O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), levaria dez anos (ou dois mandatos e meio) para cumprir a promessa de criar 65.500 vagas em creches, se fosse mantido o ritmo atual de novas matrículas na rede municipal. Quando assumiu a prefeitura, o tucano prometeu zerar, até março de 2018, a fila deixada por Fernando Haddad (PT).
Os números de setembro divulgados pela Secretaria Municipal da Educação mostram que a meta está distante. Segundo o levantamento, são 132.365 crianças à espera de vaga, ante 133.005 apontadas em setembro do ano passado, ainda durante a gestão do petista, uma variação de apenas 0,5% (são 640 a menos).
Entretanto, considerando-se também o último trimestre da gestão de Haddad, constam como matriculados até setembro apenas 6.406 a mais (283.556, ante 289.962) que em relação ao mesmo mês do ano passado, uma variação de apenas 2,3%. A prefeitura leva em consideração outras 2.017 matrículas "em processo".
Os dois distritos que lideravam o ranking de mais necessitados em setembro de 2016 seguem nessas posições, porém, houve redução no número de crianças à espera: Jardim Ângela (-7,5%) e Grajaú (-9,9%).
Durante a campanha eleitoral, Doria prometeu criar 103 mil vagas em um ano. Depois, disse que criaria 65.500 vagas até março de 2018, a fila registrada no último mês da gestão anterior.
Integrante do Fórum Municipal de Educação Infantil e professora da Unicid, Maria Aparecida Guedes Monção diz que, se há 132 mil crianças fora das creches, a prefeitura descumpre a Constituição. "Não é um favor, mas um dever do Estado oferecer vagas", diz. "Defendo que tem que acelerar a oferta, mas não pode ser sem qualidade. Não se pode comprometer o desenvolvimento das crianças", afirma.
CENTRO EXPANDIDO
Outro dado que chama a atenção entre aqueles divulgados pela Secretaria Municipal da Educação é o aumento na procura por vagas em creches no centro expandido da capital (região que engloba os bairros entre as marginais Tietê e Pinheiros e as avenidas Bandeirantes e Salim Farah Maluf).
Entre os dez distritos que lideram o crescimento na busca por vaga, sete estão nessa região mais central da cidade: Pari, Lapa, Jardim Paulista, Água Rasa, Mooca, Consolação e Perdizes.
Em quatro desses distritos, houve também queda no número de matriculados, na comparação com igual período do ano passado (Lapa, -4,1; Jardim Paulista, -1,9%; Água Rasa, -3,3%; Perdizes, -2,8%).
Para a professora de pedagogia Célia Serrão, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o aumento na procura por vagas em creches em bairros centrais pode estar relacionado ao crescimento no número de imigrantes e de pessoas vindas de outras regiões do Brasil. "É uma população grande e flutuante. Outro impacto é provocado pelas ocupações", afirma.
Célia destaca filhos de imigrantes bolivianos. "São crianças bolivianas, que aprendem português na escola", diz.
OUTRO LADO
A Secretaria Municipal da Educação diz que tem foco na qualidade e que, em nove meses, foram criadas 7.762 vagas em creche (comparando com dezembro de 2016 e levando em consideração matrículas em processamento).
"O que é 21 vezes mais do que o realizado no primeiro ano da gestão anterior", diz. Segundo a secretaria, há previsão de criação de mais 23 mil vagas ainda este ano por meio de ampliação de convênios, com um aporte de R$ 49 milhões, além de 25 obras em andamento.