Vídeos enviados por um internauta mostram uma grande fila na entrada da Câmara dos Deputados nesta sexta-feira (6), quando começou a vigorar a nova regra de revista para ter acesso ao prédio. A norma, estipulada pelo presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), obriga a todos que forem à Câmara, menos deputados e senadores, a passar por detector de metal e a ter bolsas e mochilas escaneadas por raio-X.
A medida foi determinada por Cunha na quinta-feira, um dia após um manifestante jogar notas falsas de dólar sobre ele. A decisão foi informada pela Diretoria Geral pela intranet da Câmara, que é o sistema interno acessado pelos funcionários chamado Camaranet.
A assessoria da Câmara informou que a Diretoria-Geral da Casa iniciou uma reunião nesta sexta para encontrar uma forma de aplicar as novas regras e, ao mesmo tempo, evitar as longas filas. Ainda segundo a assessoria, não faz parte da pauta da reunião uma revogação da nova medida.
Desde o momento em que a norma foi anunciada, gerou polêmica dentro da Câmara. Na intranet, servidores se manifestaram contrários à decisão de Cunha. “Uma dúvida: a quem realmente essa medida garante mais segurança?”, escreveu uma servidora na quinta-feira.
Os protestos foram ouvidos também na fila desta sexta-feira. Servidores que aguardavam para entrar diziam frases como: "Todos nós agora, todo mundo está sob suspeita, sou funcionário há 40 anos", "Fora, Cunha" e "Eu não tenho dólares".
O sindicato que representa os servidores do Legislativo, o Sindilegis, divulgou nota de repúdio à revista na entrada da Câmara. Para o sindicato, "o tratamento discriminatório entre servidores e parlamentares fere diretamente os princípios da moralidade e da impessoalidade preconizados na Constituição Federal."
Veja a íntegra da nota do Sindilegis:
O SINDILEGIS vem a público posicionar-se contrário a nova decisão da Diretoria-Geral da Câmara dos Deputados, proferida nesta quinta-feira, 5 de novembro de 2015. Segundo consta no comunicado, a partir desta sexta-feira (6), todos os servidores serão revistados ao entrar nas dependências da Casa, passando pelo detector de metais – com exceção aplicada aos parlamentares.
"Mais uma vez a direção da Câmara surpreende negativamente ao tomar nova decisão sem nenhum diálogo com a categoria e sem racionalidade administrativa, o que, para o SINDILEGIS, é incabível, pois o tratamento discriminatório entre servidores e parlamentares fere diretamente os princípios da moralidade e da impessoalidade preconizados na Constituição Federal.
O servidor público, assim como o parlamentar, presta serviço público. O Sindicato não acredita que tal medida desastrosa vá produzir maior segurança, mas apenas humilhação e desconforto diário para mais de 15 mil servidores.
Essa decisão arbitrária caracteriza um retrocesso, visto que, em 2010, o SINDILEGIS negociou com a Casa do Povo a dispensa da revista, a exemplo do que ocorre hoje no Senado Federal, TCU e outros órgãos públicos.
Com esse clima de desconfiança o SINDILEGIS pergunta se, para o servidor, o seu local de trabalho diário vai continuar sendo a sua casa. Diante de tudo isso, o Sindicato solicita ao Presidente da Câmara dos Deputados que intervenha e reforme essa decisão equivocada do Diretor-Geral."
Fonte: G1