma recuperação consistente da moeda brasileira.
“Apesar da boa notícia do PIB e da perspectiva de taxa Selic maior, o país não consegue atrair dólares. A liquidez está baixa e há pressão de saída também devido às remessas de fim de ano para o exterior”, afirma Galhardo, ressaltando o Banco Central faz bem em não intervir no mercado de câmbio, uma vez que não há “disfucionalidades”.
Pela manhã, o IBGE informou que o PIB cresceu 0,9% no terceiro trimestre em relação ao segundo, um pouco acima da mediana de Projeções Broadcast (0,8%). Destaques para o avanço do consumo das famílias e do investimento. Na comparação interanual, o crescimento foi de 4%.
“Esse crescimento reforça o cenário do Banco Central de que a economia brasileira está operando acima da sua capacidade produtiva e aumenta as chances de o Copom atuar de forma mais contundente na reunião marcada para semana que vem, com aumento de juros em 0,75 ponto ou de 1 ponto”, afirma o economista André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferências Remessa Online.
Juros
Os juros futuros subiram com força, com ganho de inclinação para a curva, uma vez que as taxas longas mostraram um ritmo mais acelerado do que as curtas. A dinâmica foi estabelecida logo pela manhã com os dados fortes do PIB, que reforçaram a leitura de um Copom agressivo no atual ciclo de política monetária, num contexto de deterioração do cenário fiscal. A curva voltou a precificar Selic terminal a 15%.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 encerrou em 13,99%, de 13,88% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 em 14,26%, de 14,08%. O DI para janeiro de 2029 fechou com taxa de 14,10% (de 13,87%).
O ganho de inclinação – as taxas longas chegaram a subir mais de 30 pontos -, foi puxado pela aversão ao risco com o cenário local. Assim o exterior, onde o dólar operou em baixa e os juros dos Treasuries estiveram bem comportados, ficou em segundo plano. O quadro fiscal complexo somado à leitura do PIB do terceiro trimestre representa grande desafio para o Banco Central reancorar as expectativas de inflação.
A economia brasileira cresceu 0,9% no terceiro trimestre, na margem, para nível recorde dentro da série iniciada em 1996 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado veio ligeiramente acima da mediana das estimativas (0,8%).
Pelo lado da demanda, o principal impulso veio do consumo das famílias (+1,5%), que também alcançou novo ápice no período, refletindo a melhora no mercado de trabalho. Sob a ótica da oferta, o PIB de serviços (0,9%) subiu a novo pico. Apesar da exuberância, o PIB foi lido sob a ótica dos efeitos sobre a inflação e juro, já bastante pressionados.
A avaliação geral é de que o Banco Central deverá revisar para cima suas estimativas para o hiato do produto e, com isso, será inevitável acelerar o ritmo de aperto da Selic. “Com a atividade rodando nesta velocidade e com a deterioração das expectativas, me parece que o mercado irá migrar rapidamente para uma projeção de alta de 100 pontos-base para a Selic já em dezembro”, afirma o economista André Perfeito.
Para a economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese, o cenário fiscal “muito ruim” somado ao “PIB forte, ainda que retrovisor” transformou a manutenção da alta de 50 pontos da Selic num “risco de cauda”. Ela trabalha com um cenário de pelo menos duas elevações de 75 pontos-base nas próximas reuniões e Selic terminal de 13,25%. A economista disse não ver ainda a economia em dominância fiscal, porque acredita que o aperto monetário será eficiente em esfriar a atividade e o mercado de trabalho, a ponto de desacelerar o ritmo inflacionário.
O grande risco para esse cenário, ponderou, “é o dólar”, variável que tem sido pressionada pelo risco fiscal, mas em boa medida pelo “Trump trade”. “Já vemos o impacto do câmbio nos IGPs e nos bens industriais no IPCA. E a cotação a R$ 6 ainda não entrou nos preços, mas vai daqui a pouco”, alertou.
No meio da tarde, as taxas chegaram a esboçar um alívio, desacelerando pontualmente o ritmo de avanço, a partir da informação de que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), pautou requerimentos de urgência para dois projetos que integram o pacote fiscal para votação no plenário ainda hoje. Em contrapartida, militares estão se articulando para tentar voltar atrás em relação às novas regras da Previdência das Forças Armadas acertadas com o governo para entrarem no pacote de contenção de gastos, apurou o Broadcast. (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado).