Cidades

Obesidade infantil tem índices alarmantes em Mato Grosso

Foto Ahmad Jarrah

Sucos industrializados, salgados gordurosos, bolos prontos e bolachas recheadas. Esse é o conteúdo na maioria das lancheiras de crianças nas escolas. Segundo a Secretaria de Estado de Saúde, já foram registradas até o mês e agosto de 2015, 6.168 crianças com indícios de obesidade em Mato Grosso. 

Número preocupante, próximo aos dados registrados no ano de 2014, quando foram diagnosticadas 7.584 crianças com obesidade no Estado. O quadro, reflexo da pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde, aponta Cuiabá como a capital com mais habitantes acima do peso no País – a cada cinco pessoas uma tem sobrepeso. 

A reportagem do Circuito Mato Grosso esteve em duas escolas – uma particular e outra municipal – durante o intervalo para mostrar, de perto, o que realmente é consumido pelas crianças durante a pausa nos estudos. 

Crianças correndo no pátio, gritos e várias lancheiras faziam parte do cenário da primeira escola do ensino fundamental visitada, de ensino particular. Os pequenos, quando questionados sobre os seus lanches, disseram que gostam quando a mãe prepara e manda para eles. “Hoje eu comprei na cantina salgado de salsicha e suquinho porque a minha mãe não pôde fazer o meu lanche, mas quando ela faz é bolachinha de água e sal e suco de manga. Eu gosto mais quando ela manda”, fala Rafaeli, 6, estudante do primeiro ano.

Outra pequena estudante, Joana, diz que antes ela comprava o lanche na cantina, mas agora ela traz de casa. “Minha mãe manda bolo de brigadeiro, batatinha e suco pra mim, antes eu comprava aqui na cantina salgado e refrigerante”, conta a menina de seis anos.

Questionado sobre os produtos que a cantina oferece, o proprietário Michel D’Lara contou que já tentou investir em produtos saudáveis, mas não deu certo. “Quando eu comecei a tomar conta da cantina eu tentei colocar produtos naturais, como frutas, sanduíches e sucos de polpa, mas as crianças não comiam e traziam de casa outros lanches. Então voltei a oferecer salgados assados, evito comprar frituras”, explica.

Segundo a escola, projetos são realizados durante a semana com os alunos. “Colocamos frutas cortadas na mesa, salada de frutas e algumas verduras também, é um método de fazê-los consumir alimentos saudáveis”, diz Ilka D’Lara, diretora da escola.

A reportagem também teve a oportunidade de visitar uma escola municipal e comparar a realidade dos locais. No município é proibido ter cantinas alocadas nas escolas, por causa do cardápio balanceado montado por nutricionistas.

A diretora do colégio de ensino fundamental visitado, Maria de Lourdes Neves, comentou a importância da alimentação correta do aluno. “Na nossa escola é proibido ter cantina por causa do cardápio balanceado que recebemos todos os meses da Secretaria de Educação de Cuiabá, ele é feito por nutricionistas e sempre tentamos cumpri-los”, explana a diretora.

Conversando com as crianças, a maioria afirmou que não traz lanches de casa por causa da refeição, que é distribuída na hora do intervalo. “Eu acho supergostosa a comida das merendeiras, raramente eu trago lanche de casa. Hoje a merenda foi arroz com frango e laranja de sobremesa” fala Juliana, 10, aluna do quarto ano.

A merendeira do colégio explicou ao Circuito Mato Grosso como é seguido o cardápio dia a dia: “Todo o mês chega o cardápio que temos que seguir e nas terças-feiras chega a merenda que é para uma semana. São alimentos servidos para o projeto ‘Educa Mais Brasil’. Seguimos o cardápio, às vezes ocorrem algumas substituições, mas todas positivas. Por exemplo, amanhã teremos arroz com carne de soja e banana verde. As crianças gostam da nossa comida”, conta Eliete Fernandes.

O estudante do quarto ano, Rogério, falou que gosta da comida servida nos intervalos de aula. “Não trago comida de casa, não preciso trazer já que tem comida na escola, comida boa”, diz o pequeno.

