O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta terça-feira (19) que a "frustração" com o megaleilão do pré-sal, chamado de "cessão onerosa", foi um dos fatores que influenciaram a alta recente do dólar.
Nesta terça-feira, o dólar opera em alta, negociado a R$ 4,21, após ter batido na véspera seu recorde nominal histórico de fechamento.
Campos Neto participou de audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal.
"Movimento mais recente que ocorreu foi por conta da cessão onerosa, que alguns agentes do mercado esperavam uma entrada maior do que ocorreu. Então, como a entrada de recursos foi menor do que a esperada, e muitos agentes de mercado se posicionaram para capturar esse dólar caindo, você tem agora uma volta [do dólar para cima]", explicou ele.
Segundo Campos Neto, essa é somente parte da explicação. Ele disse, ainda, que há exportadores que estão demorando para trazer os recursos das vendas externas para o país e que empresas, como a Petrobras, estão trocando dívida externa por endividamento doméstico.
"São várias explicações. Mais recentemente, houve uma frustração com a cessão onerosa", concluiu o presidente do BC.
Ele também negou que o presidente Jair Bolsonaro tenha ligado, nesta segunda-feira (18), para perguntar sobre o nível recorde registrado pelo dólar: "Meu telefone não tocou (…) Ele tem meu telefone. Quando ele liga, eu atendo".
O presidente do BC avaliou, ainda, que a alta do dólar, ao contrário do registrado anteriormente, veio acompanhada de melhora de percepção de risco pelo mercado financeiro e não influenciou a expectativa de inflação.
"Essa desvalorização do câmbio, ao contrário do que acontecia no passado, veio acompanhada de melhora de percepção de risco. Você teve uma desvalorização que não influenciou expectativa de inflação. As inflações esperadas futuras caíram. Entendemos que a forma de atuar era diferente. Se, por uma razão, uma desvalorização contínua começar a afetar o canal de expectativas de inflação, vamos ter que fazer uma atuação diferente".
Inflação 'baixa e estável'
Roberto Campos Neto também afirmou que a inflação está "bastante baixa e bastante estável" tanto no curto quanto no médio e longo prazos e acrescentou que há alguns fatores que geram a inflação comportada.
São eles: o baixo ritmo de crescimento da economia global, causado, entre outros pontos, pela guerra comercial entre Estados Unidos e China, além do crescimento do crédito no Brasil, com base em recursos privados e, também, a compreensão, por parte dos agentes do mercado, de que o plano fiscal (para as contas públicas) é "sério".
A principal missão do Banco Central é controlar a inflação, tendo por base o sistema de metas. Quando as estimativas para a inflação estão em linha com as metas, o BC reduz os juros. Quando estão acima da trajetória esperada, a taxa Selic é elevada.
Para este ano, a meta central de inflação é de 4,25%, podendo oscilar de 2,75% a 5,75%. Para 2020, o objetivo central é de 4% (com oscilação de 2,5% a 5,5%).
O mercado estima que a inflação ficará em 3,31% neste ano e em 3,60% em 2020 – abaixo das metas centrais estabelecidas.
No mês passado, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central baixou a taxa básica da economia, a Selic, de 5,5% para 5% ao ano e indicou que deve promover mais uma redução, em dezembro, para 4,5% ao ano. O mercado já projeta, também, outro corte no começo de 2020 – para 4,25% ao ano.