Um fenômeno raro na política monetária brasileira deve se confirmar em 2019: a inflação deve, pela primeira vez em dez anos, ficar bem próxima do centro da meta estipulada pelo Banco Central.
O IPCA, índice oficial de preços que será divulgado nesta sexta-feira (10) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), deve encerrar 2019 próximo de 4,1%, de acordo com as projeções de mercado. A meta oficial é de 4,25%, com uma tolerância de 1,5 ponto percentual para mais (até 5,75%) ou para menos (até 2,75%).
A política de metas para a inflação, instituída em 1999, foi um dos pilares da estabilização econômica do país e estabelece um centro-alvo para a inflação a ser perseguida pelo governo no ano, além de ter uma pequena banda de tolerância, destinada a comportar eventuais choques de preços.
Nesses 21 anos de sistema de metas, em apenas três a inflação verificada ficou a uma distância menor do que 0,5 ponto da meta estipulada (2000, 2007 e 2009). Em todos os outros, quase sempre, o resultado veio acima do esperado.
Dado o histórico, conseguir (quase) acertar o alvo em 2019 é um feito simbólico. O problema é que foi só nos últimos dois meses que a inflação real começou a convergir para os 4,25% da meta central, por conta, principalmente, de um choque internacional de preços nas carnes, que fez com que itens importantes de alimentação acelerassem o IPCA em novembro e em dezembro.
Analistas aguardam para o resultado de dezembro uma variação mensal na ordem de 1%. Nos seis meses entre maio e outubro, o IPCA mensal não chegou a ser maior do que 0,2%.
Pelas projeções do Boletim Focus, relatório semanal do BC que reúne as expectativas de bancos e corretoras, o IPCA deve encerrar este ano em 3,6%. “O preço da carne deve começar a estabilizar a partir do fim de janeiro; seus efeitos sobre a inflação devem começar a passar e o IPCA volta para níveis abaixo dos 4%”, diz Marcio Milan, analista da Tendências Consultoria.
A inflação baixa embute uma boa e uma má notícia. A má é que inflação baixa é sintoma de uma economia ainda com consumo fraco, repleta de desempregado e que segue crescendo pouco.
A boa é que os preços estão pela primeira vez controlados por um longo período. Isso, de um lado, reflete também gastos públicos mais racionais (dado que os gastos do governo são um grande motor de inflação), e, de outro, controla as expectativas das pessoas e das empresas, que deixam de esperar fortes reajustes pela frente e, assim, também ajudam a manter a inflação estável. É essa conjunção de fatores que abriu caminho para que os juros básicos do país, a Selic, despencassem e que sustenta a expectativa de que não voltam a subir tão cedo.
A Selic está atualmente em 4,5% ao ano, e, mesmo com o repique recente nos preços, não há quem acredite que volte a subir. Ainda pelas projeções captadas pelo Boletim Focus, a Selic deve chegar até o final de 2020 nos mesmos 4,5%, o menor nível de sua história. E juros baixos já são, por si, um estímulo para que a economia volte a crescer.