Cidades

Falta de conhecimento é impulso para intolerância religiosa

Foto: Ahmad Jarrah / Circuito MT

Airton Marques e Josiane Dalmagro – Da Redação

“Senhor, piedade”. A prece presente no trecho da música “Blues da Piedade”, do cantor e compositor Cazuza, expressa, de forma literal, o pedido de milhares de cidadãos brasileiros que, mesmo vivendo em um país dito laico em sua Constituição Federal, temem expressar suas tradições e cultuar a sua religiosidade.

É cada vez mais comum nos depararmos com manchetes de jornais relatando agressões justificadas pela religião. Ataques a terreiros, centros espíritas, destruição de imagens santas, xingamentos e até mesmo agressões físicas  colocam em xeque a laicidade do País que, através da Constituição Federal de 1988, garante a liberdade de expressão religiosa a todo cidadão. Além disso, a liberdade ao culto também é garantida a religiosos.

Crimes ligados à intolerância religiosa existem desde os primórdios. Ao analisarmos a história mundial, tomamos conhecimento de diversos momentos em que a religião foi usada como motivo para a discórdia. No Brasil, essa questão foi pontual desde a chegada dos primeiros colonizadores, brancos e católicos que, ao se depararem com os nativos, usaram a força para impor sua religião. Tempos depois, a intolerância religiosa e cultural ganhou força com a chegada dos escravos africanos.

Atualmente, a mesma ignorância em aceitar o diferente tem gerado crimes. Em Rondonópolis (218 Km de Cuiabá), vândalos atearam fogo em um Centro Espírita (Associação  A Caminho da Luz), em meados do mês de julho deste ano.

A Associação  – que faz trabalhos de evangelização para adultos e crianças nos bairros próximos à sede, além de distribuição de sopa e tratamentos espirituais – foi vandalizada e teve portas arrombadas, salas queimadas e destruição de patrimônios. Segundo a presidente do Centro, Elcha Britto, este foi o quarto ataque ao local. “Nós estamos com medo de novas retaliações e destruições da Associação. Nas duas primeiras vezes que o lugar foi arrombado não denunciamos, mas a partir daí fomos à polícia e agora tememos novas investidas”, disse Britto ao Circuito Mato Grosso.

Em julho deste ano um caso ganhou repercussão nacional. Dessa vez o cenário foi o Rio de Janeiro e como personagem uma menina de apenas 11 anos, apedrejada ao sair de um terreiro de Candomblé, por conta de fanatismo religioso. O caso chocou o País, não apenas pela intolerância religiosa, mas pela violência física contra uma criança.

Praticantes de outras religiões também têm relatado  sofrimento e preconceito, como é o caso de mulheres islâmicas que sofrem repúdio porque usam véu. Homens judeus têm os chapéus, chamado quipás, retirados à força em revistas policiais, e católicos são agredidos fisicamente e têm símbolos de sua religião, como santos e terços, destruídos pela intolerância.

Em Mato Grosso o delegado Luciano Inácio, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) foi designado, há pouco mais de um mês, para cuidar especialmente de casos relacionados à intolerância religiosa. 

Luciano explica que ainda não há dados específicos com essa tipificação, mas relata que já tem alguns casos em análise. “Temos um, por exemplo, de um Centro Espírita que relata arrombamentos, depredação e até apedrejamento, no Bairro Santa Laura, aqui em Cuiabá”.

Para Luciano Inácio a grande maioria dos casos relacionados à intolerância é voltada a religiões de matrizes africanas. “Elas são muito incompreendidas, seus rituais são mal vistos e já foram perseguidos até pelo Estado, em outros tempos. Há uma associação negativa atrelada ao mal, a sacrifícios e coisas similares. Essa campanha negativa é fruto do desconhecimento” aponta o delegado.

Igreja Católica

Assim como em todo o mundo, onde 18% da população se declara católica, Mato Grosso apresenta grande número de fiéis. A força do catolicismo no Estado é vista pelas tradicionais festas de santo, que anualmente mobilizam milhares de pessoas. A Festa de São Benedito, realizada em Cuiabá, é um dos grandes exemplos da influência da religião na sociedade cuiabana, movida pela fé e tradição. Como maioria, ao falarmos sobre preconceitos e perseguições por conta de credos, os católicos são os menos visados pela ignorância de outros.

