Ah, se você tivesse conhecido o Liu ou visto ele em palco! Tem gente que chega até a suspirar de saudades do saudoso cuiabano Liu Arruda. Lembrar com gargalhada de seus deboches arrojados, com improvisos na ponta da língua, cujo alvo era até mesmo o público que lhe assistia. Há 15 anos ele deixa saudade e poderá ser visto na interpretação do ator André D’Lucca, no espetáculo “Foi um Liu que passou em nossas vidas”, que será apresentado dias 04, 05, 08 e 09 novembro, no teatro do Liceu Cuiabano.
Liu foi mais que um ator, comediante, que inspirou vários artistas da atualidade, ele foi crítico com a política e utilizava de sua arte para expressar as raízes e as necessidades de sua cuiabania.
Pois é, dgente, Liu poderá ser “visto” por quatro dias nos em 4, 5 e 8 de novembro, ás 21h, e no dia 9 do mesmo mês, ás 19h, no teatro do Colégio Liceu Cuiabano. Uma oportunidade para aqueles que desconhecem do linguajar cuiabano, como dgente, ispia, xomano, pouco encontrado hoje, dentre outros que serão expressos no palco pela essência debochada dos personagensda “Comadre Nhara”, compadre Juca, e os dois filhos, Gladstone e a loira espevitada Ramona.
O mais legal é que cada personagem pensa, fala e se comporta de um jeito bem diferente um do outro. “É um super desafio. Não tem como fazer igual, porque o Liu é só um. Assim como se ele estivesse vivo e fosse fazer Almerinda não sairia igual, talvez melhor, mas igual impossível”, retrata o ator André D`Lucca, que sobe ao palco para esta homenagem.
Outras peculiaridades marcantes da raiz cuiabana retratadas em seus figurinos serão reproduzidos por Alzira da Attualita e levados ao palco, com um magnifico cenário especial de Ló Ferreira, junto com a fotografia de Fábio Motta, e a trilha sonora ao vivo feita exclusivamente para o espetáculo por Henrique Maluf, direção e produção de Carlos Jerônimo e realização do grupo teatral “Cena Onze”.
Será uma hora de espetáculo com textos criados por André D`Lucca, livremente inspirado nas obras de Chico Amorim e Liu Arruda. Ou seja, atual baseada nas situações do cenário político, apresentando cenas cômicas, da mesma maneira que ele já faz com a personagem Almerinda por anos.
Não diferente de D`Lucca, na acidez crítica, e que por sinal carrega a mesma característica na veia artística para a comédia, o interessante é que ao mesmo tempo cada um tem sua identidade própria marcada pelo público que os conhece. E quem ainda não saboreou o trabalho de ambos esta é chance.
O ator observa que a figura do Liu é muito importante para a cultura mato-grossense, pois ele aparece num momento em que pessoas do Brasil inteiro estavam vindo para Cuiabá, principalmente os sulistas.
“E a forma como o cuiabano fala era considerada feia. As pessoas tinham vergonha do nosso linguajar e o Liu chega do Rio de Janeiro num momento de resgate do modo de falar cuiabano, em que ele leva para o palco, de personagens inspirados em pessoas que ele conhecia, como a comadre Nhara, que tem muito da mãe dele. Ele mostrava como se dissesse: gente não é feio. O cuiabano fala desse jeito e a gente tem que preservar”, comenta o ator.
Concepção do espetáculo
André estava em São Paulo quando foi convidado para participar deste espetáculo, com destino a Cuiabá para cumprir uma agenda do Fifa Fan Fest.
“E o Carlos Jerônimo entrou em contato comigo. Ele já estava lidando com este projeto desde o início do ano, só que o nome era Liu Arruda e o linguajar cuiabano. Tive um insight para mudar o nome e ele aceitou, assim a gente mergulhou nessa pesquisa”, conta André D`Lucca como tudo se iniciou.
Juntos começaram a buscar material e conseguiram muita coisa por ajuda de amigos e família de Liu Arruda, de forma marcante. Também por meio da AFPL, uma agência de monitoramento e arquivo de informações de Cuiabá, que é uma das apoiadoras do espetáculo. A família com peças de teatro inteiras de Liu gravadas em formato VHS, a antiga fita cassete, e uma série de entrevista foi feita com pessoas que o conheciam e conviveram com ele.
Foi mais ou menos um mês assim nesta primeira fase e foi quando o ator André D`Lucca começou a se envolver com o Liu.
“Eu não conheci o Liu pessoalmente e nem assisti nenhum espetáculo dele ao vivo. Quando ele explodiu na carreira eu era adolescente e minha mãe não deixava eu assisti-lo. Ela assistia, mas eu não podia porque ela dizia que o Liu era muito pornográfico, boca suja. Então o que eu conhecia dele eram áudios, comerciais e quadros de televisão”, conta D’Lucca.
Ele foi se envolvendo com esse universo do Liu Arruda, até que chegou no final do material, e de repente de uma entrevista para outra aparece a figura do comediante debilitado pela doença.
“Eu imagino o choque que foi para as pessoas na época. Eu parei o DVD e tomei água, dei uma respirada e assisti até o fim. Comecei a ficar mal e a próxima entrevista aparece assim: `Morre Liu Arruda’. E naquela época eles filmavam o rosto da pessoa no caixão. Nesse momento eu comecei a chorar como se eu fosse muito amigo do Liu e fiquei uns dois dias mal, após, chorando, deprimido, como se tivesse perdido alguém muito próximo e percebi que estava totalmente envolvido neste processo.
Trajetória de Liu Arruda
No dia 24 de outubro, que marca a morte de Liu Arruda, ele nos deixa aos 42 anos de idade no ano de 1999.
Liu Arruda é responsável por perpetuar a história dos trejeitos do povo cuiabano, eternizando para sempre, o modo peculiar da fala, da cultura e da vida social. Era o “palhaço da família”, como contam familiares.
Seu primeiro contato com o teatro foi por meio de sua vizinha, Teresinha Domingos, que era declamadora de poesias. No Colégio São Gonçalo envolveu-se com o teatro escolar.
Em 1979, Liu vai para o Rio de Janeiro estudar teatro. Neste mesmo ano participa da primeira montagem da peça “Rio Abaixo, Rio Acima”, de Glória Albuês. No final da década de 80 populariza seus principais personagens: Comadre Nhara e Juca.
Nos últimos anos era colunista do Diário de Cuiabá, onde escrevia aos domingos a coluna Nhara Komenta. A última publicação foi no último dia 10 de outubro.
Serviço
Os ingressos estão sendo vendidos nas Lojas Mundo Verde – na galeria do Extra supermercados e no bairro Popular; A censura é de 12 anos. Mais informações pelos telefones (65) 9983-5173 e (65) 8405-3085.