Começou a valer no final do mês passado um novo regulamento para gerir a participação de intermediários no futebol brasileiro. A CBF se adequou às regras criadas pela Fifa e vai implementar um novo sistema que vai afetar principalmente os empresários de jogadores, que não gostaram muito da ideia. A medida tenta aumentar a transparência nas tranferências de atletas, mas qual será o impacto real disso? Esta é uma dúvida mais complexa de entender e possui muitas variáveis.
A principal mudança é que não haverá mais os chamados "agentes Fifa", empresários credenciados para cuidar da relação entre jogadores e clubes. Agora, eles serão chamados apenas de "intermediários", mas não é apenas uma mudança de nome. A CBF criou um sistema no qual eles precisarão registrar todas transferências que fizerem. Antes desta etapa, será preciso apenas apresentar uma série de documentos e pagar uma taxa módica de R$ 1,5 mil para cadastro.
A CBF entende que apenas isso causará mudanças verdadeiras no futebol brasileiro. Em primeiro lugar, porque, supostamente, haverá mais transparência. "Os clubes falaram para a gente que, quando vão contratar um jogador, aparecem três ou quatro empresário para negociar. Agora o clube vai saber com quem contratar, se outra pessoa aparecer", explicou Reynaldo Buzzoni, diretor de registro e transferência da CBF.
Outra mudança será a existência de um relatório anual sobre todas as transferências. "A Fifa recomenda que se publique anualmente tudo que foi pago pelas transferências dos jogadores, todos valores. É o que a gente quer: saber como o dinheiro está sendo utilizado, regulamentar algumas questões e fazer com que voltem a investir no futebol", completou Reynaldo.
Mas nem tudo será tão transparente assim. Os cadastros de intermediários e todas transferências registradas só serão vistos inicialmente por aqueles que tiverem acesso ao sistema. Além disso, o valor do pagamento aos empresários, que antes seria regulamentado, não será mais: a Fifa estudou a imposição de 3% do valor da transferência. Mas ouviu muitas reclamações e recuou, deixando apenas uma sugestão dessa porcentagem no regulamento. "A recomendação de 3% é apenas para que os negócios fiquem mais sólidos, mas a CBF não se mete nisso". A prática usual do mercado é deixar 10% do valor da transferência com o empresário.
E não é só isso que ficará igual, apesar da nova regulamentação da CBF. De acordo com Eduardo Carlezzo, advogado especialista em direito esportivo, o impacto das regras será bem menor do que a CBF espera.
"No Brasil, a exigência de ser licenciado pela Fifa nunca foi algo requisitado por clubes ou atletas que contratavam os serviços de agentes. Este impacto é muito maior em países como a Inglaterra, por exemplo, onde o sistema era aplicado de uma forma mais estrita", explicou.
Carlezzo também não acredita que o número de empresários vai aumentar por causa das facilidades que o novo sistema da CBF permite: "não creio que a simples abertura de mercado vá ocasionar um grande incremento no número de intermediários no futebol, já que, como dito, na prática o mercado nunca esteve fechado, pelo menos do Brasil e na maioria dos países da América do Sul". Já a CBF discorda: "vai aumentar, porque você não tem muitos limites. Você se cadastra, paga se for aprovado e vira intermediário. Não precisa nem ter jogador".
Entre as exigências da CBF para que alguém se cadastre como intermediário existe uma série de documentos simples com a intenção de comprovar a "reputação ilibada e conceito inatacável" dos interessados. Na prática é isso que decidirá se o regulamento irá funcionar ou não. Mas tais exigências podem ser pequenas para causar mudanças reais no futebol brasileiro.
Fonte: Terra