Conversa gravada pelo tenente-coronel José Henrique Soares com o ex-chefe da Casa Militar, coronel Evandro Lesco, mostrou ambos debochando da atuação do desembargador Orlando Perri, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, que conduzia as investigações sobre o esquema de interceptações clandestinas que operou no Estado.
A gravação foi entregue por José Soares durante a confissão dele à Justiça sobre sua participação no esquema, ocasião em que admitiu ter ajudado a organização criminosa a atrapalhar as investigações dos “grampos”, por temer que o grupo trouxesse a público o fato de ser dependente químico (veja trechos abaixo).
Na conversa, ambos criticaram as falas de Perri durante sessão de julgamento do Tribunal de Justiça, ocasião em que o desembargador defendeu a permanência das investigações junto àquela Corte pelo fato de, à época, já existir uma investigação paralela contra o então secretário de Justiça e Direitos Humanos, coronel Airton Benedito Siqueira Júnior.
Atualmente o caso está sob a competência do ministro Mauro Campbell, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), sendo que Evandro Lesco e Airton Siqueira continuam presos por conta do esquema. Em recente depoimento, Lesco admitiu que participou da trama contra o desembargador.
O coronel Evandro Lesco, durante o diálogo, afirmou que Perri teria “gana” de Airton Siqueira.
Coronel Lesco: Porque ele [Perri] falou, ele falou foi, ele acha que foi descuido do Ministério Público [em não denunciar Airton Siqueira], negócio dele é com o Siqueira cara, não é nem tanto…
Tenente-coronel Soares: É a bronca é dele…
Coronel Lesco: … ele ta com uma gana com Siqueira.
Em seguida, os dois militares brincaram com a situação, dizendo que a suposta ira do magistrado seria por conta do “charme” do coronel Airton Siqueira.
Tenente-coronel Soares: Paixão né.
Coronel Lesco: E tá sendo tão prejudicial.
Tenente-coronel Soares: É que o Siqueira é muito charmoso cara, ele tem que parar de ser vaidoso.
Coronel Lesco: Ele… não sabe o que é… tá ficando tão prejudicial.
Tenente-coronel Soares: É amor!
Coronel Lesco: Que até atrapalha nós.
Tenente-coronel Soares: É amor!
Coronel Lesco: … até o nome ele fala errado… de tanta raiva, Benedito Airton.
Tenente-coronel Soares: Benedito Airton.
Coronel Lesco: … o coronel Benedito Airton…
Tenente-coronel Soares: (risadas)
Coronel Lesco: … Tá louco velho, o velho ta brabo… (risadas)
Tenente-coronel Soares: É o contrário né.
Coronel Lesco: É Airton Benedito.
"Atravessar" o desembargador
O ex-chefe da Casa Militar então afirma que o grupo precisa “atravessar” o desembargador por conta da investigação contra Airton Siqueira.
Coronel Lesco: … Mas de tanta paixão que o cara tá, meu Deus do céu, agora nós temos que atravessar meu velho, temos que atravessar.
De acordo com as investigações, nessa mesma época, Lesco e os demais membros da organização orientaram o coronel Soares a gravar uma reunião com Perri e a delegada Ana Cristina Feldner.
Posteriormente, o grupo chegou a instalar uma câmera espiã na farda de Soares para gravar o magistrado, mas o plano não se concretizou. Soares sentiu a pressão e procurou a Polícia Civil para delatar o plano.
Outro lado
O desembargador Orlando Perri afirmou que prefere não comentar o assunto.