A investigação do desaparecimento de Emili Miranda Anacleto, menina catarinense de Jaraguá do Sul que sumiu há um ano e dois meses, passa por uma nova etapa nesta semana. Segundo a Delegacia de Polícia de Pessoas Desaparecidas (DPPD), um investigador norte-americano irá na quarta-feira (29) à cidade natal da menina para coletar material genético da mãe da criança. A amostra será comparada com os genes de uma menina achada carbonizada no estado de Massachusetts, nos Estados Unidos, no dia 25 de julho.
Emili desapareceu no dia 21 de maio de 2014 depois de ser levada pelo pai Alexandre Anacleto da casa de onde vivia com a mãe. Na época, a menina tinha 2 anos. Os pais eram separados e viviam em conflito, relatou a polícia. Três dias depois do sumiço, o corpo de Alexandre foi encontrado carbonizado dentro de seu carro, que também foi queimado na Praia de Itajubá, em Barra Velha.
O novo rumo das investigações foi tomado quando uma imagem da reconstituição do rosto da garota encontrada nos Estados Unidos foi disponibilizada na internet. "Recebemos muitas mensagens pelas redes sociais comparando a foto da Emili à imagem da Polícia de Massachusetts. Inicialmente, não correlacionávamos os casos, mas preferimos entrar em contato com os norte-americanos", disse a agente de polícia da DPPD, Marcia Rejane Hendges.
Um agente da Homeland Security Investigation, órgão do governo federal dos Estados Unidos que investiga tráfico de pessoas e imigração ilegal, foi contatado por email pela DPPD e chega nesta terça-feira (28) a Florianópolis. "Ele irá utlizar um kit específico de coleta de material genético para retirar da mãe da criança. O do pai, que faleceu, nós já tínhamos a amostra. A previsão é que em 20 dias já tenhamos resultados", diz Wanderley Redondo, delegado titular da DPPD.
Conforme Marcia, o interesse foi mútuo pelo caso. Nos Estado Unidos, a polícia não encontrou pistas sobre a identidade da garota encontrada carbonizada na península de Deer Island, próximo a cidade de Winthrop. Na página da polícia da cidade, eles a identificam como uma garota de aproximadamente quatro anos, olhos e cabelos marrons, cerca de 13 quilos e 1 metro de altura.
Caso o DNA não seja compatível, as amostras devem permanecer no banco de dados dos Estados Unidos. A foto de Emili já tinha sido disponibilizada pela Organização Internacional de Polícia Criminal, a Interpol, como alerta para os países da América do Sul.
Segundo a DPPD, a mãe da criança, Josenilda Miranda, já concordou em participar da coleta, após contato da Delegacia de Polícia da Criança, Adolescente, Mulher e Idoso (Dpcami) de Jaraguá do Sul.
A DPPD informou que segue em investigação. Na sexta-feira (24), agentes foram até Rancho Queimado, na Grande Florianópolis, para verificar em uma escola a denúncia de uma criança parecida com Emili. A suspeita não se confirmou, após os policiais verificarem a documentação dos pais da menina.
Um ano sem Emili
Em um ano, a criança foi procurada da cidade onde morava, em Jaraguá do Sul, no Norte de Santa Catarina, e até no Paraná. Conforme a Polícia Civil, até a mãe da menina e a família foram investigadas.
Conforme a delegada Milena de Fátima Rosa, da Delegacia de Polícia da Criança, Adolescente, Mulher e Idoso (Dpcami) de Jaraguá do Sul, neste ano foram apreendidos 14 celulares e um computador de familiares de Emili por parte de mãe.
Após análise do Instituto Geral de Perícias (IGP), não foram constatadas provas nos aparelhos móveis. O computador ainda passa por perícia.
“Em interceptações telefônicas, a mãe nunca chegou a comentar ou lamentar qualquer coisa a respeito da menina”, disse o delegado Wanderley Redondo.
Josenilda afirma que a família é inocente e não tem nada a ver com desaparecimento ou morte da menina. "Eu só quero justiça. Só quero ter minha filha de novo. Não importa se vou ter ela comigo ou não, eu só quero saber notícias dela. Para mim seria mais fácil saber que ela está morta e enterrada, pelo menos eu ia lá visitar ela, poderia conversar. Nem isso não posso, nem esse direito eu consigo", diz.
