Ele foi um ídolo da torcida do Cruzeiro – aliás, usar o verbo no passado é heresia, pois a condição de adorado pela torcida perdura. Mas os tempos de jogador de meio-campo celeste já estão distantes para José Carlos Bernardo, de 71 anos. O craque, que atuou ao lado de Piazza e Dirceu Lopes, está doente e precisando de ajuda. Vítima de um acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico, vive em eu apartamento, em Contagem, cuidado pela esposa, fiel escudeira, Eunice Braga Tolentino Bernardo, a Nice, de 58 anos, que não arreda pé do lado dele. Acordam, tomam café, almoçam, lancham, vão a médicos, jantam e vão dormir juntos.
Cuidar de Zé Carlos, segundo Nice, custa cerca de R$ 3 mil por mês. O plano de saúde é via Associação de Garantia do Atleta Profissional (Agap), entidade que contribui com R$ 400 por mês. No mais, eles dependem da aposentadoria do ex-jogador, que é pequena e não dá para cobrir todos os gastos.
Amigos contribuem quando e da forma que podem. Ex-companheiros são visitas frequentes. Toninho Almeida vai mensalmente. Na semana passada, levou Raul, Natal e Evaldo. Dirceu Lopes também esteve na casa do amigo – saiu de lá chorando. Ontem à noite, Toninho Cerezo foi rever o craque. Ao ouvir nomes do ex-companheiros, Zé Carlos os repete, uma das poucas coisas que fala, segundo Nice.
Uma corrente de solidariedade está sendo formada para tentar amenizar o sofrimento do ídolo celeste. Companheiros dos tempos de Guarani, seu ex-clube, se ofereceram para vir a BH disputar um amistoso, no Independência, contra veteranos do Cruzeiro, cuja renda seria revertida para Zé Carlos. Um dos interlocutores do projeto é Toninho Almeida.
Outra iniciativa é a do Parrilla del Mercado, de propriedade de Francisco Tomás, que foi vizinho de Zé Carlos há 43 anos. “A gente era vizinho de porta. Ainda hoje tenho uma pequena imagem de Nossa Senhora Aparecida, que me foi dada pela Nice.” Tomás planejou uma homenagem para arrecadar fundos para ajudar o amigo: “Será uma noite em que todos que forem ao Parrilla colaborarão. O preço é de R$ 300 por pessoa, com comida e bebida incluídas. Desse total, R$ 50 será para cobrir despesas. O restante será doado à família do Zé Carlos. Vou entregar o dinheiro na mão da Nice. Além disso, haverá sorteio de camisas número 8 e do livro Nossa Sala de Troféus, escrito pelo superintendente de futebol celeste, Sérgio Santos Rodrigues”.
Os companheiros de time de Zé Carlos ainda esperam que o Cruzeiro ajude o ex-jogador. No encontro comemorativo pelos 50 anos do título da Taça Brasil de 1966, Procópio e Tostão conversaram com o presidente Gilvan de Pinho Tavares, que ficou de estudar uma maneira de ajudá-lo, mas a resposta ainda não foi dada.
CUIDADOS O drama de Zé Carlos começou, segundo Nice, há cerca de cinco anos. No entanto, somente há dois a doença chegou ao ponto mais crítico, quando o ex-jogador ficou acamado – agora está numa cadeira de rodas. Ele passa o dia diante da televisão, assistindo ao que mais gosta: esporte. O casal tem três filhos, Frederico, de 35 anos, vendedor; Gustavo, de 32, que mora e trabalha nos EUA; e Thiago, de 33, desempregado.
Nice conta que há dois anos Zé Carlos quis deixar o emprego no Cruzeiro. “Ele não falava em outra coisa. Já era efeito da doença, mas a gente não sabia. Foi depois que deixou o Cruzeiro que sofreu uma piora, não falava e o levamos a um médico. Então, foi detectado o AVC isquêmico. Aliás, o caso dele é curioso, pois segundo os médicos, Valadão e Eduardo, atacou lentamente. Eles calculam que o problema começou há cerca de cinco anos. Como não afetava a rotina do Zé Carlos, ninguém percebeu.”
Ontem à tarde, Nice levou o marido a uma clínica de Contagem, para fazer curativo no pé direito, que está com escaras pelo fato de ele passar muito tempo assentado. “Temos de ir à clínica duas ou três vezes por semana, para fazer curativo”, conta Nice, que também o leva mensalmente aos médicos, para ser examinado e fazer o controle da doença.
O craque
» José Carlos Bernardo
Nascimento: 28/4/1945, em
Juiz de Fora
No Cruzeiro: de 1966 a 1978
No Guarani: 1978
No Villa Nova: 1979
» Principais títulos
Pelo Cruzeiro
633 partidas
(2º jogador que mais vestiu
a camisa celeste)
Campeão da Taça Brasil’1966
Eneacampeão mineiro (1966/67/68/69/72/73/74/75/77)
Campeão da Libertadores’1976
Pelo Guarani
Campeão Brasileiro’1978
»Times que defendeu
Sport (Juiz de Fora)
Cruzeiro
Guarani
Villa Nova
Fonte: Super Esportes