Internacional

Brasileiro nega contato com integrantes do Estado Islâmico

Esta semana na Espanha, o Fantástico acompanhou um momento muito difícil na vida de uma mãe brasileira. Dona Maura foi visitar o filho Kaique na cadeia. Ele está preso acusado de tentar se juntar a um grupo terrorista, o Estado Islâmico.

Visitar um filho preso não é fácil para ninguém, mas o sofrimento dessa mulher ainda inclui viajar quase 800 quilômetros de ônibus em um país estrangeiro. Dona Maura é a mãe de Kaique Luan Ribeiro Guimarães, o brasileiro de 18 anos de idade que está detido na Espanha — sem direito a fiança — por suspeita de pertencer a uma organização terrorista.

Ela saiu da cidade de Terrassa, onde mora, e dez horas depois chega de madrugada a León, onde fica o presídio. Veio com o padrasto de Kaique, e um bebê, que é sobrinho do rapaz preso. Cansada e triste, dona Maura chega dizendo que o filho é inocente: “Acredito que meu filho não ia fazer maldade com ninguém, sabe? Porque as pessoas que conhecem eles sabem o jeito que ele é”.

O brasileiro foi preso em dezembro do ano passado na Bulgária com dois amigos nascidos no Marroco. Assim como Kaique, os amigos viviam na Espanha. As autoridades espanholas afirmam que os três queriam ir da Bulgária para a Turquia, e dali seguiriam por terra até a Síria, onde se juntariam ao Estado Islâmico, uma organização radical que controla parte do Iraque e da Síria. O terror e violência extrema são as marcas do Estado Islâmico.
Fantástico: Essa viagem, ele contou para a senhora por que que ele ia viajar?

Maura Ribeiro, mãe de Kaique: Não. Ele mentiu. Ele disse que ia pra Maiórca porque, claro, se ele falasse que ia "mãe, eu quero ir pra Istambul, na Turquia", eu não ia deixar.

Maiórca é uma ilha que pertence à Espanha – um destino turístico bastante visitado nos meses de verão. Mas agora no hemisfério norte, ainda é inverno. Segundo ela, o filho disse que queria fazer compras na ilha.

“Ele disse que queria comprar roupa, porque aí tem roupas muito baratas, roupas bonitas de muçulmano”, diz Maura.
Kaique era católico, mas se converteu ao islamismo na Espanha, onde ele e a família vivem desde 2006. Vieram de Formosa, no interior de Goiás. Na mesquita que ele frequentava na cidade de Terrassa, ninguém quis falar sobre o brasileiro. Antes de chegar à prisão, Dona Maura passa o resto da madrugada na rodoviária e, de tarde, pega um ônibus. São mais 20 minutos de viagem — depois, ela ainda tem que pegar uma van.

O jovem brasileiro acusado de terrorismo agora no centro penitenciário de León. Já trocou três vezes de prisão na Espanha, e a Justiça não informa os motivos da transferência para a família. O advogado do brasileiro é um defensor público, mas a família diz que tem muita dificuldade para conseguir falar com ele.

Antes de entrar no presídio, Dona Maura conta que trouxe o bebê a pedido de Kaique, que queria ver o sobrinho, mas a administração da penitenciária não permite a entrada da criança. Esta é a segunda vez que ela visita o filho — na primeira, teve que ficar atrás de uma vidraça e falar com ele por telefone.

“Ele me disse no dia da visita que eu tive aqui da outra vez ‘mãe, eu não fiz nada. O único crime que eu cometi foi me converter a muçulmano e viajar sem te pedir, sem falar contigo que eu ia viajar’”, conta Dona Maura.

Ela entra no presídio levando um bilhete com perguntas elaboradas pelo Fantástico. O encontro dura duas horas.

Fantástico: Como é que a senhora encontrou o seu filho?
Maura Ribeiro, mãe de Kaique: Encontrei meu filho muito triste. Muito sozinho, muito triste. Eu também fiquei muito triste. Não sei se é melhor ver ele assim ou não vim ver. Eu não sei.
Fantástico: Ele falou alguma coisa para a senhora das condições aí na prisão?
Maura: Não, ele disse que tá sendo bem tratado aí. Ele só quer ir pra casa. Mas que tá bem. À medida do possível tá bem.

Dona Maura mostra o bilhete com as perguntas respondidas por Kaique. Ele diz que a vida na prisão é muito ruim e, ao contrário do que garante o governo espanhol, diz também que nunca teve contato com integrantes do Estado Islâmico, nem nas redes sociais, nem pessoalmente.

No mês passado, na primeira reportagem sobre o caso que passou no Fantástico, a polícia informou que vinha monitorando o brasileiro havia 7 meses. E o Ministério Público informou que 60 pessoas, entre elas Kaique, foram presas recentemente por suspeita de pertencerem a uma célula terrorista na Espanha.

Agora, durante a visita, Dona Maura recebeu do filho um documento da Justiça espanhola.

Segundo o documento, Kaique é suspeito de pertencer a uma rede de captação, radicalização e envio de pessoas a lugares em que operam organizações terroristas jihadistas com a finalidade de cometer atos terroristas.

Dona Maura e o marido estão desempregados, mas têm esperança de conseguir um novo advogado, agora particular, para defender Kaique. Enquanto isso, ela segue acreditando na inocência do filho.

“Meu filho só queria viajar e igual ele falou: ‘mãe, eu não ia fazer nada de mal com ninguém, a senhora sabe’", afirma Maura.
O caso continua sendo investigado e está sob sigilo de Justiça.

Fonte: G1

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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