Uma garotinha de apenas 8 anos esteve presente nos noticiários das últimas semanas, virou alvo de inquérito no Ministério Público do Trabalho em São Paulo e até de uma petição online – que reuniu mais de 23 mil assinaturas pedindo a intervenção e investigação de tutela do Conselho Tutelar de São Paulo. Seu nome? Gabriela Abreu, a MC Melody, filha de Thiago Abreu, o MC Belinho. A cantora mirim de funk chocou e reascendeu a discussão sobre erotização infantil após dançar quadradinho de oito e sensualizar em vídeos do You Tube.
Quatro dias depois de o procurador do Trabalho Dr. Marco Antônio Ribeiro Tura iniciar investigações contra o pai da funkeira – já que ele foi acusado de estimular a sexualização da filha -, os discursos de Thiago e da menina mudaram. Agora, MC Melody tem um empresário, tirou o “MC” do nome artístico, não pode mais dançar e quer ser uma nova Anitta.
Na última terça-feira (28), a família e o novo empresário abriram as portas para o Terra de um tecnológico estúdio musical em São Paulo para se “desculpar à sociedade” – mesmo depois de ter gravado no último dia 25 um vídeo com o mesmo propósito -, e falar sobre os próximos passos da garota.
“Se desculpar do quê? Acho que de repente quando a gente falava que as pessoas tinham recalque da gente nas redes sociais, por exemplo. Eu me alterei diversas vezes e acabei gravando vídeo xingando, mas falei para três ou quatro pessoas que queriam nos prejudicar. Como acabou me prejudicando de verdade, e eu estou sendo investigado pelo MP por conta da guarda dela”, disse o pai de Melody.
Segundo trecho de uma das representações do inquérito do MP ao qual Thiago se refere, a garota “canta músicas obscenas com alto teor sexual e faz poses sensuais bem como trabalha como vocalista em carreira solo, dirigida pelo seu genitor”. Sobre as apresentações, Thiago nega a acusação e afirma nunca ter ganhado dinheiro com a funkeira. “Não existiram shows dela até o momento”, falou ele e acrescentou que algumas coisas na “carreira” da menina irão mudar.
Em diversos vídeos do You Tube, a menina aparece vestindo blusas com bojo (enchimentos que imitam seios) e roupas curtas. Thiago conta que tudo não passou de uma brincadeira e em inspirações na cantora Anitta, mas “promete que isso não acontecerá novamente”.
“A Melody vai continuar do mesmo jeito, só vão mudar algumas coisas, como: o figurino. Daqui para frente, o figurino será de acordo com ela, para que não seja nada sensualizado. As músicas não pretendo mudar porque já é isso. Vamos focar mais no estilo mirim e mais pop, que é o que ela gosta”, explicou ele, que conta também que a criança terá aulas de canto e violão duas vezes por semanas e contará com uma coreógrafa que lhe ensinará danças apropriadas a sua idade e que não explorem a sensualidade. No entanto, espera uma liberação judicial ao lado do empresário e produtor musical Éder Triton para iniciar a tão desejada vida musical de sua filha.
Thiago diz que ainda não recebeu nenhuma notificação da Justiça, mas que já contratou um advogado para defendê-lo. “Estamos preparando a defesa em sigilo, mas posso adiantar que a alegação será feita com base da realidade, ou seja, que a Melody é uma criança que estuda, bem cuidada, brinca e tem uma vida apropriada à idade dela”, explicou.
“Quero ser famosa”
Com cabelos longos e sorriso estampado no rosto, Melody quer que sua carreira decole rápido. Mesmo com pouca idade e jeito traquina de criança, ela fala com convicção que seu sonho é ser uma popstar. “Eu quero ser cantora e ser famosa. Para mim, ser famosa é ganhar muito dinheiro, cantar bastante e ser uma estrela”, disse ela, que, ao mesmo tempo, fala com tristeza sobre o que enfrenta na escola após sua aparição nos noticiários. (Assista detalhes na reportagem em vídeo) .
Para tentar superar as inúmeras críticas das últimas semanas, o empresário diz que decidiu tomar conta da carreira de Melody e “passar uma borracha em tudo”. Ele afirma que a menina terá acompanhamento psicológico e deixa claro que não é conivente com a forma que ela dança ou mesmo é exposta em seus vídeos.
“Eu disse para o pai dela: ‘Se você quer ajuda, vai ter que me ouvir.’ Ele veio e me mostrou tudo que estava acontecendo. Eu, automaticamente, discordei de tudo o que ele estava fazendo e disse: ‘Por mais que você ache que tenha razão, você não tem. Na visão de todo mundo, você está explorando a sua filha. Eu sei que não é isso’. Veio uma bomba em dez dias que revirou a vida dele e dela”, explicou o empresário.
De acordo com a psicóloga Vanessa Tamiello, essa reviravolta pode ser “extremamente prejudicial” para o futuro da criança. Já que a menina não deveria ter passado por casos de grande exposição e erotização. “O acompanhamento psicológico é essencial no sentido que isso vai trazer repercussões emocionais que a criança não está preparada para lidar com essa situação e também cabe um incentivo de terapia para os pais – de modo que eles saibam falar não e mostrar o melhor caminho”, alertou ela.
Já a partir da liberação para fazer shows, terá início um processo de profissionalização de Melody. No entanto, o empresário ressalta que não quer tirar a naturalidade da menina “para não ficar um produto fabricado”. “Os shows serão realizados durante o dia, em domingueiras, matinês e aniversários. Ela não se apresentará em casas noturnas, ela não pode fazer isso na condição de menor e tudo será feito de acordo com a lei”, afirmou Éder.
Conhece a MC Pikena?
Aos 12 anos, Ângela De Aguiar começou no funk cantando o seguinte refrão “Espelho, espelho meu, existe alguém que senta melhor do que eu?”. Hoje, aos 14, ela também canta o mesmo teor de duplo sentido, mas quer estar em novelas .
“Agora eu gosto de Anitta e Ludmilla porque sei que assim vou conseguir algo mais comercial. Infelizmente, existe muito preconceito por eu ser menina e que canta funk”, falou a garota, que tem o acompanhamento do empresário, Jefferson Mesquita, que trabalha só com funk na F10 produtora.
Questionado se há limites para uma criança cantar funk, ele declara que todos podem fazer o ritmo. “A música não tem limites pode ser uma criança de cinco anos ou uma senhora cantar funk, sertanejo e se a pessoa tiver o dom, bola pra frente”, explicou Jefferson, que pretende realocar a MC Pikena dentro do funk. “Ela vai seguir os passos da Anitta, mas sempre dentro do ritmo. Não pensamos em colocá-la em outros ritmos, mas, se você pedir para ela cantar MPB, ela canta”.
A mãe Patricia Aguiar, por sua vez, incentiva a garota e acredita que, para fazer sucesso atualmente, a maioria dos funkeiros precisa começar cantando músicas com duplo sentido. “Isso sempre acontece. Esses cantores passam por isso e muitas vezes sofrem preconceito, mas depois passa. Veja pelo MC Gui e pela Anitta. Todo início é mais difícil”, afirmou ela, que não recebeu bem a notícia quando sua filha começou a fazer shows de funk.
Fonte: Terra