RIO – O crime de estupro de vulnerável — que, no sábado, levou para a cadeia o coronel reformado da PM Pedro Chavarry Duarte, de 62 anos — é citado em cerca de 300 registros feitos somente este ano na Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (Dcav) do Rio. O número é alto, mas, para a polícia, ainda não retrata a realidade, e o próprio caso do oficial parece demonstrar isso. Ontem foi aberto um novo inquérito, que tem como único objetivo descobrir se ele montou uma rede de pedofilia. Investigações indicam que dezenas de crianças podem ter sido abusadas por Chavarry.
Uma mulher que foi nesta terça-feira à delegacia disse, em depoimento, que deixou a sobrinha de 2 anos com o coronel por quatro dias, enquanto realizava uma grande faxina na sede da Caixa Beneficente da Polícia Militar, instituição que Chavarry dirigia até ser flagrado com uma criança da mesma idade, encontrada nua em seu carro. Segundo ela, o coronel lhe devolveu a menina no sábado, poucas horas antes de ser preso.
Na segunda-feira, a Dcav prendeu Thuanne Pimenta dos Santos, de 23 anos, que admitiu ter entregue para Chavarry a menina que PMs encontraram em seu carro. Irmã dela, Izabela Pimenta dos Santos contou que o conheceu há 11 anos, quando foi até um apartamento que ele mantinha na Rua Cardoso de Moraes, em Bonsucesso. Ela disse que, no momento em que chegou ao local para fazer uma faxina, encontrou oito crianças, todas com menos de 5 anos e sem os pais. Todas seriam da comunidade Uga-Uga, em Ramos, onde Chavarry iniciou um trabalho social em 2006.
— Ele me chamava, assim como outras mães, para serviços de faxina. Passava de carro na comunidade para pegar nossos filhos. Dizia que levaria todos para uma ONG que tinha babá. Quando a gente terminava, ligava para ele, que trazia as crianças de volta. Como a gente iria imaginar que era um monstro? — disse Izabela.
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© 1996 – 2016. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização. A delegada Cristiana Bento, titular da Dcav, afirmou ter ficado espantada com o pouco cuidado das mães que entregavam seus filhos para o coronel:
— O que mais me choca é a displicência dessas mulheres. Entregavam bebês que precisam de cuidados 24 horas por dia para um homem estranho. Devo dizer que, hoje, não temos a real dimensão da quantidade de abusos que podem ter sido praticados. A criança vítima não sabe o que é um ato sexual. Muitas vítimas desse tipo de crime sequer aprenderam a falar.
A polícia descobriu que Chavarry tinha um cadastro com nomes de dezenas de crianças das comunidades Uga-Uga e Nova Holanda, na Maré. Segundo Izabela, ele afirmava que a lista era usada para organizar uma distribuição de fraldas.
Somente ontem, seis mulheres que deixaram filhos de até 3 anos de idade aos cuidados do coronel prestaram depoimentos na Dcav.
Fonte: G1