Nacional

Falta de controle aumenta epidemia de Chikungunya

Foto: reprodução

Por R7

O Ceará vive uma epidemia de febre Chikungunya com mais de 41.723, sendo 16.185 já confirmados e oito mortos. A falta de controle na proliferação do mosquito Aedes aegypti e o mau atendimento médico são as principais causas das mortes e do aumento de casos notificados, segundo especialistas consultados pelo R7. Para o epidemiologista Luciano Pamplona, professor da Faculdade de Medicina da UFC (Universidade Federal do Ceará), tanto a população quanto os profissionais da saúde ainda não têm o preparo adequado para lidar com a doença.

— De fato, nos primeiros dias de sintomas de alguns pacientes as doenças são muito parecidas, então é provável que o médico veja um paciente nos dois ou três primeiros dias e tenha dificuldade de fazer o diagnóstico. Eu digo que é preciso que o médico olhe para o paciente e faça um bom exame médico, ouça o paciente falar. Isso é impossível de ser feito em uma consulta de 30 segundos ou um minuto.

O especialista ressalta que o combate precisa ser feito de forma conjunta entre poder público e população. Se o trabalho de remoção de eventuais criadouros do mosquito não for realizado nas residências, os casos só tendem a aumentar.

— Governo nenhum no mundo vai controlar essas doenças se não houver uma participação efetiva da população. Na prática, é fundamental que as pessoas entendam que o mosquito está dentro de casa. Tem pessoas que acreditam que os agentes de saúde é que vão resolver o problema, mas não é isso. O papel dele quando passa na casa das pessoas a cada dois ou três meses é orientar o que elas vão fazer em relação ao controle. Se ele não fizer nada até a próxima visita, o mosquito vai se desenvolver. Na prática, é preciso é uma boa orientação para que a população consiga se proteger no seu imóvel.

A opinião é compartilhada pelo professor João Bosco Siqueira, epidemiologista em medicina tropical da Universidade Federal de Goiás, que explica que a população às vezes espera que muitas situações se tornem mais graves para começar a fazer um combate efetivo a doenças.

— Esse combate depende muito da percepção pública que existe em torno de uma doença. É uma coisa muito parecida que acontece com o cinto de segurança dos carros, por exemplo. Enquanto as mortes não sobem muito por conta da falta do uso, isso não chega até as pessoas. É como se fosse um estímulo que elas precisam ter para tomar uma atitude.

Falta de continuidade

A coordenadora de Promoção e Proteção à Saúde da Sesa (Secretaria de Saúde do Ceará), Daniele Queiroz, afirma que os aumento nos casos de febre Chikungunya se devem à paralisação dos fucionários para as eleições e troca de gestores nas prefeituras, que causaram rupturas nas medidas que haviam sido aplicadas contra doenças até então.

— Nós tivemos 81% dos municípios que tiveram mudanças de seus gestores. Houve descontinuidade de planejamento no controle vetorial e nossa sazonalidade começa em novembro. Então se não tiver uma atividade continuada de controle do vetor, ele acaba se multiplicando e fica em um quantitativo que permite a transmissão contínua.

Mesmo assim, Daniele reforça que toda a população precisa ter paciência e e saber que cada um responsável pela sua própria casa.

— Quando tem rato, a gente controla. Quanto tem barata, a gente controla. E como o Aedes também é praga, a população não se sente responsabilizada por ajudar. Ela prefere que o ACE (Agente de Combate de Endemias) venha de dois em dois meses do que ela mesma procurar se tem algum foco dentro da residência. Essa visita é importante, mas a população não pode esperar todo esse tempo para ter uma ação preventiva.

Por isso, além da limpeza, a coordenadora ressalta a importância que a população tem na denúncia de outros locais que possam ser caracterizados como potenciais criadouros de larvas de mosquito, como é o caso de pontos de descarte irregular de lixo.

Casos da doença aumentaram no Brasil

De acordo com o boletim epidemiológico do Ministério da Saúde divulgado na quinta-feira (25), o número de casos de Chikungunya no país aumentou 88% em um mês. O documento mostra que, até 13 de maio, foram registrados 80.949 pacientes com suspeita da doença, sendo que até 15 de abril haviam sido identificados 43.010. Para o professor da UFC, esses resultados, no entanto, não dizem que um Estado é melhor que outro. São séries históricas que atingem Estados distintos em épocas diferentes.

— Nesse momento o Ceará está tendo uma epidemia muito grande, mas ela não é de forma igual em todos os municípios. Então é possível que a gente ainda tenha epidemia no ano que vem porque ela é uma doença de transmissão vetorial e vai se espalhando. Lamentavelmente é esperado que você tenha epidemia em uma região e depois em outra e, naturalmente, diminui o número de ocorrências e ela acaba explodindo em outros locais.

No Nordeste como um todo, por exemplo, é normal os casos se concentrem no 1º semestre do ano, mas principalmente no segundo trimestre, que é quando é verão na região e as chuvas são mais intensas.

Redação

About Author

Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

Você também pode se interessar

Nacional

Comissão indeniza sete mulheres perseguidas pela ditadura

“As mulheres tiveram papel relevante na conquista democrática do país. Foram elas que constituíram os comitês femininos pela anistia, que
Nacional

Jovem do Distrito Federal representa o Brasil em reunião da ONU

Durante o encontro, os embaixadores vão trocar informações, experiências e visões sobre a situação do uso de drogas em seus