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Com apenas um salário, faxineiro separa R$ 200 para ajudar os outros

Com apenas um salário mínimo, faxineiro doa

Próximos projetos da ONG de Alexandre serão festas de Dia das Crianças e de Natal (Foto: Nicholas Modesto/ TV Diário) 

Ganhando apenas um salário mínimo pelo trabalho como faxineiro em um supermercado, Emerson Alexandre Del Prado consegue fazer o que muitos considerariam impossível. Após todos os descontos comuns ao pagamento de qualquer trabalhador, ele ainda separa cerca de R$ 200 para a ONG Sciences, da qual é um dos fundadores em Suzano. "Às vezes aperta o mês, mas eu nunca desisti do projeto. No tempo de criança eu passei necessidade também", conta.

O dinheiro é revertido em alimentos para fazer pelo menos uma sopa por semana para moradores de rua. A ONG ainda distribui roupas, brinquedos, livros e visita creches, escolas, hospitais e asilos. Se falta dinheiro, ele pede doação. Se ainda assim não consegue, recolhe material reciclável para vender.

Alexandre, como é mais conhecido, conta com o apoio de alguns amigos e de sua irmã para manter o trabalho. Os cadernos de protocolo guardados pelo faxineiro registram todas as doações de roupas e alimentos que já conseguiu distribuir ao longo dos 20 anos de trabalho à frente da ONG Sciences. O grupo de voluntários se formou em um clube de ciências escolar em 1996 e já encaminhou doações para mais de 500 famílias e 50 entidades.

Sem um espaço físico, Alexandre faz da casa onde mora com a mãe o coração da ONG. É com o seu telefone “pai de santo” – que só recebe chamadas – que ele aguarda os contatos para buscar as doações. No período da manhã, antes de ir trabalhar, visita as pessoas que a instituição acompanha e também busca doações de porta em porta. “Os recursos são poucos, tudo é feito pedindo. O povo me vê na rua e sai correndo porque sabe que eu vou pedir alguma coisa”, brinca.

Por volta das 12h, ele coloca a mochila nas costas e vai para o trabalho. O caminho de transporte público até o supermercado demora: depois de uma hora, às 13h40, ele começa o expediente. Dos colegas, ele ouve um cumprimento com o apelido de “abençoado”, que recebeu dos amigos. Com uniforme cinza e boné na cabeça, o homem de 39 anos passa facilmente despercebido pelos olhares e passos acelerados dos clientes do supermercado.

Até as 22h, de segunda a sexta-feira, ele cumpre uma rotina de limpar os banheiros, o estacionamento, estoque e corredores do supermercado.

No final de um mês de trabalho, Alexandre recebe R$ 880. Os descontos e impostos reduzem o salário do faxineiro. Para não se perder nas despesas de casa, como água, luz, gás e mantimentos, ele separa o salário em envelopes de papel. Cada um recebe uma quantia e ele escreve o que será pago com aquele valor.

Em um dos envelopes, além dos produtos de higiene pessoal, um traço feito com uma caneta azul divide o papel. Na parte debaixo estão marcados: macarrão, legumes e açúcar. Esses itens serão comprados com o seu salário e vão para a sopa feita pela ONG, que é distribuída aos moradores de rua pelo menos uma vez por semana. “Eu coloco R$ 100 ou R$ 200 para o sopão, mas às vezes faz falta e eu preciso sair pedindo ajuda para o pessoal.”

São as doações que mantêm o trabalho da ONG que atende aos moradores dos bairros mais carentes de Suzano. E quando elas não vêm, os integrantes colocam as mãos (e pernas) em ação para encontrar meios de arrecadação.

Alexandre não varre para debaixo do tapete o seu passado e por isso, não se envergonha de ir às ruas com um carrinho e juntar recicláveis. Com o dinheiro das vendas de papelão e metais recolhidos das ruas, ele consegue comprar alimentos para o sopão. “Eu morei em um barraco e sei como é. Às vezes não tinha alimento e no café da manhã era chá de erva cidreira ou água com açúcar.”

Nos dias de folga e depois de cumprir as tarefas de casa, como lavar o quintal e o uniforme para o próximo dia de trabalho, o faxineiro já pensa nos próximos desafios que virão. “Eu quero fazer uma exposição de brinquedos com produtos recicláveis. Já estou juntando várias caixinhas de leite. Depois, começa a correria para fazermos uma festinha de Dias das Crianças. Em seguida, vem o Natal e a gente vai atrás de doações de brinquedos, mas eu não penso em desistir. A ONG tem que ser alguma coisa espontânea, tem que ser a comunidade ajudando a comunidade. A gente tem que se preocupar em fazer uma coisa boa hoje, porque ninguém sabe o dia de amanhã”, finaliza.

Fonte: G1

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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