Após ver as imagens de agressões contra as crianças, o tratorista Sebastião Ferreira disse, na quinta-feira (4), que agora sabe que o neto falava a verdade. Segundo o avô, a criança contava para a mãe que a monitora judiava. “Ela me chacoalhava, colocava eu de castigo e batia na outra criança”, disse o menino.
A família afirmou que procurou a funcionária para relatar a situação. “Ela disse que era invenção dele, porque é uma fase da criança e ficou por isso. Depois que vimos as imagens, a gente se revoltou. Uma mulher dessas não pode tomar conta de crianças, ela tem que ser punida”, declarou o avô.
Agressões
Outra funcionária que acompanhava as agressões feitas pela colega nem reagiu. Ela também foi afastada. O delegado responsável pelo caso, Miguel Capobianco, investiga se outras crianças do local também foram vítimas. A Justiça decretou a prisão temporária da monitora que aparecesse nas imagens.
Os pais que viram as cenas de agressão ficaram indignados. “Foi revoltante porque eu conhecia as duas monitoras e nunca passou pela minha cabeça que pudessem fazer uma coisa dessas”, disse a dona de casa Jussara Sobreira de Jesus, mãe de uma menina.
A soldadora Leia Braz contou que há duas semanas a filha chegou em casa com um vergão na orelha. A mãe foi à creche pedir explicações porque achava impossível que o machucado fosse causado por um brinquedo ou por outra criança.
‘Não, titia’
A gerente de loja Jucelaine Gisele Rodrigues da Silva também notou um comportamento estranho da filha, principalmente durante a noite. “Ela dormia muito assustada, falava várias vezes ‘não, titia’ no meio da noite. Achei muito estranho e desconfiei que estivesse acontecendo alguma coisa na creche porque em casa ela tem todo o carinho que uma mãe pode dar”, relatou.
Quando viu as imagens, Jucelaine teve a certeza do que já desconfiava. “Foi uma revolta muita grande, indignação, ódio. A vontade era de fazer justiça com as próprias mãos por todas as crianças que estavam sendo agredidas. Espero justiça e que isso sirva de lição. Quem não gosta do que faz, dê lugar para quem gosta porque tem muita gente boa para trabalhar com criança”, afirmou.
Maus-tratos
Para Lúcia Cavalcante de Albuquerque Willians, coordenadora do Laboratório de Análise e Prevenção da Violência (Laprev) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), mudanças no comportamento da criança podem indicar maus-tratos. “Se ela é alegre, tranquila e risonha, ela começa a ficar mais calada, quietinha, pode chorar mais, ter mais pesadelos, começa a gaguejar”, explicou.
No caso de Porto Ferreira, ela disse que os pais perceberam esses sinais e agiram rapidamente. “A boa notícia é que nós somos pessoas fortes desde bebês e nos preparamos para aguentar alguns trancos nessa vida. Então essas crianças vão ficar um pouco mais arredias e chorosas, mas esse comportamento vai normalizar e não vai deixar sequelas”, relatou.
A especialista disse ainda que os pais devem se precaver e conhecer o ambiente escolar antes de matricular o filho. Na visita, já dá para perceber se os educadores utilizam alguma disciplina muito rígida que não é coerente com a etapa de desenvolvimento da criança.
“Precisa observar se as crianças parecem tranquilas, felizes, dando risadas, cantando. Na etapa de adaptação é possível visualizar muita coisa, sem interferir no trabalho do educador, mas analisar como é o clima daquela escola, de respeito e de tranquilidade, favorável ao crescimento da criança”, orientou.
Defesa e medidas
A Prefeitura abriu uma sindicância para apurar o caso e o prazo para a conclusão é de até 30 dias. José Roberto Carvalho, procurador jurídico do município, cita o princípio da ampla defesa como forma de dar oportunidade para que as funcionárias apresentem suas versões do ocorrido. "Elas vão ficar afastadas o tempo que for necessário para a apuração dos fatos", afirmou Carvalho.
A diretora do Departamento de Educação da cidade, Maria Regina Nery, descreveu o episódio como "um momento de extrema revolta e de vergonha". A direção da creche não se manifestou sobre o assunto.
Acompanhamento
As medidas tomadas pelo Conselho Tutelar, segundo o presidente Márcio Roberto Silva, serão protetivas. "Acompanhamento psicológico para que não fiquem com nenhum trauma por conta do que elas sofreram", explicou Silva.
G1