A operação acontece da seguinte forma: o clube cede a concessão à empresa que gere o fundo, que por sua vez dá o direito em garantia à Caixa, banco repassador do empréstimo, juntamente com parte do terreno do Parque São Jorge. Caso o Corinthians não consiga ressarcir os R$ 400 milhões emprestados pelo BNDES, a Caixa pode executar essas garantias, levando o clube a perder os direitos sobre o terreno no qual está construído seu estádio.
A área não pertence ao Corinthians, mas sim à Prefeitura, que apenas cedeu ao alvinegro o direito de utilizá-la, chamado de Concessão de Direito Real de Uso. O clube, então, repassou esse direito.
O BNDES não tem autorização legal para conceder financiamento a clubes de futebol; por isso, foi criado o fundo, chamado Fundo Arena, que tem entre seus cotistas Corinthians e Odebrecht, e é administrado pela BRL Trust. O acordo pelo repasse do financiamento acontece, então, entre o fundo, o próprio banco estatal de desenvolvimento e a Caixa Econômica Federal.
A hipótese de perder o terreno do Itaquerão, porém, é vista por dirigentes corintianos como improvável: o planejamento financeiro da nova arena prevê receita suficiente para pagar o financiamento no prazo estipulado. A manobra, entretanto, deixa clara a urgência em liberar logo a verba.
Em novembro do ano passado, após longa espera, Caixa e Corinthians anunciaram a assinatura do contrato para a liberação do dinheiro, mas, até o começo desta semana, ela não havia ocorrido. O problema era justamente a insuficiência das garantias oferecidas pelo clube. Agora, pessoas envolvidas no empreendimento garantem que restam apenas formalidades e que os R$ 400 milhões começarão a fluir para os cofres alvinegros nos próximos dias.
A demora já gera prejuízos: para garantir o andamento das obras, a Odebrecht já tomou empréstimos ponte no valor de cerca de R$ 250 milhões, com juros que já se aproximam dos R$ 100 milhões. O Corinthians terá que quitar essa dívida, e se não conseguir, a construtora passará, gradualmente, a ter direitos sobre as receitas geradas pelo estádio.
Apesar do discurso de tranquilidade no Parque São Jorge, o cenário pode ficar bastante incômodo para o clube. De um lado, precisa com urgência dos R$ 400 milhões do BNDES para impedir o crescimento da dívida com a construtora. Do outro, para viabilizar o financiamento, é forçado a ceder como garantia o direito de uso do terreno do próprio estádio.
A negociação dos naming rights, aposta para ajudar a saldar as dívidas, caminha lentamente. Um fundo árabe é o principal interessado, mas as conversas ainda estão longe de uma conclusão, e o valor pedido, de R$ 400 milhões por 20 anos, é inédito no esporte brasileiro.
Se, longe do Itaquerão, operações de engenharia financeira complexa ocupam os cartolas corintianos, no canteiro de obras, as coisas caminham bem. Depois do acidente em novembro que resultou na morte de dois operários e adiou a conclusão do estádio, os trabalhos foram retomados, e a inauguração está prevista para abril.
Uol