Economia

Reformas, corrupção e Trump são os desafios da agenda econômica de 2017

“Estamos no ano que não acaba nunca.” A frase do economista José Roberto Mendonça de Barros, que assina um dos nove artigos desta edição, resume o sentimento do brasileiro. O ano de 2016 concentrou tantos eventos mirabolantes – para o bem e para o mal – que exauriu a capacidade de assimilação até dos pensadores mais afiados.

Na largada, prometia ser o ano da virada, mas termina na maior recessão da história. Foi o ano de salto nos pedidos de recuperação judiciais entre empresas e de acelerado empobrecimento das família. As vendas despencaram. Tivemos o pior Dia das Crianças em três anos, a pior Páscoa em 10, o pior Dia das Mães em 13. O número de desempregados é inédito: 18 milhões, somando esperançosos de encontrar uma vaga e desalentados que desistiram dela.

Na esfera política, foi o ano do segundo impeachment desde a redemocratização. Como quem deve trocar pneu furado com o carro andando, a nova equipe econômica tenta, no meio da crise, deter o déficit nas contas da União, estancar o avanço da calamidade financeira nos Estados e a explosão da dívida pública.

Foi também uma fase de estonteantes denúncias. Na franja mais promíscua entre público e privado, a Operação Lava Jato encerrou o seu terceiro ano com 120 condenações. Em breve se torna pública e oficial a “delação do fim do mundo”, que levou o grupo Odebrecht a assumir a maior multa da história por pagamento de propinas. Já se sabe que suas 77 delações mancham o governo e o Congresso – os mesmos entes que devem levar adiante o duro ajuste fiscal e reformas polêmicas.

Convicções. Desse ano que “não tem fim”, Mendonça de Barros extraiu duas convicções: “Há uma gigantesca rejeição à corrupção como prática de ganhar e exercer o poder. E a crise econômica se mostra mais dura do que se imaginava”. O desafio é equilibrar as demandas, sem que uma não esfacele a outra. Talvez uma alternativa esteja na visão de Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central: “A responsabilidade fiscal é a primeira providência para o combate à corrupção”.

Em seu diagnóstico, o cientista político americano Albert Fishlow argumenta que essas tarefas são desafiadoras, porque implicam em reformas econômicas – como a da Previdência – e políticas – como a redução no número de partidos –, sem a penalização dos mais pobres: “As necessidades são extraordinariamente numerosas, enquanto as maneiras de supri-las são escassas”, diz ele.

Junte-se à equação o fato de o País ser uma democracia, aberta ao debate, e que as medidas não são unanimidades. A proposta de emenda à Constituição que limita as despesa, a PEC do Teto dos Gastos, já vale em 2017, mas atrai divergências. “Mesmo que ocorram reformas amplas nos gastos obrigatórios, o limite proposto gerará uma queda real do gasto social per capita. Em um País com a demanda crescente por serviços públicos, é um retrocesso”, diz o ex-ministro Nelson Barbosa. A reforma da Previdência, vital para o teto e ainda em tramitação, é mais controversa . “O governo argumenta que se não aprovada, vai estourar a Previdência. Não apresenta, no entanto, os dados, premissas e memória de cálculo que deveriam embasar essa ameaça”, diz o economista Amir Khair.

Também não ajuda o ambiente externo intrincado, principalmente a partir da eleição de Donald Trump à presidência dos EUA. “Trump muda tudo. A única questão é em que direção”, diz Barry Eichengreen, professor da Universidade da Califórnia, em Berkeley. Juntando os cenários interno e externo, Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú, reforça que há muito trabalho pela frente: “Terminamos 2016 com perspectivas melhores, graças a nova equipe econômica, mas longe do que desejamos e do que o País merece”.

Distorções. Essa frustração, porém, tende a se manter. As distorções econômicas são imensas e demandam tempo para serem resolvidas, como explica Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central. “O retorno dos superávits primários somente ocorrerá com a elevação das receitas vindas da retomada do crescimento, mas isto não será fácil”, diz ele. Pior. O cenário é tão incerto que ainda pode faltar “margem ao governo para impedir a continuidade da recessão”, diz a economista Monica de Bolle. No artigo batizado de “Retrospectiva 2017”, ela lista o custo de diagnósticos errados no próximo ano. “Que venha 2018. Ou torçamos para nada disso aconteça.”

Fonte: Estadão

Redação

About Author

Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

Você também pode se interessar

Economia

Projeto estabelece teto para pagamento de dívida previdenciária

Em 2005, a Lei 11.196/05, que estabeleceu condições especiais (isenção de multas e redução de 50% dos juros de mora)
Economia

Representação Brasileira vota criação do Banco do Sul

Argentina, Bolívia, Equador, Paraguai, Uruguai e Venezuela, além do Brasil, assinaram o Convênio Constitutivo do Banco do Sul em 26