O Frei Eliseu Menegat, coordenador da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, na capital, afirma ao Circuito Mato Grosso que, para a Igreja Católica, a intolerância religiosa não é um problema, pelo menos no Estado. “A gente não tem isso como problema. Não quero ofender nenhuma outra religião, mas penso que a religião, seja ela qual for, se for séria, se mostra seriedade no seu trabalho, não enfrenta esse tipo problema. Penso que onde existe fanatismo, descontrole da condução da própria religião, automaticamente [o preconceito] é uma resposta. Onde existe equilíbrio e seriedade não tem esse tipo de ação”, afirma.

O Frei declara que a Igreja Católica respeita outras religiões e afirma que “muitos caminhos levam a Deus”. Diferente de alguns líderes religiosos, Frei Eliseu não acredita que haja intolerância religiosa na nossa sociedade, pelo menos lhe faltam argumentos que o levem a afirmar isso. “Não sei se na nossa sociedade existe isso [intolerância religiosa]. Eu acredito que não, mas é preciso mais fundamentos para falar sobre isso. Só com o que a gente convive não é suficiente para a gente tentar responder esta pergunta”, afirma o Frei, após ser questionado se existe intolerância religiosa em nossa sociedade.

A Igreja Católica tem se mostrado renovadora, especialmente no que tange ao líder maior da religião, Papa Francisco, que tem disseminado discursos de muita tolerância com as diferenças e, em especial, de amor ao próximo e compreensão.  Papa Francisco já tocou em assuntos considerados tabus pela igreja – como a homossexualidade, aborto e separação – sem o discurso conservador que seus antecessores costumavam ter.

Islamismo 

Em Cuiabá, o grupo de muçulmanos que segue o Islamismo luta para mudar a visão do resto da sociedade, que os ligam aos radicais islâmicos, que em todo mundo são apontados como autores de ataques terroristas.

Pela gritante diferença cultural existente entre brasileiros e muçulmanos, os adeptos a esta religião são vistos com olhos curiosos por onde passam, principalmente quando estão com seus trajes típicos. 

O coordenador da Mesquita de Cuiabá, que abriga a Sociedade Beneficente Muçulmana da capital, Sikiru Olaitan Balogun, afirma que já foi chamado de homem-bomba nas ruas de Cuiabá. Além disso, já teve que trocar um de seus filhos de escola, pois alunos e até mesmo educadores o tratavam com discriminação. O nigeriano de 41 anos também relata que as mulheres muçulmanas são as que enfrentam maior discriminação, devido ao Hijab – traje típico do Islã, que cobre os cabelos e o rosto das mulheres. Muitas não conseguem emprego.

“Aqui em Cuiabá não tem intolerância, porém as mulheres que adotaram a religião têm dificuldades para arrumar emprego, por conta do uso do Hijab, que cobre o rosto. Com Hijab é praticamente impossível arrumar emprego, mesmo quando elas têm qualificações”, afirma o muçulmano, ao Circuito Mato Grosso.

Balogun declara que a violência sofrida pelos muçulmanos não é institucionalizada, mas, sim, individual. Na maioria das vezes os agressores são pessoas que não conhecem a religião.

“É uma questão de ignorância. Pois as pessoas que ficam de longe olhando e julgando, depois que conversam com os membros, mudam a atitude. Começam a pensar: ‘Eles são serres humanos também’. Na Mesquita sempre recebemos visitantes, como estudantes de escolas públicas, privadas e universidades. Quando explicamos o nosso credo, no que acreditamos, as pessoas entram com uma visão e saem com um entendimento completamente diferente. A ignorância só cria preconceito”, declara o islamita. 

O Islamismo é uma religião abraâmica monoteísta, fundamentada nos ensinamentos de Mohammed, ou Muhammad, chamado pelos ocidentais de Maomé – considerado pelos fiéis como o último profeta de Deus – que codificou sua doutrina em um livro sagrado, o Alcorão, o escrito da fé muçulmana. Dentre os vários princípios do Islamismo, cinco são regras fundamentais para os mulçumanos: crer em Alá, o único Deus, e em Maomé, seu profeta; realizar cinco orações diárias comunitárias (salat); ser generoso para com os pobres e fazer caridade; obedecer ao jejum religioso durante o ramadã (mês anual de jejum) e ir à peregrinação a Meca pelo menos uma vez durante a vida (hajj), se tiver condições.

