Os alunos acusam a diretoria da escola de descaso e falta de higiene no pátio, nas salas de aula, refeitório e banheiros Tânia Rêgo/Agência Brasil
Alunos do Colégio Estadual Prefeito Mendes de Moraes, na Ilha do Governador, zona norte do Rio, ocupam a escola há nove dias em apoio à greve dos professores da rede estadual de ensino e contra um comportamento classificado como “repressivo” da direção da unidade. Eles acusam a diretoria de descaso e falta de higiene no pátio, nas salas de aula, refeitório e banheiros usados pelos estudantes.
Nos fundos da unidade há um lixão a céu aberto, com acúmulo de livros lacrados, mas direcionados para descarte, de 2012, 2013 e 2014. Estudante do 3° ano do ensino médio, Michel Policeno mostrou as dependências da escola e como está sendo feita a manutenção após o gerenciamento dos alunos. Policeno fez questão de mostrar uma enorme quantidade de livros entulhados e lixo se acumulando em áreas próximas ao colégio.
“O que mais temos aqui são livros ainda lacrados, mas que já estão sendo direcionados para descarte. Estudo aqui há três anos e nunca utilizei nenhum desses materiais. O pior é que eles ocupam espaços que poderiam ser aproveitados, como o laboratório de química e o auditório. Ouvir que nossa escola é modelo a ser seguido, segundo a Secretaria de Educação, me faz concluir que isso é apenas maquiagem, pois quem entra logo nota o estado em que a gente se encontra. É dinheiro público indo para o lixo aos montes”, disse o estudante, enquanto mostrava uma espécie de depósito de apostilas para serem jogadas no lixo.
De acordo comMichel Policeno, as apostilas são do Saerjinho, espécie de simulado para o Sistema de Avaliação da Educação do Estado do Rio de Janeiro (Saerj), exame anual aplicado àqueles que perto da formatura e são obrigados a realizá-lo para medir o sistema de ensino do estado.
"O conteúdo dela [prova] inexiste. É uma prova ridícula, que utiliza apenas o artifício de decorar e não aprender. Não tem necessidade nenhuma estudarmos para isso, porque em seguida faremos o Enem. Essa devia ser a prioridade e não perder tempo com avaliações sem sentido e que servem para acumular lixo."
Por meio de nota, a Secretaria de Estado de Educação (Seeduc) afirmou que, em reunião realizada na terça-feira (29), os alunos receberam informações sobre a importância da realização do Saerj, promessas de melhorias na infraestrutura do colégio, além de se comprometerem a conversar com a direção das duas unidades escolares para que organizem o grêmio estudantil e fortaleçam os conselhos escolares, outra reivindicação do movimento.
A secretaria confirmou que enviou a documentação necessária para reintegração de posse para a Procuradoria-Geral do Estado. A ação judicial será limitada ao colégio Mendes de Moraes, já que o Colégio Estadual Gomes Freire de Andrade, na Penha, também está ocupado, mas o movimento foi iniciado nessa segunda-feira (28).
Na nota, a secretaria destacou que "a invasão impede o direito de garantia à educação dos alunos, bem como o livre direito do exercício da profissão do professor". Para a Secretaria, o movimento "é planejado, uma vez que os invasores têm recebido alimentação, camisetas e adesivos, entre outros materiais”.
Para Michel Policeno o movimento objetiva um futuro melhor para todo o sistema de ensino do Rio de Janeiro.
“O movimento não é partidário ou sindicalista. O discurso da secretaria mostra como eles são influenciados pela fala do nosso diretor. Digo isso porque ninguém da Seeduc esteve aqui antes ou durante a ocupação. O legado que a gente espera trazer é de dias melhores para a educação, algo primordial para a sociedade."
Os cerca de 40 alunos que ocupam a unidade realizam a limpeza das instalações, fazem comida, promovem aulões com a presença de professores que apoiam o movimento e dormem no interior do colégio. O objetivo é evitar invasão de pessoas de fora do movimento e uma possível depredação do acervo da escola .
Fonte: EBC