Política

Atestado de óbito de Herzog é corrigido: ‘lesões’ em vez de suicídio

O governo brasileiro entregou nesta sexta-feira, em São Paulo, um novo atestado de óbito que registra a morte do jornalista Vladimir Herzog, em 1975, nas dependências DOI-Codi, na capital paulista. Ao contrário do documento original, que apontava "asfixia mecânica por enforcamento" (suicídio), as causas da morte passam a ser "lesões e maus tratos sofridos durante o interrogatório em dependência do segundo Exército 
 
"Até pouco tempo, tivemos um atestado de óbito falso. Contado pela voz e pela caneta dos que tinham o poder. Sendo derrotados pelas forças da democracia, ainda hoje mantêm as mentiras", disse a ministra da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, Maria do Rosário, durante o ato de entrega do documento.
 
Ela afirmou que esses momentos são marcados, de um lado, pela emoção e por outro, pelo sentido de profunda responsabilidade por aqueles que lutaram pela liberdade. "Chegamos aqui com a vergonha de que nem todas as respostas tenham sido dadas até hoje", disse ela.
 
Para o filho de Herzog, o reconhecimento por parte do Estado pela morte de seu pai é uma grande conquista para a família por dois motivos: "pelo que isso significa para a família, de enterrar um documento mentiroso, que humilhava a família, tendo que aceitar uma farsa pela morte de meu pai. E o segundo motivo é o precedente para outras famílias", disse ele.
 
Ivo Herzog afirmou que o Estado brasileiro tem obrigação de dizer como e em que circunstâncias essas pessoas morreram. "Com algumas (famílias), é até pior. Até hoje, não receberam o atestado de óbito de seus parentes", disse.
 
Além da entrega do documento, também foi realizado um ato pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, em São Paulo, para reconhecer a condição de anistiado político ao estudante Alexandre Vanucchi Leme. Ele foi morto no dia 17 de março de 1973, aos 22 anos. Estudante de Geologia da Universidade de São Paulo, Leme também foi morto, a exemplo de Herzog, nas dependências do DOI-Codi.
 
Paulo Sérgio Pinheiro, presidente da Comissão Nacional da Verdade, afirmou que não foi em vão o sacrifício de Vlado, como era conhecido, e de Alexandre Vanucchi, além das famílias de todos que sofreram no período da ditadura. "Não será em vão que a presidente Dilma instalou a Comissão da Verdade. Todos nós podemos sair certos daqui que essa caminhada longa e sofrida da sociedade em direção ao direito da memória, à verdade e à justiça não será em vão."
 
Fonte: Terra
 

Redação

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