Opinião

ENLUARADA

Seu contorno sedutor movia-se pelo piso num tempo quase parado.

Uma aula de perspectiva geométrica das sombras que delimitavam o espaço concedido para receber sua intensa luminosidade.

Pela fresta da janela era ela. Tão bela!

Esparramando-se por seu espaço circular, ofuscando a vizinhança do céu com a claridade enquanto por aqui, de tão nua, sua luz fazia sombras nas coisas da terra.

Dava para andar no mato sem lanterna nem cachorro, com a luz que vinha dela, imaginava se deliciando a cronista em sua cela.

Que estas, as noites, tragam o ar lunar já meio sem sentido do infinito desejar…

Para ela, sempre haveria uma lua nascendo. Em sua imaginação. Acima da risada triste da pedra lascada do Morro do Urubu, invadindo sua infância por baixo e pelas frestas das muitas venezianas do nono andar do Leme.

Passou por todas nas brincadeiras com a companheira. Venezianas abrindo e fechando, diminuindo e aumentando a entrada da alegria, os triângulos laterais e a intensidade da invasão. As persianas mais cerradas ou espaçadas e também as cortinas! Umas delas, véus simples, deslizantes ou como devaneios. Outras, como as delicadas listas de voile, escorrendo pela parede, ou as rendas. Algumas de flores dançando lânguidas ao sabor da brisa.  

Desde sempre aprendeu a contar o tempo para saber que a cada dia a brincadeira começava mais tarde. 51 minutos e 26 segundos para ser exata e sabuda.

Isso contribuiu para seu aluamento. Acostumou-se a mudar os horários ou acordar para dar boa noite para a “Lua, lua, ó bela lua”. Aquela que sempre fazia caretinha na sua canção de ninar favorita.

Da mesma maneira que aprendeu a caitituar os raios de sol que deveriam “entrar e se manterem firmes, sem ir e vir”, para garantir o caminho da praia, ficava de butuca esperando, olhos grudados na noite, quase soprando para as nuvens passarem.

Era de lei saudar a amiga e acompanhar seus reflexos se deslocando pela parede oposta a da veneziana. Triste era quando o tempo nublado impedia o espetáculo particular. Sempre mal acostumada, criada assim, com um tudo todo só para si.

O encontro com Pluct,plact estava marcado, sabia que ele viria para a segunda lua cheia.  

Era um dos dias dela. Daqueles. Queria não ser notada, mas como? Irradiando, luzindo, brilhando e encantando. Mudanças no ar…

A cada 2,7 anos acontecem duas luas cheias no mesmo mês. A próxima só em maio de 2018. Sabia que o visitante não pretendia esperar o próximo evento lunar. Tudo para descobrir que a Lua Azul, como é chamada de azul, não tem nada…

A verdadeira Lua Azul acontece quando plumas de fuligem de uma erupção vulcânica ou de um grande incêndio ficam em suspensão na atmosfera terrestre. Aconteceu em 1883 na erupção do vulcão Krakatoa, na Indonésia, 100 anos depois no México, com o El Chichon. As nuvens de fumaça compostas de gotículas de óleo das árvores no grande incêndio de 1953, em Alberta, Canadá, criaram luas azuis da América do Norte até a Inglaterra!

Já Lua Vermelha, mais comum, acontece quando a Lua passa pela linha do horizonte e atravessa uma camada mais espessa da atmosfera. Poluição ajuda horrores!

A espera valeu a pena, o encontro com Pluct, Plact, o extraterrestre, também. Mas isso é assunto para outro dia. Que ainda virá, depois de hoje.

É quando começa. Vocês sabem… Agosto a gosto.

Valéria del Cueto

About Author

Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “Ponta do Leme”, do SEM FIM... delcueto.wordpress.com

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