Cidades

Uma casa repleta de esperança e solidariedade

Foto: Ahmad Jarrah / Circuito Mato Grosso

Amor, carinho, esperança e dedicação. Esse é o espírito da Associação dos Amigos da Criança com Câncer de Mato Grosso (AACC-MT). Tristeza não aparenta existir naquele lugar, o que se enxerga são sorrisos e olhares – aqueles que brilham – e muita vontade de viver.

Fundada em abril de 1999, a instituição sem fins lucrativos sobrevive por meio de doações, eventos e campanhas. “Hoje na casa temos várias despesas como água, luz, telefone, alimentação, produtos de higiene, capacitação de voluntários e funcionários. Todos eles são pagos com o dinheiro que arrecadamos ao longo do ano. A despesa mensal da casa é de 160 mil reais; só de impostos pagos ao mês chega a 35 mil”, explica a presidente da AACC, Tellen Costa.

A maior campanha da entidade, hoje, é o McDia Feliz, coordenada pelo Instituto Ronald McDonald. No estado é realizada há 16 anos e apoia 57 entidades, sendo que duas delas são a Associação dos Amigos da Criança com Câncer e o Hospital do Câncer. O evento ocorre no último sábado do mês agosto no país inteiro (neste ano no dia 29) e em Mato Grosso terá participação de Cuiabá, Várzea Grande, Sinop e Rondonópolis.

No ano passado a associação arrecadou R$ 320 mil e tem como meta em 2015 chegar aos R$ 400 mil com vendas de sanduíches BigMac. “Todo o valor líquido dos lanches BigMac – porque não são todos os lanches – é revertido para a associação. E agregamos alguns outros itens, como a venda de camisetas que realizamos todo o mês de julho e agosto para complementar esse valor”, conta a presidente.

Além dessa ação, durante o ano são realizadas outras campanhas como a Blitz da Solidariedade, na qual funcionários e voluntários da AACC se reúnem para vender camisetas e botões de rosas nos semáforos. Mais uma forma de aumentar a renda da instituição.

Associação dos Amigos da Criança com Câncer de Mato Grosso

Criada para atender pacientes que residem no interior de Mato Grosso, a casa tem capacidade para receber 20 crianças e adolescentes – de 0 a 18 anos – com um familiar, e oferece suporte com alimentação, exames, medicamentos, transporte e toda a estrutura necessária para seu auxílio e bem-estar durante o período de tratamento. E ajuda a toda a família do paciente com o envio de cestas básicas.

A casa vive em média com 15 crianças por dia, chegando a sua capacidade máxima toda semana. “Às vezes precisamos pedir ajuda para a Casa Esperança, porém tem dias que a casa não tem tantas crianças. Mas, entre dias mais lotados e menos, ficamos na média de 15 pacientes”, pontua a presidente da Casa.

As crianças chegam à associação por dois caminhos: pelo hospital ou pela Central de Regulação. Após os indícios da doença, o paciente é encaminhado para a casa, onde será recebida por um assistente social e preencherá um questionário com o familiar e, a partir disso, serão realizados todos os procedimentos.

A jornada dos ‘pequenos’, pode-se dizer, tem início neste ponto. “Alguns chegam muito tímidos, outros sem noção do que está acontecendo por causa da idade. As mães, principalmente, chegam muito assustadas e percebemos que muito rapidamente elas conseguem ter um entrosamento muito bom umas com as outras. Então eu sempre digo que o intuito da casa de apoio não é só oferecer hospedagem alimentação, porque se fosse isso seria até mais fácil, mas existe todo esse lado psicológico e social que elas recebem aqui dentro”, conta Tellen Costa.

Há nove anos acompanhando a filha, Zenilda Lima, da cidade de Paranaíta (839 km da capital), conta um pouco de sua trajetória. “No começo foi difícil, onde eu morava ninguém sabia o que era essa doença, então eu nem sabia que tinha cura, mas depois que vim para Cuiabá fiquei mais esperançosa. Eu não conhecia ninguém aqui, era a primeira vez que eu vinha para a capital, mas com a ajuda da Associação ficou tudo mais fácil, fui acolhida, fiz amigos, sinto como se fosse minha segunda casa aqui”, fala com alegria.