Igreja Presbiteriana

Oriunda da Reforma Protestante, e com grande representatividade em Mato Grosso, a Igreja Presbiteriana também foi alvo do preconceito, após sua instalação na região. De acordo com o Pastor João Geraldo de Mattos Neto, de Várzea Grande, há ainda uma violência velada, motivada pela incapacidade de muitos em aceitar o outro, que difere das suas tradições.

“A intolerância é a dificuldade na aceitação do outro. Isso se manifesta na dificuldade de ouvir aquilo que o outro tem pra dizer. O diálogo entre as igrejas, denominações e as pessoas em geral é sempre delimitado. O erro está quando eu quero forçar o outro por todos os meios, legítimos e ilegítimos, a acreditar naquilo que eu penso. Daí começa a agressão. Temos que lutar pelo direito de todo mundo manifestar aquilo que pensa”, declarou o pastor ao Circuito Mato Grosso.

João Geraldo, que também é psicólogo e professor na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), afirma que as instituições de ensino são os locais onde as discussões sobre credos e culturas diferentes devem ocorrer. Na formação social da população está a solução para o fim da existência da intolerância quanto às religiões.

“A universidade é um bom exemplo de um espaço que deveria ser pra construir este lugar onde pessoas, que tem raízes de pensamentos diferentes possam esboçar seus pensamentos, mas por incrível que pareça, existem artigos que dizem que a própria Universidade tem dificuldade de ouvir o outro. Como é que a gente vai permitir que o contraditório conviva no mesmo lugar? Que tipo de educação é possível com o contraditório sendo que está formando o cidadão, essa tensão se estabelece aí”, completa o pastor.

Igreja Universal do Reino de Deus

Com denominação cristã, a Igreja Universal do Reino de Deus é  uma religião evangélica neopentecostal, fundada em 1977 por Edir Macedo. De acordo com estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Universal possui mais de seis mil templos, 12 mil pastores e 1,8 milhão de fiéis só no Brasil. É uma das maiores organizações religiosas do Brasil e a 29ª maior igreja em números de seguidores do mundo.

A reportagem do Circuito Mato Grosso tentou contato durante vários dias, pessoalmente, por e-mail e telefone com lideranças da Igreja Universal do Reino de Deus para falar sobre o tema da reportagem, mas nenhuma das tentativas foi bem sucedida.

Umbanda 

Religião de origem brasileira, a Umbanda foi formada através de elementos de outras religiões como o catolicismo ou espiritismo, juntando ainda elementos da cultura africana e indígena. Pela descendência afro, os umbandistas estão entre as principais vítimas das agressões físicas e morais. 

De acordo com o presidente da Federação Nacional de Umbanda e dos Cultos Afro Brasileiros, Aécio Montezuma, a Umbanda é vítima de uma “satanização” de religiosos de outras crenças, ligando a religião ao lado oposto ao de Deus. 

“Falta do conhecimento. As pessoas têm preconceito, pois lhes falta esclarecimento sobre a religião. No inicio do século XX, “satanizaram” as religiões de matrizes afro. Nós sofremos este tipo de preconceito, pois existe uma briga pelo poder. A Umbanda é universalista, nós abraçamos todas as outras religiões, mas as outras religiões não nos abraçam. Na minha visão, muitas religiões acreditam que compraram Cristo só para elas. Não aceitam que outros falem em nome de Cristo. Nos somos umbandistas, mas seguimos a doutrina cristã”, esclareceu Montezuma.

Marginalizados, os terreiros onde são realizados os cultos estão localizados, normalmente, em bairros periféricos e, por muitas vezes, os frequentadores dos locais preferem manter anonimato, não declarando serem adeptos da religião. Em Mato Grosso, são cerca de quatro mil terreiros de umbanda. “Muitos têm medo de falar que são umbandistas. Estão na cultura do medo. A perseguição causou medo. Quando iniciei na umbanda, em 1971, nós éramos perseguidos. A polícia adentrava nos terreiros e parava os trabalhos, muitos membros eram presos”, relatou o umbandista.

