Em um vídeo que integra as investigações da Operação Ventríloquo, deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), o advogado Julio César Rodrigues, lobista e novo delator do esquema de fraude que desviou R$ 9,5 milhões dos cofres da Assembleia Legislativa por meio de um pagamento que deveria ser destinado a quitação de uma dívida com o Banco HSBC Seguros, reclamou ao também advogado e delator Joaquim Mielli, que o deputado estadual Romoaldo Junior (PMDB) estaria lhe cobrando um valor indevido no esquema.
No dia 05 de maio de 2014, foi feita uma gravação de uma reunião entre Julio e Mielli. Como parte do acordo, Julio entregou o vídeo ao Gaeco. Nele Julio César reclama que além dos R$ 590 mil combinados, o deputado Romoaldo queria receber mais R$ 200 mil do esquema. Conforme o lobista, se isso ocorresse teria que retirar o dinheiro do lucro dele para passar ao deputado.
De acordo com Mielli, o principal problema ocorrido nas tratativas foi à exigência do deputado José Riva em receber 45% do montante. Após, ele disse que não tinha entendido que Romoaldo queria R$ 200 mil a mais e ficou enfurecido com a descoberta.
Joaquim Mielli: “Além dos R$ 550 [mil] tem mais R$ 200 [mil]?
Julio César: “É. Riva é R$ 590 mil, restante dos 45%, certo? Romoaldo ainda quer, meu, 200 pau, juntando ele, Dico e secretário”.
Joaquim Mielli: “Do seu?”.
Julio César: “É”.
Joaquim Mielli: “Ce num paga ué, pronto, ce num paga, porque ce vai pagar? Esses R$ 200 mil a mais aí atrapalha o nosso negócio”.
Julio César: “Num tá certo esse negócio. Então o negócio é o seguinte: eu num vou pagar essa conta sozinho […] Você vai me dar o papel, eu vou me sentar na frente do [José] Riva e vou fechar os 45% com ele.
Joaquim Mielli: “Fecha isso com ele”.
Julio César: “E se ele perguntar ‘e o restante’, eu vou falar que o restante eu já entreguei para o deputado [Romoaldo], já entreguei na casa, aí o senhor se acerta com ele”.
Joaquim Mielli: “Sei não, aí você me joga em um fogo cruzado de um e de outro lá”.
Julio César: “Não, o fogo sou eu. Esses caras eu conheço eles há mais de dez anos. O Romoaldo é um tremendo de um picareta há mais de 10 anos. Eu conheço esses caras e sei como se lida com eles. Se eu deixar ele toma do senhor, igual ta querendo tomar o meu. E já levou, e não levou pouco”.
Nova denúncia
Na nova denúncia, o Ministério Público Estadual (MPE) afirma que no período compreendido entre os anos de 2013 e 2014, os acusados, bem como outros agentes e Parlamentares Estaduais, "constituíram uma organização criminosa estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, com o fito de saquear os cofres públicos, notadamente os recursos públicos da Assembleia Legislativa".