Faltando dois meses para o ano terminar, dois dos biomas mais importantes do Brasil já registram recordes de queimadas. No Pantanal, este já é o pior ano desde que o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) começou a registrar os focos ativos de fogo, em 1998. Já na Amazônia, o número de ocorrências entre janeiro e outubro já supera o total de 2019.
De acordo com o Programa Queimadas, do Inpe, o Pantanal teve 2.856 focos de incêndio ao longo de outubro, o maior número já registrado para o mês. No total para este ano, o bioma também já teve recorde de queimadas, com 21.115 ocorrências, o maior número da série histórica. Até então, a máxima registrada era em 2005, quando houve 12.486 focos de fogo na região. Segundo o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (LASA), uma área de 4,2 milhões de hectares foi queimada no Pantanal – 28% do bioma consumido pelas chamas.
Ao mesmo tempo, foram 17.326 focos de incêndio na Amazônia, o que representa uma queda em relação ao mês anterior, que teve 32.017 ocorrências, mas também a quantidade suficiente para superar o total do ano passado. Apenas entre janeiro e outubro, foram 93.356 focos, ante 89.176, em 2019, e 68.345, em 2018.
Na região amazônica, o Pará foi o estado com maior número de focos entre janeiro e outubro (33.449 focos), seguido pelo Mato Grosso (19.334 focos), Amazonas (16.180 focos) e Acre (9.053 focos). Para Mariana Napolitano, gerente de Ciências do WWF-Brasil, os dados provam que, ao contrário do que foi alegado pelo governo federal, a situação das queimadas não foi controlada nos meses de estiagem.
“Com as taxas de desmatamento cada vez maiores nos últimos anos, os alertas dos pesquisadores foram ignorados pelo governo: desmatamento e fogo andam juntos”, afirma Mariana. “Após derrubarem a mata, os infratores ateiam fogo para limpar o material orgânico acumulado. No final do mês, com a chegada das chuvas, o ritmo das queimadas parece estar reduzindo, mas não podemos depender apenas dos fatores climáticos. O que aconteceu na temporada da seca na Amazônia e Pantanal em 2020 não pode se repetir.”
O Estadão procurou o Ministério do Meio Ambiente para comentar os dados e aguarda posicionamento.