Mórmons – Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias

A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias é o nome oficial da religião mais conhecida como Igreja Mórmon. O nome provém de um sagrado livro de escrituras compilado pelo antigo profeta Mórmon, intitulado O Livro de Mórmon, constituído de revelações modernas que teriam sido enviadas por Deus por intermédio de Joseph Smith Jr. e outros profetas mórmons.

O conselheiro do presidente de Estaca  -nome dado ao grupo de 5 capelas – da Missão Cuiabá dos Mórmons, Clarismundo Silva, conversou com a reportagem do Circuito Mato Grosso e reiterou o que outros representantes religiosas já haviam dito, considerando a possibilidade de intolerância como resultado de falta de conhecimento.

“Acredito que sofremos pouca intolerância. Quem não conhece a nossa igreja e no que acreditamos, imagina que temos rituais ocultos. Eles têm preconceitos por falta de informação, mas depois que conhecem as pessoas, mudam de opinião”, explica o conselheiro.

“A bondade precisa estar acima da placa que você congrega, essa é uma regra de fé”, diz o líder.

Os mórmons têm 13 regras de fé, que são o mesmo que mandamentos para outras religiões, entre os quais está: “Cremos em Deus, o Pai Eterno, e em Seu Filho, Jesus Cristo, e no Espírito Santo”, o que mostra sua crença é cristã e, “Pretendemos o privilégio de adorar a Deus Todo-Poderoso de acordo com os ditames de nossa própria consciência, e concedemos a todos os homens o mesmo privilégio, deixando-os adorar como, onde ou o que desejarem”, explicitando o respeito e direito às diferenças de credos.

De trajes característicos, os missionários mórmons (jovens entre 18 e 26 anos) são facilmente identificados nas ruas usando suas camisas brancas, calça social, gravata e a placa de identificação com nome próprio, nome da igreja e a palavra Elder, do inglês ancião.

“Eles aguçam a curiosidade das pessoas pela forma como se vestem, mas essa é a melhor forma de se vestir, alinhados”, pontua Clarismundo.

Candomblé

Religião de matriz africana, o Candomblé tem, por base, a anima (alma) da Natureza, sendo, portanto, chamada de anímica, onde se cultuam os orixás, que são ancestrais divinizados africanos que correspondem a pontos de força da Natureza, regidas por Oxalá (Deus). 

As características de cada Orixá os aproximam dos seres humanos, manifestam-se através de emoções. Cada orixá tem ainda o seu sistema simbólico particular, composto de cores, comidas, cantigas, rezas, ambientes, oferendas, espaços físicos e até horários. O candomblé é uma das religiões que mais tem sofrido, no nosso país, com a intolerância, com histórico de ataques não apenas morais, mas físicos, a pessoas ligadas à religião.

O responsável por uma casa de Camdomblé, ou terreiro, é um babalorixá, também conhecido como pai de santo. Na sua função sacerdotal, o babalorixá faz consultas aos orixás através do jogo de búzios. 

O babalorixá cuiabano Rôney Castrilon, afirma que a intolerância nunca deixou de existir, quando o assunto é Candomblé, mas que ele mesmo, não costuma sofrer e é aceito pela sociedade. “A cultura ainda não está bem desenvolvida para que todos assumam que frequentam o candomblé. Aqui o pessoal vê o candomblé como religião do demônio, acham que é uma seita do mal. Estamos tentando mostrar para a sociedade que é uma religião como outra qualquer, pois o caminho que leva a Deus é único”, desabafa Rôney, explicado que o objetivo maior do candomblé é a caridade.

Espiritismo

A doutrina espírita foi codificada pelo pedagogo francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, o Allan Kardec, e  baseia-se em suas cinco obras básicas chamadas de Pentateuco Kardecista Cristão, que são:  O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese. A doutrina é fundada sobre a existência, as manifestações e o ensino dos espíritos que aliam ciência, filosofia e religião voltada para o aperfeiçoamento moral do homem.  

Um dos fundamentos do espiritismo é a caridade, que seria o amor em ação, ou seja, o ato de fazer algo pelo outro, que não significa necessariamente que tenha que ser doação de dinheiro, mas sim de tempo, disposição e vontade de fazer qualquer coisa em prol do próximo.