A filha de Zenilda está retornando para refazer uma cirurgia de prótese ortopédica e ela preferiu retornar à casa de apoio a ficar no hospital. “Cheguei aqui com nove anos, eu cresci aqui, eu criei uma família aqui. Foi uma grande experiência; eu aprendi muito, na época eu não entendia muito bem, só com o tempo eu fui percebendo o que estava acontecendo comigo. A ficha caiu quando eu tive que cortar o cabelo, acho que foi a coisa mais difícil para mim porque eu via as outras meninas fazendo penteados. Mas quando eu aprendi a me aceitar, tudo melhorou . Hoje continuo o tratamento, mas estou bem”, fala Jéssica Lima, hoje com 18 anos.

Suporte lúdico-pedagógico e psicossocial

A casa conta com complexo pedagógico que funciona com três pedagogas, um projeto de classe multidisciplinar, sendo que cada uma delas fica responsável por uma faixa etária das crianças.

Durante o tempo em que a criança ficar hospedada na casa de apoio ela terá continuidade do ano letivo. O intuito é que quando a criança voltar para o seu convívio social ela não perca o ano e não precise repetir a série.

Esse projeto é apoiado pela Secretaria Estadual de Educação que desenvolveu uma prova especial para essas crianças. A partir do momento em que ela retornar ao seu lar, será aplicada uma prova, e se a criança for aprovada poderá dar continuidade aos estudos na série correspondente a sua idade.

No ano de 2014 essa ação foi premiada pela Organização das Nações Unidas (ONU), através da Presidência da República, por cumprir um dos oito objetivos do milênio, que é garantir educação básica de qualidade para todos. “Foram inscritos mais de dois mil projetos, e desse montante apenas 30 foram premiados. É muito satisfatório saber que nós estamos entre eles”, diz Tellen.

Além de matérias presentes no currículo escolar, a associação oferece aulas que envolvem o lado lúdico com música, artes cênicas e dança, todos inseridos dentro do pedagógico, tudo para tirar o foco da doença, chamar a atenção dos pequenos para a alegria.

Há seis anos na casa, a psicopedagoga Nádia Turequi trabalha com alunos da primeira à quarta série. “Para mim é gratificante estar aqui. Além de fazer o que eu gosto, ainda tenho a oportunidade de ajudar no emocional e cognitivo das crianças. Eu acompanho todo o processo dos pacientes; quando chegam, estão em negação, então nós temos que ter sensibilidade com eles e mostrar que pode ser prazeroso estudar e fazer amizades durante o tratamento”, conta.

As crianças também recebem apoio psicológico nos hospitais, mas dentro da casa não existe,  neste momento, nenhum profissional dessa área para saber lidar com situações inesperadas o que, segundo a presidente da AACC, é de extrema importância para os funcionários.

Voluntariado

Há cerca de quatro meses foi retomado o projeto de voluntariado, um setor que carece de profissionais em todas as áreas. Segundo a presidente, além da ajuda de grande importância durante as ações do McDia Feliz, são necessários voluntários no dia a dia da casa. “Ser voluntário não é fácil, simples, não é uma escolha, e sim, uma decisão. Muitas vezes algumas pessoas dizem prestar essa ajuda e não aparecem nunca na instituição. Infelizmente ainda existe muita falta de comprometimento com o trabalho voluntário. Nós precisamos, sim, dessa ajuda, mas de forma responsável”, fala Tellen.

A ação voluntária acontece a partir da vontade de exercer a cidadania, de fazer o bem e de ajudar o outro. É necessário responsabilidade ao assumir essas tarefas.

Dessa maneira, a força do voluntariado transforma-se em um trabalho contínuo, responsável e comprometido, capaz de gerar o bem-estar de pessoas e de mudar a realidade das comunidades das quais faz parte.

Como doar

A solidariedade na AACC-MT é uma prática diária. Caso você queira ajudar doando alimentos ou participando diretamente da campanha McDia Feliz, adquirindo camisetas, chinelo, kits (com ambos os materiais), ou tíquetes BigMac’s antecipados, pode entrar em contato pelos telefones: 3025-08800 e 3025-0822. Visite o site: www.aaccmt.org.br

Confira detalhes da reportagem do Jornal Circuito Mato Grosso

 

Noelisa Andreola

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