Funcionários públicos estaduais voltaram a protestar em frente à Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), na manhã desta quinta-feira (9) durante uma sessão extraordinária que era realizada para apreciar os vetos do governo estadual a projetos de lei já aprovados pelos deputados – a presidência da casa esperava começar a discutir o uso de ações da Cedae como garantia para empréstimos ainda nesta quinta, depois da discussão sobre os vetos. Durante os trabalhos, houve confrontos com cenas de violência do lado de fora da Alerj – manifestantes e PMs arremessaram bombas e houve depredação de lojas e prédios por pessoas que participavam do ato.
Segundo a PM, o enfrentamento começou depois que agentes que faziam o cordão de isolamento em frente a assembleia foram "atacados por um grupo de mascarados, que atiraram pedras, rojões e coquetéis molotov". De acordo com a corporação, seis PMs ficaram feridos – dois foram atendidos no Hospital Central da PM e um no ambulatório da Alerj. O G1 constatou que ao menos um dos manifestantes ficou ferido, com um tiro de bala de borracha na barriga, e outro dos manifestantes passou mal por causa das bombas de efeito moral.
Outros feridos foram encaminhados para o Hospital Souza Aguiar, no Centro, mas a Secretaria Municipal de Saúde não especificou se tratam-se de agentes de segurança, manifestantes, ou pessoas que não estão envolvidas com o protesto.
De acordo com a PM, um homem foi preso jogando pedras contra os policiais. A corporação afirma só ter usado armamento de "baixa letalitade" durante a ação. A polícia também divulgou que apreendeu uma grande quantidade de morteiros durante o protesto.
Algumas das principais ruas do Centro do Rio foram fechadas assim como o comércio e sistema de transportes. O serviço do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) teve que ser paralisado por questão de segurança no Centro do Rio. A Rua Primeiro de Março foi totalmente interditada para a circulação de veículos de acordo com o Centro de Operações. O Metrô Rio informou que por volta das 16h o acesso A da Estação Carioca estava parcialmente interditado por causa da manifestação, mas as entradas B e C funcionavam normalmente.
'Não somos vagabundos', diz servidor ferido
O G1 ouviu um servidor que ficou ferido na barriga por uma bala de borracha e foi levado para um hospital particular na Zona Norte do Rio. Ele atribuiu os enfrentamentos a mascarados que não estavam com os servidores públicos. "Não somos vagabundos. Estávamos lá pacificamente lutando pelos nossos empregos, lutando para que a Cedae não seja privatizada. De repente, chegaram os black blocs e começou a confusão. O cara (PM) atirou na direção da gente, dos trabalhadores. Meu amigo ainda tentou desviar, mas não teve jeito. Acertou bem do lado da barriga. As nossas famílias ficam preocupadas, mas não posso ficar em casa de braços cruzados esperando a Cedae ser vendida", afirmou. O servidor chegou a ser levado para o Hospital Municipal Souza Aguiar, mas como a emergência estava muito cheia e o atendimento demoraria, foi levado de táxi para o hospital particular.
Dentro da Alerj, algumas pessoas usavam mascara para suportar os efeitos das bombas de efeito moral.
Por causa do confronto, algumas lojas fecharam as portas e colocaram tapumes como proteção. No entanto, homens com o rosto coberto depredaram algumas lojas e agencias bancárias do Centro do Rio.
Ainda durante a manhã desta quinta-feira, um grupo de servidores caminhou pela Avenida Presidente Vargas, deixando quatro faixas interditadas ao tráfego. Eles caminhavam em direção à Alerj, onde chegaram por volta das 12h. Neste horário, a Rua Primeiro de Março ficou interditada. Familiares de policiais e bombeiros, além das próprias categorias, carregam cartazes pedindo o pagamento dos salários atrasados.
Para que a discussão do projeto de lei que autoriza a venda da Cedae e o do piso salarial dos servidores possam ir a plenário, os deputados precisavam destravar a pauta. Dos 27 vetos, somente 13 foram analisados durante a sessão desta quarta-feira (8). A segurança na Alerj e no entorno estava reforçada. Às 15h, a sessão da Alerj foi interrompida para um intervalo. Oito dos 14 vetos previstos para a quinta-feira haviam sido votados – totalizando 21 de 27, no total.
Por volta das 12h, o presidente da Alerj, Jorge Picciani, determinou uma sessão extraordinária para as 19h para iniciar o processo de privatização da Cedae. A princípio, isso seria decido em uma sessão que teria início às 15h. No entanto, esta será dedicada à votação dos vetos ao Governo do Estado.
Durante a manhã, Picciani, afirmou que poderia começar a discutir a privatização na sessão extraordinária mesmo antes que todos os vetos fossem discutidos. A base aliada defende que pode, por conta de uma decisão de 2013 no STF, que permitiu que o congresso nacional votasse matérias sem respeitar ordem cronológica. A oposição, que tentava postergar a discussão dos vetos, contesta essa interpretação.
A sessão extraordinária começará às 19h e poderá se estender até as 22h. Segundo o governo do Estado, as ações da Cedae viabilizariam um empréstimo de R$ 3,5 bilhões com a União.
Pezão fala em 'aproveitadores'
Em entrevista a Globonews, o governador afirmou que atos violentos nos protestos "não somam nada ao debate" e afirmou que eles são cometidos por "aproveitadores" e não por pessoas ligadas aos servidores. Ele esclareceu ainda que, o que será discutido na Alerj será o uso das ações da Cedae como garantia para os empréstimos para o governo quitar os salários dos servidores.
Venda da Cedae
O projeto de lei que que autoriza a venda da Cedae prevê, ainda, um prazo de seis meses para o estado contratar instituições financeiras responsáveis por avaliar a empresa e estruturar a operação de venda da companhia.
A oposição atuou nesta quarta-feira (8), para atrasar ao máximo esse processo. A autorização do uso das ações é a garantia que o Governo Federal exige “de forma irretratável e irrevogável” para viabilizar não apenas este empréstimo que permitirá o estado a colocar os salários do funcionalismo em dia, mas todo o Plano de Recuperação Fiscal proposto pela União, que representa um alívio de R$ 62 bilhões por três anos no caixa do estado.
O termo de compromisso para a ajuda federal ao Rio foi assinado dia 27 de janeiro pelo governador Luiz Fernando Pezão, pelo presidente Michel Temer e pelo ministro Henrique Meirelles. Para valer, no entanto, os deputados estaduais terão que aprovar contrapartidas.
Fonte: G1