Para o presidente da casa espírita Rafael Verlangieri, Jones Martinho, a intolerância religiosa já foi maior e está diretamente relacionado com a educação. “Com os filmes e as novelas abordando o assunto, a intolerância diminuiu. Entretanto, há um dado  socioeconômico apontando que as famílias de baixa renda e escolaridade  têm maior dificuldade em entender. Nesse segmento cresce a intolerância. Nas famílias com melhor  escolaridade e renda a intolerância é inexistente. Temos relato de instituições espíritas que se localizam em bairros de classe com índices de pobreza e IDH muito baixo, onde a intolerância ainda é muito grande”, pontua Jones.

Segundo o líder espírita Amauri Lobo, atualmente os atos de vandalismo ligados à intolerância que tem acontecido são relacionados mais à Umbanda. “O espiritismo Kardecista Cristão não vê nenhum mal na Umbanda, inclusive é considerada uma religião bastante séria, que trabalha a questão da vida eterna profundamente. Eles trabalham a reforma íntima” disse, demonstrando respeito. 

Ele afirma que o espiritismo sofre, sim, com a intolerância. “É bom lembrar que no começo, lá no século XIX, o espiritismo foi proibido e na época áurea de Chico Xavier, o espiritismo foi duramente combatido pela igreja católica, mas na vida moderna brasileira o espiritismo goza de certo respeito geral. Há sim, ainda, resquícios de perseguição com o espiritismo, mas ele – o preconceito – agora é representado mais pelas religiões evangélicas que têm essa linha ligada à bancada evangélica do Congresso, o pessoal da chamada linha pentecostal, os evangélicos mais radicais. Quem tem um pouco de cultura já sabe que se trata de uma religião intimamente vinculada com nossas visões gerais de futuro, com os nossas temas centrais que são: caridade, trabalho voluntário e cultura do amor e da paz. Um nova visão do evangelho, através do prisma moral”.

Budismo

Apesar de Cuiabá não possuir um templo clássico budista, tanto a filosofia, quanto as crenças são praticas por seguidores cuiabanos. É o caso do budismo de Nitiren Daishonin, que se fundamenta  na afirmação de que todas as pessoas têm o potencial de atingir a iluminação, do qual a estudante de arquitetura Náthally Zordan faz parte.

Zordan afirma ter sofrido retaliações por conta de sua religião, mas pontua que muitas pessoas não entendem do que se trata. “Nunca aconteceu comigo de sofrer algum preconceito por ser budista, mas já ouvi uns casos de acharem que estamos "abandonando Deus" e esse tipo de coisa”. 

Ela faz parte da Soka Gakkai, que é a designação de um movimento budista composto por aproximadamente treze milhões de pessoas no mundo inteiro, que tem como base o pensamento do monge japonês Nitiren (1222-1282). O budismo de Nitiren Daishonin tem, como prática principal, o Daimoku, que consiste na recitação do mantra "Nam-Myoho-Rengue-Kyo" e, como livro fundamental, o Sutra do Lótus.

Já Ligia Prieto faz parte da Associação Meditar,  que parte dos conhecimentos budistas para sua filosofia a atividades, como, entre outros aspectos, promover a atitude mediativa, altruísta e pacífica, que implique paz interna e externa, não-violência, respeito pela natureza, alimentação natural, bons valores humanos, conhecimento e na sabedoria.

“De uma maneira geral os budistas são mais tolerantes e consideram todo mundo igual. Eles não agridem ninguém, não vão contra os outros, são meio que na deles, então as pessoas não se incomodam”, diz Ligia.

Budismo é uma filosofia ou religião não teísta, que abrange diversas tradições, crenças e práticas geralmente baseadas nos ensinamentos de Buda. 

Ateus

Não acredito em nada! A afirmação que sai da boca de algumas pessoas quando questionadas sobre sua crença, fé ou religião também pode acabar em formas de intolerância, veladas ou não. A jornalista Luana Soutos afirma que já passou por indagações do tipo: “Ah, você acredita em algo sim, só que não é a mesma coisa das religiões, pode ser o amor, o universo, energia…”

Ela conta que quando alguém pergunta sobre o que ela acredita e a declaração é ‘nada’, sempre há um momento de incredulidade por parte de quem houve.

“Acho que ninguém nunca recebeu essa informação sobre mim com muita naturalidade. Todo mundo se espanta, a princípio, como se ter religião, acreditar em Deus, fosse algo inerente à condição humana. Passado o momento do "susto", aí cada um manifesta sua opinião, que vai do tipo: ‘nossa, você vai pro inferno’, até a procura por um algo em que eu acredite, como se a possibilidade de não acreditar em nada não existisse.  As pessoas tentam se convencer de que eu acredito em algo, mesmo que eu diga que não” explica.

