Os médicos estão otimistas com o retorno de Anderson Silva aos ringues. Depois de 13 meses afastado para se recuperar de uma fratura na perna esquerda, os ortopedistas ouvidos pelo R7 garantem que o desempenho do Spider não será prejudicado na luta contra Nick Diaz, no próximo sábado (31), em Las Vegas.
O ortopedista Márcio Tannure, que cuidou do lutador e é diretor médico do UFC no Brasil, diz que a implantação de uma haste de titânio na tíbia [conhecida como o osso da canela] — que foi fraturada após dar um golpe no adversário norte-americano Chris Weidman — não vai alterar a força dos chutes do ex-campeão dos pesos-médios.
— A haste de titânio não muda em nada a potência do chute, pois isso depende da força muscular e do treino do atleta. Anderson está fisicamente recuperado, animado e confiante.
Segundo Tannure, que também é diretor médico da Comissão Atlética Brasileira, a recuperação de Anderson após a cirurgia, que durou cerca de uma hora e meia, foi melhor do que o esperado.
— O tempo para consolidar a fratura pode durar de três a 12 meses, mas no caso dele levou três meses. Depois, ele ficou mais três meses ganhando arco de movimento e reequilíbrio muscular. Só então começaram as atividades de fortalecimento muscular e o retorno gradual aos exercícios físicos.
A haste de titânio protege a perna?
O ortopedista Moisés Cohen, professor titular e chefe do departamento de Ortopedia e Traumatologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), afirma que a haste pode atuar como uma “proteção”.
— Ela não está livre de entortar com o impacto de um determinado golpe, mas é bem difícil que Anderson frature o mesmo local.
Na opinião do ortopedista Carlos Górios, presidente do Comitê de Traumatologia Desportiva da SBOT (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia), o fato de a haste estar inserida dentro da tíbia não impede novas fraturas.
— O osso não fica mais forte e, se ele tiver a infelicidade de se fraturar novamente, o médico pode vir a ter dificuldades técnicas na cirurgia pela provável deformação da haste dentro do canal medular da tíbia.
Apesar do risco de deformar, Tannure explica que o lutador pode ficar com a haste no corpo para o resto da vida desde que não o incomode.
— A retirada do material não interfere no condicionamento físico do atleta, porque uma vez que o osso consolida a haste não tem mais função.
Na literatura médica, a indicação é que o material seja retirado em um ano, “preferencialmente em até dois anos”, avisa Górios.
— Mas, temos que lembrar que seria uma nova cirurgia e um período de convalescência maior para voltar à prática esportiva. Vale lembrar também que o Anderson pode voltar a lutar sem a retirada do material de síntese, com a mesma performance de antes do acidente.
Emoções controladas
Mais do que mostrar a recuperação da condição física, o grande desafio do lutador será também provar sua estabilidade psicológica, que, para Cohen, é normal ter sido abalada.
— É normal sentir medo de chutar em algum momento, mas à medida que ele ganha força na perna e confiança, esse sentimento tende a sumir. Acho que o Anderson está seguro e parece estar bem preparado para a luta.
Em coletiva de imprensa do UFC, que aconteceu em outubro do ano passado, Anderson declarou: “Fiquei em depressão e achei que minha carreira tinha acabado”. O médico que acompanha o lutador confirma o fato.
— Ele realmente teve momentos de tristeza e desânimo, mas não precisou ser tratado com medicamentos. Agora ele está 100% para a luta.
Para o professor da Unifesp, a fratura na tíbia “sem sombra de dúvida foi uma fatalidade”. No momento do golpe que derrubou o Spider, o médico da SBOT diz que a “dor é insuportável e a imobilização e medicação são prescritas para amenizar o sofrimento do paciente”.
O treinador de boxe Washington Silva, do Corinthians MMA, é um exemplo de superação. Ele também passou por momentos muito difíceis na carreira, assim como aconteceu com o Spider, mas conta que os pensamentos negativos e a dúvida sobre a recuperação ficaram para trás.
— Tive quatro contusões, três fraturas no metacarpo da mão direita e um rompimento do ligamento cruzado da perna, do lateral, colateral e menisco. Uma dessas contusões de ligamento aconteceu às vésperas de uma Olímpiada. Por mais que eu tivesse apoio dos médicos, o pensamento negativo sempre tentava me perseguir. Mas, com o passar do tempo, você aceita e busca transformar todo o pensamento negativo em positivo.
Para o boxeador, tudo isso fica mais fácil quando o atleta conta com o apoio de um profissional de psicologia.
— A maioria dos atletas consegue voltar ao seu estágio normal, e alguns outros se sentem tão motivados que voltam mais fortes do que antes. No meu caso, acreditei [em mim] e graças ao trabalho médico, consegui disputar a medalha nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008.
Assim como a história do treinador teve um final feliz, Anderson Silva pode seguir o mesmo caminho. Os fãs do lutador vão conferir se o atleta superou uma das piores lesões já vistas na história do octógono no próximo sábado (31).
Fonte: R7