Por coincidência uma estudante mato-grossense que sonha em ser astronauta já indica, desde o nome, que nasceu mesmo para estar entre as estrelas. Maria Gisllanny Bezerra Silva, que tem um nome popular dado a um asterismo de três estrelas que formam o cinturão da constelação de Orion: as Três Marias, de 18 anos é uma promessa estadual para levar Mato Grosso rumo às estrelas.
Com os pés na Terra ela tem trilhado caminhos para chegar ao seu objetivo de ser astronauta em um futuro não muito distante e não deixa nenhuma dificuldade a impedir. Foi assim que, tendo sofrido bullying na infância por conta de seu fascínio pelo espaço, e estudado sempre em escola pública, passo a passo ela pretende ir ao mundo da Lua.
Após conhecer o astronauta brasileiro, Marcos Pontes, e de ter conseguido conhecer a agência espacial americana, Nasa, ela agora vai ajudar a inspirar mais jovens como ela a compreender o universo através da coluna ‘Astronauteen’, a ser divulgada para o mundo pela agência de notícias sobre astronomia, Space News MT quinzenalmente.
A coluna estreia dia 15 de novembro no www.spacenewsmtblog.wordpress.com e será feita em uma linguagem jovem para, justamente, inspirar mais estudantes a descobrirem o universo que nos cerca.
Conheça abaixo um pouco da história de vida dessa garota na entrevista que deu ao Space News MT!
Space News MT – Como foi sua formação até agora e quais seus planos?
Maria Gisllanny – Completei o ensino médio em 2015, em 2016 foi um ano bem movimentado, pretendo cursar física em 2017. Nasci em Serra Talhada, Pernambuco, mas vim morar em Tangará da Serra;/MT com meus pais com 1 ano de idade, sempre estudei em escola pública, e fiz todo meu ensino médio na escola estadual 13 de maio.
SNMT – Quando e onde começou a ter contato com a astronomia?
MG – Eu nunca irei esquecer do dia que vi um meteoro cruzar o céu. Sua cor era azulada, simplesmente lindo! Sempre gostei de olhar as estrelas, desde muito jovem. Nesta época eu tinha 7 para 8 anos, eu apenas observava o céu, mas depois dos 8 anos, minha paixão pelos astros aumentou. O céu é minha grande paixão, tanto o noturno quando diurno, pois, ver as nuvens já me trazia um incrível desejo de voar, e esse desejo me levou também à paixão pelos aviões, creio que a soma da paixão pela astronomia e a vontade de voar resultaram nesse sonho de me tornar astronauta.
SNMT – Desde então seu maior sonho realizado foi ter ido à Nasa. E agora, o que tem feito com essa experiência na bagagem?
MG – Meu maior e primeiro sonho era conhecer o astronauta brasileiro Marcos Pontes. Ele sempre foi minha inspiração, para superar os obstáculos que enfrentei como, por exemplo, problemas de saúde e preconceitos. Ele é exemplo de superação, exemplo de determinação. Quando o conheci, em 2015, foi, com certeza, o momento mais emocionante que já vivi até hoje. Vê-lo e dizer ‘obrigada’ pelo apoio que ele transmite para jovens sonhadores como eu foi um momento muito importante para mim. Conhecer o Marcos (Pontes) foi também o caminho para a ir à Nasa. Ele me apresentou seu amigo, Marcelo Souza e este me apresentou os caminhos para chegar à Nasa. O Marcelo e o Marcos são exemplos de professores. São pessoas que amam a educação! Os comparo a anjos que guiam jovens que sonham, literalmente, alto. Depois da viagem para a Nasa, que foi a realização do meu segundo sonho, eu me tornei ainda mais forte para lutar pelo terceiro e grande sonho (ser astronauta). Os próximos passos, com certeza, são: a faculdade e um curso de piloto. Minhas condições financeiras sempre me impuseram obstáculos pois, a profissão que quero seguir exige preparos e cursos caros, mas sempre fui determinada e tive pessoas que veem meu esforço e me ajudam, como a professora Roberta, que me concedeu uma bolsa de estudo de Língua Inglesa em uma das melhores escolas de inglês da cidade. Sou palestrante, faço palestras sobre divulgação das ciências espaciais e sobre Bullying nas escolas. Conto as experiências que vivi e, junto à professora Silvana, há quase 4 anos realizamos projetos nas escolas, como o Novo Horizonte, um projeto nosso e o Mission X- Train like an astronaut, que é um projeto oficial da Nasa.
SNMT – Soube que está escrevendo um livro. Fale sobre a temática dele e quando pretende lançá-lo.
MG – Eu já tenho 3 livros escritos, no momento não tenho recursos para publicá-los. Porém nestes últimos meses recebi boas notícias (algumas oportunidades de lançar dois livros). O meu primeiro livro é de Ficção científica, o segundo é um romance e o último escrevi a pedido de um professor de geografia, é didático e exclusivo para o estudo da Lua. Escrevi especialmente para alunos e professores. O livro traz informações sobre um astro que sempre vemos, mas há pouca informação disponível sobre ele nos materiais escolares.
SNMT – Qual será o público de seu livro?
MG – O público alvo será adolescentes, especialmente o de ficção científica. Com uma linguagem científica mais simplificada e divertida, pretendo conquistar mais jovens amantes da astronomia, é um livro de suspense, ação, romance e ciência. Quem gosta de aventuras e tem curiosidade sobre vida fora da Terra é um bom candidato a ler o livro.
SNMT – Como é vista pela sociedade por se interessar por um tema tão diferente do cotidiano quanto à astronomia?
