Em 1907, um livro chamado Sexta-feira 13 foi publicado pelo corretor de ações Thomas Lawson – essa foi a inspiração para a mitologia em torno da data, culminando na franquia de filmes homônima nos anos 1980.
O livro conta a história sombria de um corretor de Wall Street que manipula o valor de ações para se vingar de seus inimigos, deixando-os na miséria.
Para isso, ele tira proveito da tensão natural causada pela data no mercado financeiro. "Cada homem na bolsa de valores está de olho nessa data. Sexta-feira, a 13, quebraria o melhor pregão em andamento", diz um dos personagens.
Como se vê, em 1907, a sexta-feira 13 já era uma superstição socialmente estabelecida. Mas não era assim 25 anos antes.
O Clube dos Treze, um grupo de homens determinados a desafiar superstições, se reuniu pela primeira vez em 13 de setembro de 1881 (uma quarta-feira) – mas só seria fundado oficialmente em 13 de janeiro de 1882.
Eles se encontravam sempre no dia 13 de cada mês, sentavam – os 13 – à mesa, quebravam espelhos, derrubavam saleiros extravagantemente e entravam no salão de jantar passando debaixo de uma escada.
Os relatórios anuais do clube mostravam meticulosamente quantos de seus membros tinham morrido, e quantas destas mortes haviam ocorrido dentro do prazo de um ano após um membro comparecer a um de seus jantares.
'Grande coração'
O grupo foi fundado pelo capitão William Fowler em seu restaurante, o Knickerbocker Cottage, na Sexta Avenida de Manhattan, em Nova York. Ele era considerado um "bom companheiro de grande coração, simples e caridoso".
Como mestre de cerimônias, ele "sempre entrava no salão de banquetes à frente do grupo, vistoso e sem medo", segundo Daniel Wolff, "chefe de regras" do clube.
O jornal The New York Times informou na época que, na primeira reunião, o 13º convidado estava atrasado, e Fowler ordenou que um dos garçons assumisse seu lugar: "O garçom estava sendo empurrado escada acima quando o convidado que faltava chegou".
O primeiro alvo do grupo foi a superstição de que, se 13 pessoas jantassem juntas, uma delas morreria em breve. Mas uma segunda superstição veio logo a seguir.
Em abril de 1882, o clube adotou uma resolução lastimando o fato de que a sexta-feira era "há muitos séculos considerado um dia de azar… sem motivos razoáveis" e enviaram apelos ao presidente americano, a governadores e a juízes pedindo que estes últimos parassem de marcar enforcamentos para sextas-feiras e levassem a cabo execuções em outros dias da semana.
Mas não há qualquer sinal da superstição da sexta-feira 13 nas atividades do clube. Ela surgiu em algum momento entre a fundação do clube, em 1882, e a publicação do livro de Lawson de 1907.
Seria isso por culpa do próprio clube?
Orgulho
O grupo aproveitava todas as oportunidades que apareciam para juntar as duas superstições e ridicularizá-las, segundo reportagem do jornal Los Angeles Herald de 1895: "Nos últimos 13 anos, quando a sexta-feira caiu no dia 13, esta peculiar organização fez reuniões especiais para se deleitar".
O clube se orgulhava de ter colocado a superstição no foco das atenções. Sua fama cresceu: o grupo original de 13 membros passou a contar com centenas de pessoas na virada do século, e clubes parecidos foram fundados em outras cidades em todo o país.
Em 1894, foi criado o Clube dos Treze de Londres. Em uma carta de 1883 aos membros nova-iorquinos, o escriba do clube londrino, Charles Sotheran, elogia a determinação com que eles combateram "duas dessas superstições vulgares, a crença de que o número 13 traria azar e que a sexta-feira seria um dia azarado". "Vocês criaram um sentimento popular a favor dos dois".
A frase é ambígua, mas ela pode ser interpretada como um sinal de que as duas superstições, juntas, caíram nas graças do povo.
A doutrina do Clube dos Treze era de que "superstições deveriam ser combatidas e eliminadas".
Mas tudo indica que, em vez disso, eles tiveram o grande azar de acabar lançando uma das superstições mais conhecidas e persistentes do mundo ocidental.
Fonte: BBC BRASIL