Opinião

Charles na Escola de Dragões

Assim é Charles na escola de dragões (2012), de Alex Cousseau, com ilustrações de Philippe-Henri Turin. Um livro que sabe ser lúdico e guardar alta voltagem literária.

A literatura infantil sempre trabalhou a figura do patinho feio como o "diferente" que sofre na escola. Apesar de com frequência se falar das crianças como anjos, a verdade não é bem esta: a vida infantil, e a escola como seu palco central, é um drama intenso de insegurança, dor, alegria e medo, que exige da criança muita coragem e a sorte de encontrar amigos.

Charles na Escola de Dragões não foge à regra de ser um livro sobre um patinho feio obrigado a descobrir "sua diferença" para sobreviver. Mas, ao contrário de um bicho bonitinho, o livro fala de dragões e, com isso, defende a diferença de forma clara: dragões também podem ser fofinhos e sofrer como patinhos. Charles, o pequeno dragão, tem asas muito grandes e pés enormes e, por isso, quase desiste de ser um dragão normal.

Além do mais, é poeta e sofre com isso. O livro é inspirado em “Albatroz”, poema do francês Charles Baudelaire, considerado rebelde por chocar a sociedade do seu tempo (século 19) com textos que traziam sua melancolia e descrença no mundo moderno; vale lembrar que "Albatroz" faz parte da sua obra máxima, Flores do Mal. O nome já diz tudo… Mas, diferentemente da ave de Baudelaire, que acaba por sobre o chão, imersa num mundo onde a poesia não vale nada, Charles terá final feliz. Baudelaire para crianças, claro, não pode ser Baudelaire até o fim.

Ligia Cademartori, em relação à obra diz: “Eis uma obra que, encantando e divertindo, afirma a força da linguagem, estimula o leitor infantil a perceber as muitas possibilidades da poesia e trata de temas muito relevantes para sua faixa etária”.     

Rosemar Coenga

About Author

Rosemar Coenga é doutor em Teoria da Literatura, apaixonado pela literatura de Monteiro Lobato e semanalmente escreve a coluna Ala Jovem no Circuito Mato Grosso.

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