Alimentação controlada

A máxima de que criança saudável é criança ‘gordinha’, usada pelos avós anos atrás não pode mais ser aplicada nos dias atuais. A obesidade infantil tem crescido muito no Brasil nas últimas duas décadas e pode estar relacionada a fatores hereditários, mas principalmente a maus hábitos alimentares e sedentarismo. A prática de exercícios físicos aliada à alimentação equilibrada são regras fundamentais para todas as crianças, o que tem ocorrido cada vez menos.

A prevenção contra a obesidade começa no útero materno, a alimentação da gestante é que irá definir o que a criança será quando adulta. A partir desse momento até os primeiros dois anos de idade a alimentação correta é decisiva para prevenir a doença. “A introdução alimentar do bebê mudou, hoje não oferecemos mais suco para a criança e sim papa de frutas, porque a maioria que recebe sucos os recebe cheios de açúcar ou sucos artificias que são tão ruins quanto os refrigerantes, ” explica a nutricionista, Luciana Garcia.

Segundo a especialista, existem dois tipos de obesidade: A primeira é a criança que come a quantidade e a qualidade de alimentos errados – salgadinho, refrigerantes, lanches industrializados – e a segundo é das crianças que comem com qualidade boa, mas em quantidade excessiva.

Luciana diz que é muito difícil para os pais enxergarem que os filhos estão acima do peso, eles começam a entender o que está acontecendo quando a criança não quer mais colocar uma bermuda, uma camisa regata, não querem colocar mais biquíni ou sunga, quando começam a ter dores no joelho e quando o exame de colesterol aponta estar alterado. “É nesse momento que a família se atenta e decide buscar um profissional, infelizmente a obesidade não é encarada como uma doença”. 

A nutricionista também coloca em pauta a questão de as mães mandarem os lanches de forma inadequada para as crianças: “Mãe querendo acertar sempre manda uma quantidade exagerada de alimentos, hoje em dia o que é mais saudável não é mais prático. O suco de caixinha, os bolos prontos são mais fáceis, mas não são mais saudáveis. É melhor bater um suco de polpa, um bolo caseiro, um pão com um patê feito em casa”.

A especialista ainda alerta: “Existem crianças que nunca viram salgadinhos de milho e sucos artificiais e quando chegam às escolas elas começa a consumir esses alimentos. Outro problema é que as crianças estão fazendo de suas casas um restaurante, elas não comem o que é saudável e os pais muitas vezes querendo agradar acabam fazendo a vontade”, conta.

Luciana explica que nada se proíbe tudo deve ser negociado. “É um tratamento longo e difícil porque não se muda a alimentação da criança, mas sim de toda a família. Não adianta o pai comer pizza e Coca-Cola, enquanto a criança não pode. Todos os hábitos têm que mudar e é preciso ter tempo para ir atrás das coisas saudáveis sempre aliadas a uma atividade física e muitas vezes aliada ao psicólogo para crianças ansiosas”. 

Ela aponta que a criança é avaliada por curvas específicas de peso e altura, não existe dieta para a criança ou restrição calórica porque ela está em fase de crescimento. Muitas vezes só de oferecer para a criança o necessário para a idade dela, já é o necessário para o emagrecimento, em geral elas comem mais do que deveriam. 

A nutricionista faz um alerta para a falta de exercícios: “As crianças também estão muito sedentárias, porque os pais não têm tempo de se exercitar com elas e há grande briga com os eletrônicos. Então é necessária uma atividade preconizada de no mínimo uma hora por dia de atividades lúdicas, pular corda, dançar, andar de bicicleta e uma hora de algum esporte que preferir”. 

Não passar impressão de que a comida é ruim ou que engorda também é ponto fundamental. Luciana explica que se elas crescerem se sentindo incomodadas com seus pesos podem se tornar sérias candidatas à anorexia e bulimia na adolescência, o que vai acarretar cuidado e acompanhamento de um especialista.

Confira mais detalhes da reportagem no Jornal Circuito Mato Grosso

Noelisa Andreola

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