A fábrica da Matrixx, confecção montada pelo brasileiro André Nastas nos arredores da capital paraguaia, chegou a ter 180 funcionários – uma época de bons lucros para o empresário, que foi um dos pioneiros a apostar nas vantagens de se produzir no Paraguai. Nastas, que também trabalha com o setor têxtil no Brasil, produz no país sobretudo marcas de surfwear, como Oakley, Quicksilver e Redley.
No entanto, com o agravamento da crise no Brasil e a queda nas vendas de confecções, o cenário da Matrixx, em Assunção, também começou a mudar. Hoje, a maior parte das máquinas de costura está sem uso. As encomendas rarearam e somente cerca de 40 funcionários ainda atuam na empresa. Ao Estado, Nastas afirmou que está buscando formas de diversificar suas atividades no Paraguai.
Como já tem uma companhia constituída, o empresário quer usar a Matrixx para ajudar empreendedores brasileiros de diversos ramos a montar negócios no Paraguai. A ideia, segundo ele, é criar parcerias com os novos sócios. Nastas diz que os novos entrantes teriam a vantagem de atuar ao lado de alguém que já conhece todos os meandros da burocracia do país.
Exportação. Embora até agora a Matrixx tenha trabalhado exclusivamente com fornecimento de mercadorias para o Brasil, a ideia do empresário é aproveitar as vantagens que o Paraguai recebe por ser uma nação de renda per capita mais baixa – cerca de US$ 4 mil, contra US$ 8,5 mil do Brasil, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Produtos feitos no Paraguai têm entrada facilitada na União Europeia, por exemplo.
A crise no Brasil ajudou o sistema de maquilas a se desenvolver até aqui, mas será insuficiente para fazer o projeto crescer muito mais. A fábrica de sapatos Marseg, que já tem um projeto de expansão para outros países da América Latina, acabou de contratar um novo executivo brasileiro com o objetivo de ganhar novos mercados.
Ainda que tenha o desafio de ampliar as exportações, Nastas, da Matrixx, elogia as regras do Paraguai. Segundo ele, o investidor não é punido nem ao crescer nem quando necessita reduzir sua produção – já que, ao dispensar trabalhadores, não precisa pagar indenizações. Desta forma, diz ele, fica mais fácil uma empresa se adaptar às flutuações de demanda e conseguir permanecer no mercado.
Custos. A economia gerada pela produção no Paraguai, em relação aos valores no Brasil, pode variar bastante de acordo com a fonte consultada. Segundo o Foro Brasil-Paraguai, que se dedica a atrair empresas para o país vizinho, produzir em Ciudad del Este ou em Assunção pode reduzir o custo de um produto em 40%. Nessa conta entram as economias com impostos, mão de obra e energia elétrica.
Outras fontes, porém, apresentam dados diferentes. Segundo o gerente da planta da alemã Leoni, Fábio Lopes da Silva, a economia com a produção no Paraguai é maior nos casos em que as peças são distribuídas para montadoras do Sul e do Sudeste – entre os clientes da empresa estão a Renault e a CNH, do grupo Fiat, ambas na região metropolitana de Curitiba.
A redução de custo, dependendo do item, pode variar de 8% a 20% do custo total – o executivo pondera que, mesmo assim, trata-se de um número relevante. Por causa dos custos de logística do Paraguai, que também são elevados, ele diz que o fornecimento a fábricas que ficam no Nordeste brasileiro, por exemplo, fica inviabilizado. Nesses casos, diz ele, vale mais a pena produzir no Brasil./F.S.
Fonte: Estadão