Josiane Dalmagro
A classe artística do estado passa por um período aflição por conta dessa possibilidade ventilada durante o período de transição do governo Silval Barbosa (PMDB) para o governador eleito Pedro Taques (PDT).
Mato Grosso está entre os 19 estados do Brasil que têm uma secretaria específica destinada à cultura e, no caso de Mato Grosso, a conquista é relativamente recente, tendo apenas vinte anos.
“Se já temos uma secretaria, conquistada depois de mais de dez anos de mobilização de vários segmentos ligados à questão da cultura, agregados a tantos outros valores do escopo social, que no governo Dante de Oliveira, em 1994, conquistou a autonomia tão sonhada e o status político relevante de uma secretaria de Estado, ela não pode ser extinta”, questiona o multiartista Eduardo Ferreira, integrante da Comissão de Cultura de transição criada para dialogar com o futuro governador.
Para ele, extinguir a SEC é um erro que irá afetar diversas outras áreas, como educação e desenvolvimento.
“Entre erros e acertos as diversas gestões subsequentes ao Dante mantiveram a SEC, ora mais forte, ora mais fragilizada. Estamos sofrendo agora uma carga negativa por conta do fracasso da gestão Silval Barbosa que, literalmente, sucateou a Secretaria de Cultura, tornando-a um antro para encostar apaniguados políticos de forma inconsequente e perversa. Ora, não podemos aceitar a medida do pior caso para sustentar a defesa da extinção de uma estrutura pública, que pode, sim, ser bem mais enxuta e eficiente, com mais agilidade e perspectiva estratégica, bem planejada e devidamente valorizada como um segmento que mexe, e muito, com várias cadeias da produção econômica”, diz ele, citando setores de consumo desde a gastronomia, passando pela moda, pelo consumo de eletroeletrônicos, que consomem produção de conteúdo cultural, como vídeos, música, design, artes gráficas, visuais e outros.
A produtora cultural Carolina Barros diz acreditar que não é necessário extinguir a pasta, mas sim fazer um enxugamento, deixando de fato a secretaria com gastos reduzidos e apenas com o quadro de trabalhadores necessários.
“Perder o status de secretaria também virá com a perda de vários benefícios e incentivos para com o governo federal, além de criar uma distância maior no diálogo com o poder público e significar um retrocesso. O que é preciso perceber é que a falta da cultura fará aumentar a violência, com a falta de espaço para os jovens, por exemplo. A arte serve para o ser humano não enlouquecer, mas isso é muito subjetivo, e como é que você vai explicar isso para um gestor?”, diz ela, que também faz parte da comissão, eleita pelo Fórum Permanente de Cultura de Mato Grosso, junto a Eduardo. A Comissão de Cultura conta também com Bruno Bini, Wanderson Lana, Paulo Traven e Rômulo Fraga.
Carolina questiona o fato de o Estado já estar isolado geograficamente, aliado ao sofrimento com a falta de espaços para difusão da cultura, e afirma que é uma “grande mancada” acabar com a secretaria.
“Precisamos de políticas públicas de continuidade, senão jamais veremos resultados e muito dinheiro já investido será jogado no lixo. Talvez no pior dos cenários surja uma fundação”, avalia Carolina, tentando ver um cenário melhor – ou menos pior – para o futuro da cultura em Mato Grosso.
Eduardo Ferreira pontua que é preciso ampliar o conceito e a percepção do valor agregado que a cultura embute e não entra nas pesquisas de mercado, tornando-a injustamente o "patinho feio" da história. “Recusamos veementemente este papel, alargamos nossas visões e estamos nos preparando para mostrar isso para toda a sociedade. Para isso estamos nos mobilizando e informar a sociedade que, por exemplo, a cultura pode ser usada para incentivar o desenvolvimento econômico justo e sustentável de um país. As atividades culturais são estratégicas e geram trabalho, emprego e renda, além de promover a inclusão social, especialmente entre jovens”.
Pesquisas da Organização Internacional do Trabalho (OIT) indicam uma participação de 7% de bens e serviços culturais no PIB mundial, com crescimento anual previsto em torno de 10% a 20%. No Brasil, o crescimento médio anual dos setores criativos (6,13%) foi superior ao aumento médio do PIB nacional (cerca de 4,3%) nos últimos anos.
Ferreira critica ainda a instabilidade com que os governos tratam esse setor: “Já está se tornando rotina, todo início de governo nos deparamos com esta questão: acabar ou não com a Secretaria de Cultura”.