Para ela a intolerância contra ateus existe e é mais forte ainda entre os evangélicos. “O que eu ouvi de mais ofensivo foi um apresentador de uma rádio evangélica, aqui de Cuiabá que falou, na rádio para centenas de pessoas ouvirem que ‘quem não tem deus no coração é ruim e perverso’. Isso foi horrível. Total falta de respeito da parte dele. E desconhecimento.”

Ela pontua ainda que alguns evangélicos reclamam tolerância, mas impõem o que acreditam a todos. “Eles influenciam, inclusive, a política. O poder econômico das igrejas aumentou, ajudando nisso. Discriminam a não religião e outras religiões também. Eles não suportam o pessoal que é espírita ou da umbanda, por exemplo,  mas dizem que eles que sofrem”, desabafa”, afirmando que os evangélicos são os mais intolerantes, mas que algumas vertentes da igreja católica também o são, deixando claro que o discurso não é generalizado.

Ateísmo, num sentido amplo, é a ausência de crença na existência de divindades. 

Santo Daime

O daimista Rafael Pereira frequenta o Santo Daime há alguns anos e afirma que a maior intolerância que já sofreu foi dentro de casa. “Minha mãe era radicalmente contra no início. Tivemos brigas e situações terríveis por conta da doutrina” revela.

Rafael diz não saber, analisando pelo ângulo da sociedade, se intolerância seria o termo correto. “Mas existe muito preconceito sim, por puro desconhecimento mesmo, como o termo sugere”.

Muitas pessoas, na verdade, nunca ouviram falar em Santo Daime, então ele explica que no local não tem pregação. “O Mestre Irineu, fundador, estabeleceu um Centro Livre. A crença é no Mestre Jesus, sem exclusão de outras entidades espirituais e na reencarnação, como no espiritismo”.

O Santo Daime é uma manifestação religiosa, de doutrina espiritualista que tem como base o uso sacramental da ayahuasca, que é um chá feito com um cipó e folhas, para prática espiritual essencialmente individual, com intenção de autoconhecimento e aprimorando-se como ser humano. Segundo seus adeptos, a doutrina do Santo Daime é uma missão espiritual, que encaminha os seus praticantes ao perdão e à regeneração do seu ser.

União do Vegetal – UDV

Teodoro Irigaray frequenta a UDV e afirma que o preconceito existe com quem não conhece. “Muitos falam sobre o uso do chá, mas a maioria não sabe sobre os benefícios e sobre o nosso trabalho. A liberdade religiosa deve prevalecer.”

O Centro Espírita Beneficente União do Vegetal é uma sociedade religiosa fundada a 22 de julho de 1961 por José Gabriel da Costa, o Mestre Gabriel, com o objetivo de promover a paz e “trabalhar pela evolução do ser humano no sentido do seu desenvolvimento espiritual”, conforme consta em seu regimento interno. A instituição conta hoje com mais de 18 mil sócios, distribuídos em mais de 200 unidades, em todos os estados do Brasil, em Peru e em alguns países da Europa, América do Norte e Oceania.

Em suas sessões, os associados bebem o chá ayahuasca, para efeito de concentração mental. No Brasil, o uso do chá em rituais religiosos foi regulamentado em 25 de janeiro de 2010 pelo CONAD, o Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas, do Governo Federal Brasileiro. Essa regulamentação estabelece normas legais para as instituições religiosas que fazem uso responsável do chá.  Nos Estados Unidos, a Suprema Corte daquele país concedeu à União do Vegetal, por unanimidade, o direito ao uso do chá durante suas sessões religiosas em todo território estadunidense,  desde 2006. 

Os ensinamentos da União do Vegetal baseiam-se no princípio da reencarnação evolucionista

De acordo com a doutrina da UDV, Jesus Cristo é o Filho de Deus. Os ensinamentos são orientados pelo princípio cristão segundo o qual "o discípulo deve amar ao próximo como a si mesmo para ser merecedor do símbolo da União: Luz, Paz e Amor".

Confira detalhes da reportagem do Circuito Mato Grosso

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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