Um dia após o anúncio da venda da cervejaria artesanal Colorado para a gigante de bebidas Ambev, o fundador da empresa em Ribeirão Preto (SP), Marcelo Carneiro, afirmou em entrevista ao G1 que a produção será quadruplicada até o final de 2015, mas que a receita original da cerveja e a marca serão mantidas. “O urso não vai desaparecer, seria uma maluquice”, disse.
A cervejaria, conhecida pelos rótulos com ingredientes exóticos e bem brasileiros, foi comprada após “poucos meses” de negociação, segundo o ex-dono e agora consultor da companhia de bebidas.
O valor do negócio, entretanto, não foi divulgado por nenhuma das partes. O faturamento anual da Colorado é de R$ 18 milhões.
Segundo o fundador, a expectativa inicial é de que a produção da cerveja artesanal aumente 400% até o final do ano, quando está prevista a inauguração da nova fábrica da Colorado, que continuará sendo produzida em Ribeirão Preto – cidade que ficou conhecida no auge da Companhia Antárctica Niger como a terra do chope.
Atualmente, são fabricados 140 mil litros por mês dos oito rótulos da marca e a previsão é de que a produção alcance 700 mil litros de cerveja a partir de dezembro.
A operação na nova sede da ‘marca do urso’, às margens da Rodovia Anhanguera em Ribeirão, já era prevista desde que a empresa com 19 anos de mercado passou a terceirizar a produção em uma cervejaria de Piracicaba.
No entanto, a inauguração da fábrica precisou ser adiada três vezes antes da entrada da Ambev no negócio. “A economia está difícil e tem a burocracia brasileira, os licenciamentos, não é fácil fundar uma fábrica”, disse o empresário. “Além disso, tem que mudar o pneu da bicicleta com ela andando”.
Receita original
O aumento da quantidade de litros de cerveja nos barris, entretanto, não deverá acarretar mudanças no processo de fabricação artesanal dos rótulos Demoisele, Appia e Cauim.
Carneiro dá garantias de que o produto não será alterado e que os ingredientes exóticos que fizeram a marca ser conhecida mundialmente continuarão sendo usados com o mesmo rigor.
“Quando levo minha cerveja para fora ficam admirados com o café, perguntam como é o mel feito da flor de laranjeira, e tenho que explicar o que é a rapadura, dizendo que a que eu compro é de engenho, de produção familiar, feita em tachos de cobre com açúcar mais bruto e quebrado no martelo”, afirmou.
Mercado ampliado
Neste ano, cerca de 40 mil litros da cerveja Colorado foram exportados para os Estados Unidos, França e Suíça. Com a venda para a Ambev, a marca deve aumentar o volume de exportações e chegar a outros países.
Além de cruzar o oceano, os rótulos também devem avançar o território nacional. “O pessoal menor se sente ameaçado quando um do nosso tamanho é adquirido por um grande, mas tem esse lado, que é servir a cerveja artesanal mais longe ainda. No nordeste não se vê e agora é que está começando a se ver no centro-oeste”, comentou Carneiro.
Ainda de acordo com o fundador, a marca famosa pelo urso em seus rótulos não desaparecerá. “A marca foi o principal acerto da transação, não passa pela cabeça deles mudar nada, essa é a cereja do bolo”, contou. Após o negócio, o empresário deverá se concentrar na criação de novas cervejas para a marca.
“O que mais me atraiu foi a liberdade que vou poder ter a partir de agora, porque antes eu ficava aqui dentro [na fábrica] me preocupando com impostos, pessoal, com uma máquina que quebrava, e agora tudo será cuidado por eles. Agora vou poder fazer exatamente o que eu gosto, que é criar”, disse o inventor das cervejas com sabor de mel, café, castanha e rapadura.
Fonte: G1