O estado de emergência começou às 16h locais (11h de Brasília). A presidência pediu ao exército que ajude o Ministério do Interior a "impor a ordem" no dividido país.
O toque de recolher vale para o Cairo em 11 províncias, de 19h às 6h.
O massacre provocou repúdio internacional e levou o vice-presidente interino do Egito, o diplomata e Nobel da Paz Mohamed ElBaradei, a anunciar sua renúncia ao cargo pouco depois da implantação do estado de emergência.
Crise após golpe militar
Segundo a imprensa local, os confrontos seguem intensos na capital do país, cada vez mais afundado na crise política após a derrubada do presidente islamita Mohamed Morsi, no início de julho, por um golpe militar apoiado por parcela da população.
Os islamitas pedem que Morsi, primeiro presidente eleito da história do país, seja reconduzido ao cargo. Os militares descartaram, acusando-o de não ter governado "para todos os egípcios" mas apenas para seu grupo, a Irmandade Muçulmana, mas prometeram uma transição de volta à democracia.
Vítimas
Segundo o Ministério da Saúde, 235 pessoas morreram, 43 delas policiais, e mais de 2.001 ficaram feridas nos confrontos desta quarta. A princípio, houve alguma confusão sobre se a cifra de 235 incluía os policiais mortos.
O número de mortes deve aumentar, à medida que novos relatos de violência em vários pontos do país continuam surgindo.
A Irmandade Muçulmana e a imprensa falam em até 600 mortos.
O grupo islamita também relatou que a filha de 17 anos um de seus líderes, Mohammed al-Beltagui, está entre os mortos. Ela teria sido baleada no peito e nas costas durante o avanço da polícia na praça de Rabaa al-Adawiya.
Pedido de resistência
Horas após o início do estado de emergência, milhares de islamitas que ocupavam uma praça no Cairo deixaram o local, que foi totalmente controlado pela polícia.
O ministro Mohamed Ibrahim afirmou que novos acampamentos de protesto não serão permitidos.
Apesar disso, um grupo de partidários de Morsi, a Aliança Anti-Golpe, pediu que os egípcios façam protestos nacionais contra o que chamaram de "golpe militar".
A polícia do Egito prendeu duas altas autoridades da Irmandade Muçulmana, Mohamed El-Beltagi en Essam El-Erian, após o massacre. Também foi preso o clérigo islamita Safwat Hegazi.
Preocupação internacional
A situação tensa no Egito, o mais populoso dos países árabes, preocupa a comunidade internacional.
Os EUA deploraram a violência e afirmaram que estão revendo a ajuda econômica ao Egito.
A União Europeia, por meio da chefe da diplomacia Catherine Ashton, pediu o fim do estado de emergência o mais rápido possível.
O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon condenou com veemência a intervenção das forças de segurança contra a população egípcia e criticou as autoridades no poder por terem optado pelo uso da força.
"Estou muito preocupado com a escalada de violência e a instabilidade no Egito", disse o ministro britânico das Relações Exteriores, William Hague, em um comunicado. "Condeno o uso da força para dispersar as manifestações e peço às forças de segurança que atuem com moderação."
O chefe da diplomacia alemã, Guido Westerwelle, pediu a todas as forças políticas egípcias que impeçam uma escalada da violência.
A França também advertiu contra o uso desproporcional da força e pediu calma, enquanto Berlim defendeu "a retomada imediata das negociações" para evitar "um derramamento de sangue".
"A comunidade internacional, liderada pelo Conselho de Segurança da ONU, deve imediatamente passar à ação para cessar com este massacre", exigiu o primeiro-ministro turco islamita Recep Tayyip Erdogan.
O Irã condenou a matança, segundo um comunicado publicado pela agência Fars. "O Irã acompanha de perto os amargos acontecimentos no Egito condena a matança da população e adverte sobre suas graves consequências", indica o texto.
O Qatar, principal apoio da Irmandade Muçulmana, denunciou com veemência a intervenção da polícia contra "manifestantes pacíficos".
Militares pressionam
A ação para acabar com os acampamentos parece frustrar as esperanças restantes de trazer a Irmandade Muçulmana, o grupo de Morsi, de volta ao palco político central, e destacou a impressão compartilhada por muitos egípcios de que os militares apertaram o controle.
A operação também sugere que o Exército perdeu a paciência com os persistentes protestos que imobilizavam partes da capital e retardavam o processo político.
Tudo começou logo após o amanhecer, com helicópteros sobrevoando os acampamentos. Tiros foram disparados enquanto os manifestantes, entre eles mulheres e crianças, fugiam de Rabaa, e a fumaça subiu sobre o local. Veículos blindados avançaram ao lado de tratores que começaram a derrubar as tendas.
O governo emitiu um comunicado dizendo que as forças de segurança mostraram o "maior grau de autocontenção", refletido em poucas baixas diante do número de pessoas "e do volume de armas e violência dirigidos contra as forças de segurança".
O governo, que prevê novas eleições em cerca de seis meses para devolver o regime democrático ao Egito, instou os manifestantes a não resistir às autoridades, acrescentando que os líderes da Irmandade Muçulmana devem parar de incitar a violência.
A mesquita Al-Azhar do Cairo, principal autoridade sunita do mundo e que havia apoiado a destituição de Morsi, se distanciou da violência desta quarta.
"Al-Azhar informa aos egípcios que não tinha conhecimento dos métodos utilizados para dispersar os protestos, a não ser pelos meios de comunicação", afirmou o imã Ahmed al-Tayyeb.
G1.Com