MG – No começo foi doloroso, sofrido. Sofri muito preconceito, dentro e fora da escola. Na 4ª e 5ª Séries eu sofria agressões. Cheguei a ser arrastada na quadra da escola por ganhar concursos e gostar de astronomia, eu tinha apelidos do tipo: “Espacática” “Etezinho” “Nerd” etc… Eu nunca entendia o motivo das agressões que duraram anos e me levaram à depressão e doenças físicas. Hoje é evidente que era preconceito pela minha decisão de me tornar astronauta, mas estas agressões verbais e físicas são injustificáveis. Levei muito tempo para superar os traumas. Quando entrei no ensino médio encontrei a professora Silvana, que conseguiu “diagnosticar” que eu era uma aluna que amava o espaço e levava uma expressão triste no rosto por sofrer preconceito. Ela e muitos professores, a partir daquele ano, me ajudaram a “levantar e voltar a caminhar”. Eu não tinha desistido de ser astronauta, mas já havia desistido de lutar pela divulgação do assunto nas escolas, muitos professores eram a favor e me apoiavam, outros chegaram a dizer que eu não iria chegar a lugar algum. Depois de 2014 o projeto de divulgação ganhou força e eu voltei a me animar e, hoje, o projeto é muito respeitado, conquistou novos horizontes e quando pessoas que gostam do assunto, passaram a conhecer o projeto, tudo mudou. O caminho até essa conquista foi doloroso, mas 2015 foi um ano de transformação.
SNMT – Você explica às pessoas que a astronomia está no dia a dia delas? Se sim, qual a reação delas?
MG – Um belo dia uma menina me viu falando de naves espaciais e me perguntou: “O que você ganha querendo estudar engenharia aeroespacial ? Isso não serve para nada!”, disse ela enquanto navegava no facebook. Bom… Eu baixei a cabeça e pensei: Bom… Sem os engenheiros aeroespaciais para pôr satélites em órbita ninguém navegaria no Facebook, nem assistiria TV, nem teria GPS. Sem a Lua, a Terra não teria sua rotação perfeita, teríamos um planeta inabitável, com regiões congeladas e, em seguida, muito quentes por todo o mundo. A astronomia e astronáutica estão presentes em nosso dia a dia e influenciam diretamente em nossas vidas e este é o tema que enfatizo nas minhas palestras.
SNMT – Você conseguiu inspirar mais algum jovem a querer alcançar as estrelas depois de divulgar sua história?
MG – Muitos! E isso me surpreendeu, pois sempre pensei que eu teria que chegar ao espaço para isso acontecer, depois de uma palestra motivacional, recebi uma carta de uma estudante que agradeceu a palestra e disse que nunca tinha visto a Lua a partir de um telescópio. E ela conta o impacto positivo que isso causou em sua vida, pois também sofria preconceitos por gostar de estudar. Eu disse a ela que quando eu for ao espaço, levarei a carta comigo. Não há nada mais gratificante do que as mensagens que recebo de crianças e jovens após as palestras. E a experiência que vivi nas escolas, hoje uso para orientar os estudantes.
SNMT – Quais são os próximos passos que planeja trilhar na busca da consolidação de seu sonho maior que é o de ser astronauta?
MG – Com certeza, começar o curso de Física aqui em Mato Grosso. Estudar muito inglês, buscar apoio para o curso de piloto, e conquistar requisitos que a profissão exige. Resumindo: estudar muito e cuidar da saúde. Eu fiz uma série de perguntas para o astronauta e cientistas que tive a oportunidade de conhecer em Houston/Estados Unidos. Conversei também com Dr. Charles Lloyd, pesquisador da Nasa. Perguntei os caminhos para o espaço e eles disseram que estou no caminho certo, pois a Nasa busca cientistas criativos que estão sempre criando e inovando, desenvolvendo PROJETOS, e é o projeto que desenvolvo que é a peça fundamental para chegar lá.
SNMT – Quem também tem este sonho, mas não sabe como chegar perto dele, o que você recomenda fazer?
MG – Eu aconselho a sonhar alto! Muitas pessoas têm medo de sonhar e desistem sem ao menos tentar. Persistir! Não é reprovar em uma prova ou sofrer preconceitos que irão derrubar o sonhador, é preciso lutar. Confiar em si mesmo, ter foco. E confiar em Deus. Muitos pesquisadores são ateus, mas, na verdade, separar a espiritualidade da ciência é o pior erro que a sociedade comete.
E algo que acho fundamental é esta frase que o Marcos Pontes sempre diz: “Estude, trabalhe, persista e sempre façam mais do que esperam de você”, siga este conselho!
SNMT – Por que seus sonhos são voltados para o espaço e não à Terra?
MG – Meus sonhos são voltados tanto para o espaço quanto para a Terra. Já reparou que os astrônomos tiram foto e contemplam o espaço a partir da Terra? E os astronautas tiram fotos e contemplam a Terra a partir do espaço? Pois é, depende do ponto de vista de ambas as partes, mas tenho certeza que, tanto o astrônomo, quanto o astronauta, buscam o espaço para entender a Terra. As ciências espaciais estudam o que está fora de nosso planeta, mas o resultado e benefícios das pesquisas são todos voltados para a humanidade. O astronauta sempre irá descrever um sentimento de amor ao seu planeta. Eu, acredito que, minha missão não terminará quando a nave pousar de volta à Terra, na verdade ela estará apenas começando, pois a ida ao espaço é para buscar ferramentas para trabalhar aqui. Mais do que ser astronauta, quero ir ao espaço também para incentivar pessoas a lutarem pela educação e pelos seus próprios sonhos, ai sim, a missão estará cumprida!
(Com Space News MT)