Cidades

Livro da mulher de Crivella critica gay e piercing, e sugere filha na cozinha

Sylvia Jane Crivella observa o marido, eleito prefeito do Rio pelo PRB, durante discurso de comemoração da vitória sobre Marcelo Freixo (Foto: Yasuyoshi Chiba/AFP)

Formada em Letras, escritora e mãe dedicada – de duas mulheres e de um rapaz –, Sylvia Jane Crivella assina "O desafio de criar filhos", que se propõe a orientar mães com princípios bíblicos. Publicado em 2014, o livro da primeira-dama do Rio custa menos de R$ 2 na internet e reacende temas controversos.

Na obra, ela cita o tsunami ocorrido três anos antes e compara a tragédia às "ondas" que, segundo ela, podem atacar as famílias: a homossexualidade, a separação e o suicídio. O G1 tentou contato com Sylvia por telefone e e-mail, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.
"Enquanto escrevia este livro, o mundo testemunhava, estarrecido, o maior tsunami de sua história. As cenas chocaram pessoas de todas as raças e de todos os credos, mas os testemunhos dos que sobreviveram têm muito a nos ensinar. Quantas famílias não foram ou estão sendo atacadas por terríveis ‘ondas’? Filhos casados que se separam; que se tornaram homossexuais; e que até atentam contra a própria vida", enumera.

Na segunda-feira (31), dia seguinte à vitória de Marcelo Crivella (PRB) na eleição para prefeito do Rio, o livro passou a ser divulgado para redações de jornais e despertou tanta curiosidade quanto o do marido. Uma obra de Crivella, obtida pelo jornal "O Globo", aponta certas religiões e gays como um "terrível mal". Ao jornal, o então candidato à prefeitura atribuiu o teor do texto à idade. Em 1999, quando foi publicado, ele tinha 32 anos.

O de Sylvia foi publicado há apenas dois anos. Nele, as mudanças de postura a partir da adolescência merecem um capítulo especial. Deixar o cabelo crescer não significa, diz, um desvio de caráter. Em compensação, rememora ter sentido vergonha de uma pessoa que viu na juventude — um hippie. E é mais incisiva em relação a piercings e tatuagens.

"São porta de entrada para enfermidades e espíritos malignos", escreve e cita o exemplo do filho de uma amiga.

"Disse [a ele] que, enquanto mantivesse aquele piercing na língua, estaria prestando culto aos demônios". Sensibilizado pelas palavras da escritora, o jovem teria mudado de ideia.

Para as meninas, por exemplo, ela defende tarefas domésticas específicas e diz que ser mãe exige sacrifício. Em relação aos homens, os deveres e de casa são menos claros. 

"Ensinar as meninas a cozinhar e costurar pode ser prazeroso, além de muito útil no futuro. Fazer os filhos participantes na rotina diária traz a noção que todo ser humano deve ter direitos e deveres."

As dicas de "O desafio de criar filhos" são diversas e têm linguagem acessível, falando em "palavrinhas mágicas" ou ditados: água mole em pedra dura tanto bate até que fura. A insistência pregada pelo ditado não deve valer para os filhos, porém. Os pais devem ser mais fortes que as pedras, pois a desobediência é tratada como “problema moral” e “pecaminosa”.

“Cuidado principalmente com uma ideia amplamente disseminada de que o pai deve dar ao filho a oportunidade para que este escolha qual caminho seguir", escreve.

O castigo surge como solução importante para a educação. O texto não fala em nenhum momento de palmadas, mas cita um provérbio: "Se você castigar com a vara, ela [a criança] não morrerá". Mas ressalta, citando Jaime Kemp, que não se trata de "espancar" os filhos. "Haverá momentos em que atos de correção serão necessários."

Para se antecipar ao castigo, há diversos conselhos. Considerar o amor uma ação e não um sentimento é um deles. Ou deixar o computador em locais visíveis aos pais, pela garantia de monitoramento. Ao marido, e agora prefeito, Sylvia agradece logo nas primeiras páginas.  "Por ter me dado este laptop a fim de eu ter a liberdade de escrever toda vez que tivesse a inspiração".

Fonte: G1

Redação

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