Na delação premiada que fez ao Ministério Público Estadual (MPE), o empresário Giovani Guizard, da Dínamo Construtora Ltda., disse que 50% dos valores obtidos por meio de propinas, num esquema de direcionamento de licitações na Secretaria de Estado de Educação (Seduc), eram repassados ao empresário Alan Malouf.
Segundo ele, o dinheiro era deixado no banheiro da sala de Alan, na sede administrativa do Buffet Leila Malouf, em Cuiabá.
Metade dos valores, de acordo com Guizardi, ficava para Alan e, a outra metade, para Guilherme Maluf, presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso.
Em determinada oportunidade, em junho ou julho de 2015, num sábado pela manhã, estive no buffet para entregar uma quantia que girava entre R$ 120 mil e R$ 160 mil
O ex-governador Silval Barbosa (PMDB), que continua preso no Centro de Custódia de Cuiabá, também se utilizava de método semelhante para receber parte das propinas dos esquemas que operou. Geralmente, o dinheiro era deixado no banheiro de seu gabinete, no Palácio Paiguás.
Aos promotores de Justiça, Guizardi disse como o dinheiro era entregue: ele ia até o buffet, passava uma guarita, apenas dando uma buzinada, sem se identificar, e ia até o setor administrativo, onde ficava a sala de Alan Malouf.
Ele contou que estacionava seu veículo na área reservada aos proprietários, e que não entrava pela recepção.
Guizardi descreveu a sala de Alan: era ampla, com ar-condicionado central, banheiro, uma mesa grande, computador de mesa, balcão ao lado esquerdo da mesa com uma cafeteira e, do outro lado da mesa, três sofás da cor preta e uma cadeira da marca Herman Miller.
O delator disse ainda que, para ter acesso ao banheiro, “passa-se por um corredor que tem um frigobar”.
Ele explicou que quando ia entregar os 50% do valor arrecadado em propina a Alan, ambos conversavam sobre assuntos diversos e, depois, deixava o dinheiro no banheiro da sala do empresário, na sede do buffet, e ia embora.
25% para Guilherme Maluf
Giovani Guizardi disse também que sabia que, dos 50% que deixava para Alan, 25% dos valores em dinheiro seriam destinados ao deputado estadual Guilherme Maluf (PSDB), presidente da Assembleia Legislativa.
Ele também disse que, de vez em quando, já fazia a divisão do dinheiro em dois pacotes, com 25% para Alan e 25% para Guilherme.
“Em determinada oportunidade, em junho ou julho de 2015, num sábado pela manhã, estive no buffet para entregar uma quantia que girava entre R$ 120 mil e R$ 160 mil. Após conversar com Alan, a pedido dele, deixei uma caixa arquivo de papelão no banheiro. Nesta ocasião ele pediu que eu retirasse a parte dele, deixando no banheiro toda a quantia de dinheiro devidamente separada em duas partes”, disse o delator.
Guizardi relatou ao MPE que depois disso saiu para fumar, e viu Guilherme chegar ao buffet, em dois Corolla, um preto e outro escuro.
“O deputado estava acompanhado de quatro seguranças e um motorista. Os veículos pararam próximo a mim e vi os seguranças descerem do veículo; o motorista permaneceu no carro, com a porta aberta, e o deputado entrou no prédio, rumo à sala de Alan Malouf, junto comigo”.
“Dentro da sala, Alan pediu para que eu sentasse no sofá, uma vez que precisava conversar com Guilherme de forma reservada. Eles se afastaram um pouco e ficaram conversando, sem que eu ouvisse o teor. Eu fiquei mexendo no meu celular por cerca de vinte minutos. Até que vi o Guilherme se dirigir até o banheiro da sala de Alan, saindo na sequência com a caixa de arquivo, onde eu tinha deixado 25% da propina. Guilherme me cumprimentou e foi embora”, disse Guizardi.
Outro lado
Por meio de nota, o empresário Alan Malouf negou que tenha sido líder de organização criminosa. E se se disse à disposição das autoridades para prestar esclarecimentos sobre o caso.