Enock Cavalcanti – Especial para o Circuito
Primeiro, vieram o advogado Marco Aurélio Marrafon, escalado para comandar a Secretaria de Planejamento, o administrador e economista Júlio Modesto, que ficará à frente da Secretaria de Administração e o jornalista Jean Campos, com a responsabilidade de tocar a área de Comunicação do Estado.
Na terça (25), Pedro Taques (PDT) anunciou mais dois técnicos escalados para formar a tropa de elite do seu secretariado, a partir de 1º de janeiro. O engenheiro agrônomo Seneri Paludo ocupará a pasta de Desenvolvimento Econômico e o executivo da Aprosoja, administrador e economista Marcelo Duarte Monteiro responderá pela Secretaria de Infraestrutura e Logística.
A nomeação a conta-gotas do novo secretariado deve prosseguir até o início de dezembro – “cada dia com sua agonia”, como gosta de repetir o governador, que tem vivenciado, internamente, dias de fúria para conciliar os interesses expressos pelos partidos que compuseram a base de sustentação de sua campanha, com as orientações que vem recebendo das consultorias Tendências (onde pontificam os ex-ministros Mailson da Nóbrega e Gustavo Loyola) e Fundação Dom Cabral (dirigida pelo professor Wagner Furtado Veloso) com suas próprias concepções de poder, ainda não muito claras.
Quando fala em agonia, Pedro Taques refere-se, certamente, às pressões recebidas de parceiros como o empresário Eraí Maggi – tido como “Rei da Soja”, filiado ao Partido Progressista e um dos principais financiadores de sua campanha – que tem cobrado, até aqui sem lograr êxito, uma posição de maior destaque, dentro da nova estrutura de poder, para o seu pupilo, o empresário Carlos Fávaro (PP), vice-governador eleito.
Pressões também chegam de partidos como o PSDB, que busca emplacar o ex-vereador e ex-secretário de Cuiabá Permínio Pinto na pasta da Saúde, e do DEM, de Júlio e Jayme Campos, que sonham encaixar o produtor rural Édio Bruneta, da região do Araguaia, em função de destaque. Taques, todavia, segue driblando-as e alinhando um secretariado que, até aqui, apresenta baixa vinculação político-partidária e tem tudo para ficar mais diretamente submetido ao poder pessoal do governador e do seu coordenador na transição, o prefeito licenciado de Lucas do Rio Verde, Otaviano Pivetta, principal parceiro de Taques na gestão do novo bloco de poder.
Devassa atenuada
Na terça, na conversa com os jornalistas, Pedro Taques informou ter encomendado a Seneri Paludo um “estudo profundo” sobre a viabilidade dos incentivos fiscais concedidos ultimamente pelo Governo do Estado, notadamente para o setor do comércio. A pretensão é identificar, de forma científica, como a renúncia fiscal pode, efetivamente, ser importante para o fortalecimento das atividades econômicas em nosso Estado, sem incorrer na montagem de panelinhas que vampirizem os cofres do Estado, como tem sido muito denunciado ultimamente.
Pós-graduado em Planejamento e Gestão de Negócios, Paludo volta a Mato Grosso, onde já comandou o Imea (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária), depois de atuar no governo da presidente Dilma Rousseff (PT) como secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, a convite do ministro Neri Geller (PMDB).
A secretaria de Desenvolvimento Econômico irá unir as pastas de Indústria, Minas e Energia, a de Turismo e ainda a da Agricultura. A estrutura da nova secretaria, com jeito de mastodôntica, ainda não está bem definida, tanto que Paludo ainda não sabe se entre as suas atribuições estará a responsabilidade de supervisionar o trabalho da Empaer. “Já se estabeleceu que vamos investir fortemente em extensão rural, mas onde a Empaer será enquadrada ainda não ficou claro”, informou ele.
Paludo também adiantou que a relação de sua pasta com partidos políticos e parlamentares é uma responsabilidade que não será concentrada em suas mãos. “Eu não tenho partido, meu partido é Mato Grosso. Todas as negociações político-partidárias que se fizerem necessárias ficarão a cargo do próprio governador”, disse.
Marcelo Duarte, que está assumindo a Infraestrutura e Logística, deixou a diretoria executiva da Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso), onde atuava há oito anos, e agora ficará responsável pela elaboração de um plano de impacto a ser implementado nos primeiros 100 dias da nova gestão, e também com a atribuição de promover uma auditoria completa em todos os contratos celebrados com empreiteiras em Mato Grosso nesses últimos anos.
Tal qual Paludo em relação aos incentivos fiscais, Duarte replicou a fala de Pedro Taques e evitou falar em devassa nas contas de Silval Barbosa (PMDB), como se devassa não fosse, simplesmente, a apuração de todo e qualquer ato criminoso, no interesse da sociedade.
“O Marcelo irá fazer uma auditoria nos contratos para que possamos construir mais, conseguindo ter preços competitivos e de mercado, e pagar aqueles que necessitam de recebimento no prazo correto", tentou suavizar Pedro Taques. Marcelo Duarte argumentou que essa determinação de auditoria é natural, já que é uma secretaria importante, com bilhões em orçamento e que precisa ser olhada. “O objetivo não é fazer uma caixa-preta, procurar defeitos, mas, sim, evitar que os problemas aconteçam. Se acharmos indícios de irregularidades, iremos apurar para que as obras não sejam prejudicadas e que possamos cumprir os projetos que já estão em andamento e ter fôlego para construir mais projetos", argumentou.
O acúmulo de serviços é evidente. Marcelo também informou que a colheita da próxima safra será outra das prioridades de sua pasta. “Não temos tempo a perder. A infraestrutura tem que ser mais bem olhada e cuidada. Temos uma safra para ser colhida a partir do mês de janeiro e a Secretaria de Infraestrutura precisa dar condições para que os produtores mato-grossenses possam escoar sua produção, tanto nas estradas não pavimentadas quanto nas pavimentadas e que estão em estado muito ruim de conservação”.
Certamente para alegria dos cuiabanos, Duarte anunciou atenção especial ao modal ferroviário, assegurando que a chegada da Ferrovia Vicente Vuolo à capital do Estado ocupa lugar de destaque no Plano de Governo de Pedro Taques. “A chegada da ferrovia é uma prioridade do governador”, disse.
Tão logo conclua a custosa formação do seu secretariado, Taques pretende convocar audiências públicas em Cuiabá em que pretende detalhar, área por área, a herança deixada pela atual administração. “A população, que paga a conta, tem o direito de saber e nós vamos detalhar tudo”, promete o novo governador.