Técnicos da montadora Land Rover já fizeram a retirada dos dados da "caixa preta" do carro do cantor Cristiano Araújo, de 29 anos, que morreu em um acidente na BR-153, em Goiás. O delegado Fabiano Jacomelis, responsável pelas investigações, disse nesta quinta-feira (9) que as informações foram extraídas em São Paulo e encaminhadas para a leitura na Inglaterra. Elas podem ajudar a polícia a descobrir, principalmente, qual era a velocidade do veiculo no momento em que houve a saída de pista.
O investigador destacou que os dados encontrados no módulo do Range Rover Sport, ano 2015, ainda podem revelar se os air bags e os freios funcionavam. O equipamento foi retirado do carro no último dia 29 e levado para a capital paulista, mas só uma análise mais aprofundada na sede da montadora poderá descodificar as informações. Ainda não há previsão de quando a leitura dos dados ficará pronta.
Cristiano e a namorada, Allana Moraes, de 19 anos, morreram após o carro em que estavam capotar, no último dia 24, quando voltavam de um show em Itumbiara, no sul do estado. O empresário Victor Leonardo e o motorista do cantor, Ronaldo Miranda se feriram no acidente, mas já tiveram alta médica.
Em depoimento à polícia, o condutor do veículo admitiu que estava acima da velocidade máxima permitida no trecho, que era de 110 km/h. No entanto, ele não soube precisar a quanto estava e ressaltou que perdeu o controle do carro depois que um dos pneus estourou.
“Ele disse que estava correndo um pouco, mas não soube precisar exatamente qual era a velocidade no momento do acidente, já que o carro era muito potente e ele não percebeu o excesso. Ele também informou que ouviu um barulho de pneu furado e, em seguida, perdeu o controle”, relatou o delegado.
Rodas
Ainda segundo o delegado, as primeiras perícias já mostraram que as rodas originais do veículo foram substituídas por outras e que continham vários pontos de solda. Quem deu os equipamentos a Ronaldo foi o ex-jogador de futebol Tiago Ferreira dos Santos, de 29 anos, que confirmou à polícia que já havia feito reparos nos equipamentos.
Um casal, dono de um laja a jato em Goiânia, onde o veículo foi lavado um dia antes do acidente, disse em depoimento que alertou o motorista Ronaldo Miranda, de 40 anos, sobre os riscos.“Eu disse ao delegado que, na entrega do veículo, ele [motorista] foi avisado que tinha solda naquela roda e que poderia ser perigoso, já que eles viviam na estrada, em shows, viagens”, disse o dono do estabelecimento, Fábio Luciano.
A esposa de Fábio, Katiúscia Alessandra Silva, conta que foi ela quem entregou o veículo a Ronaldo e que ele ficou “espantado”quando ela o alertou sobre a solda. “Ele olhou para mim sem entender o que eu estava dizendo. Aí ele disse que o serviço foi bem feito, mas acredito que ele não sabia que ia dar problema. Se ele imaginasse a gravidade, não teria ido naquele carro, pois ele [motorista] é honesto e jamais colocaria a vida de ninguém em risco”, contou.
As rodas aro 22 foram retiradas do Range Rover do ex-jogador porque ele tinha a intenção de vender o carro e, para isso, resolveu colocar as rodas originais. Ele revelou que o próprio veículo acusou uma falha nas peças.
"Ele percebeu [a falha] pelo painel do carro, que é do mesmo fabricante [do carro do Cristiano]. Esse carro tem uma indicação que demonstra, por exemplo, se o pneu está murcho. Diante disso, ele levou o veículo para verificação e foi informado que a roda estava amassada e havia necessidade de um reparo", conta.
Jacomelis explicou que Ronaldo, em seu depoimento, disse que não percebeu no painel do carro de Cristiano nenhuma avaria ou problema técnico no período em que o veículo estava com as rodas não originais.
Conforme explicou o delegado, a colocação de rodas com aros maiores é uma "questão de estética", feita para "deixar o carro mais bonito”. No entanto, conforme nota enviada ao G1, a Jaguar Land Rover, fabricante do veículo, eslcareceu que "não recomenda em nenhuma circunstância o uso de peças e acessórios não originais em seus veículos".
Velocidade
Ronaldo perdeu o controle da direção 21 minutos após o grupo fazer uma parada em um posto de combustíveis, a cerca de 57 km do local do capotamento. O físico Reges Guimarães analisou a velocidade média feita pelo carro com base no horário das imagens de uma câmera de segurança. "Ele fez uma velocidade média de 162 km/h", diz.
Em entrevista à TV Anhanguera, o pai de Cristiano, João Reis de Araújo, disse que já havia alertado o filho sobre excesso de velocidade. "Eu sempre ia a todos os shows e neste eu não estava. Fico muito entristecido por isso, pois eu não estava lá no último show dele. E tem coisas que a gente fica com um porquê na cabeça. Se eu tivesse junto, tenho certeza que eu ia brigar, porque eles foram muito rápido. Eu sempre puxava a orelha dele quanto a isso, pois ele deixava o pessoal correr um pouco”, afirmou.
Um levantamento feito pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) revela que os motoristas estão abusando do excesso de velocidade no trecho da BR-153, onde ocorreu o acidente.
Enterro e missa
O enterro do corpo de Cristiano Araújo ocorreu no último dia 25, no Cemitério Jardim das Palmeiras, em Goiânia, e foi acompanhado por mais de 1,5 mil pessoas. Allana foi enterrada horas antes, no mesmo local, a poucos metros do jazigo do sertanejo.
Cerca de 5 mil pessoas participaram da missa de sétimo dia de Cristiano Araújo, realizada no último dia 1º, no estacionamento da Paróquia Nossa Senhora da Assunção, no Conjunto Itatiaia, em Goiânia, segundo estimativas da Polícia Militar. Na ocasião, familiares e amigos prestaram homenagem ao cantor.
Fonte: G1