Desde que Emili desapareceu, foram coletados 35 depoimentos, testemunhas do últimos passos dados por ela e parentes. Pelo menos 20 locais foram vistoriados em busca da menina. Conforme Redondo, a maioria das buscas foi feita depois de denúncias por ligações telefônicas.
Na família da mãe, há histórico de boletins de ocorrência por subtração de objetos, furtos. Alexandre e Josenilda já tinham acusado um ao outro de ameaça. No dia 17 de março de 2014, o homem registrou um boletim de ocorrência em que afirmou que a família da ex-mulher iria matá-lo e colocar fogo no carro, informou a delegada.
Última ligação do pai
A última ligação de Alexandre foi feita para a mãe dele às 8h30 do dia 22 de maio, um dia depois do desaparecimento da menina. Conforme o relato transcrito pela Polícia Civil, Alexandre afirma que ele e a filha iriam sumir:
– Mãe, você me ligou?
– Meu filho, onde você está? Volta logo senão a polícia vai atrás de ti.
– Eu não vou voltar. Eles vão tirar a minha filha de mim.
– Onde ela está?
– Está no carro. Tá tudo bem. Cuida do pai para mim.
Depois disso, nenhum outro contato foi feito. A empresa de telefonia não soube confirmar para polícia se o celular estava naquele momento em Barra Velha ou Balneário Barra do Sul, pois a torre de controle das duas cidades sofrem interferência.
O avô paterno de Emili, José Anacleto Neto, define como uma ‘tortura’ o que tem vivido. “Tenho 100 % certeza que o meu filho foi assassinado e a Emili está viva, estão escondendo a criança. Essa criança não merece estar presa”, disse. Ele afirma que o filho vivia sobre chantagem e já teria, por diversas vezes, falado sobre a ameaça de morte.
“Minha vida acabou. Tiraram meu filho que cuidava de mim, que era minhas pernas, meus braços. Vou achar minha netinha. Antes de morrer, vou ver minha neta”, conta, emocionado.
A última vez que a menina foi vista foi em uma lanchonete com o pai em Barra Velha. Conforme o delegado, provavelmente o homem foi pego de surpresa.
Anteriormente, conforme a delegada Milena, Alexandre já teria ficado ilegalmente com a menina por 17 dias consecutivos. Com isso, ele perdeu o direito de compartilhar a guarda e teria apenas autorização a visitas assistidas. Segundo a mãe, o pai só podia visitar Emili a cada 15 dias, por duas horas.
Pela forma como o pai morreu, as investigações foram prejudicadas. "Com o corpo carbonizado ficou mais difícil de identificar pistas do caso", disse Wanderley. Não foi possível detectar a causa da morte ou encontrar arma. Por enquanto, a polícia não tem suspeitos de quem possa ter cometido o homicídio e não é possível confirmar se ele se suicidou.
Através de investigações, a polícia chegou em dois adolescentes, de 13 e 15 anos, que afirmaram ter colocado fogo no automóvel onde estava o corpo, mas não o matado. Segundo o delegado Wilson Masson, da Delegacia de Barra Velha, os garotos encontraram o corpo debruçado no volante, com marcas de disparos de arma de fogo no braço direito e no peito.
Segundo o depoimento prestado, os adolescentes teriam revirado o corpo em busca de objetos de valor e, com medo das digitais ficassem registradas, atearam fogo no veículo. "Os depoimentos dos adolescentes foram coletados logo após o crime e neste ano, e são muito condizentes ao apontar que eles não tinham envolvimento direto com a morte", diz Milena.
Emili pode estar viva
A Polícia trabalha com a possibilidade de Emili estar viva. "Nenhuma hipótese é descartada, mas acreditamos e torcemos para que ela esteja com vida", disse Redondo. O delegado também acredita que a família pode ter conhecimento sobre o local onde ela está.
"Não há provas que a família saiba sobre o paradeiro dela. Mas acreditamos que ela não esteja morta pelo convênio com o Instituto Médico Legal (IML). Toda vez que algum corpo não identificado aparece, somos alertados para cruzar os dados. Nenhuma menina da idade dela apareceu neste período", disse Milena.
As investigações continuam. O cartaz com a foto da menina foi distribuída pelo estado e em aeroportos, e está integrado no sistema dos Desaparecidos do Brasil. Informações ou pistas sobre a criança podem ser informadas para o Dpcami (47) 3370-0331 ou para o Disque Denúncia da Polícia Civil, no 181.
Fonte: G1