Economia

Mato Grosso produz, mas sofre para escoar

Que o agronegócio está à frente da economia brasileira, tendo crescimento mesmo em tempos crise, não é novidade. O Estado de Mato Grosso, claro, é berço dessa enormidade produtiva, referência do setor no Brasil e no mundo.  Porém, nem tudo são flores (e grãos), o Estado fica em uma região cujas distâncias são continentais e os produtores acabam sofrendo com isso. Tendo que enfrentar, a cada safra, estradas precárias e fretes mais caros, além, é claro, dos problemas comuns do setor produtivo, como questões climáticas e manejo.

O gargalo logístico é o grande problema, tendo o modelo rodoviário como principal meio de escoamento da produção. O Governo do Estado, segundo especialistas no setor, está em uma situação um tanto quanto complicada, se esforçando para a melhoria das MTs, mas não tem recursos para tanto. Já as rodovias federais, as BRs, são obras maiores e, na maioria das vezes, grandes empresas, que muitas vezes tratam com “desleixo”, andando em ritmo muito menor do que se é esperado.

A reportagem do Jornal Circuito Mato Grosso conversou com o gerente de relações institucionais da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja), Frederico Azevedo, sobre o assunto. “Houve uma demora, por parte das obras da BR 163, do trecho que é de responsabilidade do Denit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) e parece que houve atraso de pagamento das empreiteiras que estavam fazendo as obras de Rondonópolis até o Posto Gil, e nesse trecho as obras vão bem devagar” afirmou.

A BR 163 é uma rodovia que integra o Sul ao Centro-Oeste e Norte do Brasil, cortando Mato Grosso. Segundo Federico, parte das obras foram entregues este ano, mas não é só isso que preocupa os produtores, e caminhoneiros. “Ainda existem preocupações como na descida da Serra de Cuiabá, na Serra da Caixa furada onde, vira e meche, há deslocamento de terra. Existe um morro ali, direto cai um pedaço dele. Esse é o principal eixo de escoamento de produção do Estado, fora a questão do transporte de pessoas. O trecho da BR 163 é muito importante porque é o lugar onde se localiza grande parte da produção do Estado. É importante essa estrada estar boa para se ter um escoamento mais barato, mais ágil, evitando tantos problemas como o engarrafamento e acidentes ”, explicou.

Rodovias estaduais

O programa ‘estradeiro’, realizado por especialistas da Aprosoja em novembro do ano passado constatou que, apesar dos esforços do governo do estado, a maioria das estradas ainda passa por sérios problemas estruturais.

“Tinha obras sendo executadas sim, mas também existem obras que estão muito devagar, como a MT 020, que liga Paranatinga até Gaúcha do Norte, por exemplo, ali tem obras, mas as empresas não estão dando a velocidade que precisavam dar”, apontou o gerente de relações institucionais Aprosoja.

Segundo Federico, há obras andando, obras lentas e também aquelas que estão paradas. “Em alguns casos, dependendo da empresa, é visível alguma lentidão nos serviços. Então tem de tudo, tem obras andando e tem obra que depende um pouco da empreiteira, que às vezes não está mobilizada, está sem recurso e querendo ou não a gente sabe que muitas empresas que pegam obras grandes não são de Mato Grosso e dependem do pagamento do Denit , que acaba embolando tudo quando estão atrasados” .

Soja terá menor área plantada, mas produção deve aumentar na safra 2016/2017

Se escoar já é difícil, a situação se complica ainda para milhares de toneladas de soja que saem de Mato Grosso em todas as safras. Mato Grosso é o maior produtor de soja do Brasil e um dos principais fornecedores da matéria prima no mundo. O Estado começa a dar os desenhos da dimensão da sua próxima safra, que é do ciclo 2016/2017, com expectativa de redução no tamanho da área plantada, podendo ser a menor dos últimos nove anos, de acordo com projeção do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).

Esse fator não deverá afetar a produção, que tem a projeção acima dos 29,39 milhões de toneladas produzidas em 2015. A expectativa de aumento tem ligação com investimentos e, também, o fator clima, que deve contribuir para o desenvolvimento das lavouras, ao contrário do que se viu na última temporada.

Conforme dados divulgados pelo Imea, na segunda-feira (30.05), há estabilidade nas áreas de plantação, porém, com aumento na produção. “Inicialmente, a expectativa para a área semeada com a oleaginosa na safra 2016/17, em Mato Grosso, é de 9,23 milhões de hectares, representando uma área bastante semelhante à safra 2015/16, com aumento de apenas 0,28%, o equivalente a 26,2 mil hectares.

 A nova safra deve registrar o menor aumento desde a série histórica acompanhada pelo Imea (safra 2007/08), ficando bem abaixo do aumento da área de soja registrado na média das últimas cinco safras, que é de 7,6%”, explicam os analistas do Imea.

“Apesar de as projeções com relação aos rendimentos a campo da safra 2016/17 serem limitadas neste momento, já que restam ainda insumos a serem adquiridos por parte do produtor rural, espera-se que na nova safra os investimentos em tecnologia continuem ocorrendo, o que impulsionaria a expectativa sobre o rendimento das lavouras. Assim, as projeções iniciais apontam para uma produtividade esperada de 53 sacas por hectare (sc/ha) na safra 2016/17, cerca de 6,56% superior à safra 2015/16 e bastante semelhante à consolidada no ciclo 2014/15, que foi de 52,9 sc/ha”, projetam os analistas do órgão.

Investimentos em logística não podem parar

O gerente de Relações Institucionais da Aprosoja, Frederico Azevedo, destaca a situação de alguns trechos da BR 163. “Existem alguns lugares que se der uma chuvinha, caminhão não sobe porque vira um lamaçal, fica lá três quatro dias parado. Completar esse trecho é importantíssimo para o produtor de Mato Grosso, isso vai diminuir o custo de frete e trazer oportunidade econômica não só para cadeia de soja e de milho, mas para outros setores também. Nós precisamos de investimento, a verdade é essa. Não se pode parar de investir em logística no Brasil e especialmente Mato Grosso,” finaliza Frederico.

 

Raul Bradock

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