Opinião

Aonde dá a onda

 
Às vezes, mansa. Outras, com marola. A vida pode ser um sossego com céu de brigadeiro. Assim meio lagoa, tipo piscininha. Verde esmeralda, azul translúcido. Água tépida, boa para boiar e nadar.
 
Essa é a praia ideal? Para alguns, talvez. Para outros, nem tanto. Nada é permanente. Ondas, elas tem que existir. É o ir e vir.
 
Delas dependem as manobras, o desenho riscado nos picos no ritmo inconstante ditado pela força do mar.
 
Bom para os atletas observadores dos ventos que acariciam ou açoitam a superfície e atiçam as correntes marinhas.
 
Vento que venta na direção do instante, ainda fácil de dominar com alguma habilidade. Longos mergulhos, o vai e vem praia e espera, depois da arrebentação.
 
Na beira, é como pular corda. Tem que saber a hora de entrar e sair, o momento certo de chegar e agir.
 
Quanto mais alto, maior o risco, aumenta a emoção. O fator que amplia o tempo da descida pode ser decisivo. Ir ou não ir. Domar, evoluir ou tomar.
 
Tudo ali, nas mãos, braços e pés de quem se lança, ainda por opção. Respiração, força e ação.
Também há a tempestade. Viração sem perdão nem piedade. Tudo forte, ligeiro, pauleira, inexorabilidade.
 
Parece que não termina porque não há escolha, nem previsibilidade. O quase eterno sopro do gigante.
 
Uma magistral virada no vento e o oceano ruge.  Engole que nem fera. Exigindo concentração, esforço e braçada.
 
O segredo é não parar nem recuar.
 
Enfrentar de peito aberto o maior e mais forte. Seguir mar a dentro  enfrentando o perigo. Único caminho para fugir da área crítica.
 
Mesmo sem saber o que está por trás da gigantesca massa de água. Compacta e apavorante ela cresce cada vez mais. Domina a visão, sugestiona a mente.
 
Perdendo o fôlego, engolindo o medo, braçada após braçada, só resta aumentar – sempre – o ritmo.
 
Na cabeça só foco e certeza. A falta de uma braçada pode ser o que separa a parede demolidora nas costas da proteção das profundezas.
 
Ali, onde será possível aproveitar o repuxo avançando um pouco mais para fora do espaço que separa uma última chance do nada indesejável. 
 
A fera cresce pronta para devorar ou, pior, cair como uma bigorna de milhões de quilos sobre o espaço no qual – sabemos – somos apenas um elemento a mais.
 
Sem preconceito, sem escolha. Por que ali, como na vida, quem decide é ela.
 
Por incrível que pareça, a única possibilidade é encarar. Sempre em frente. Fazer o possível para chegar o quanto antes diante do inevitável e, sim, afundar! No mergulho mais profundo que puder.
Depois é rezar para conseguir emergir e respirar novamente, antes de olhar o que havia por trás do  monstro.
 
Talvez outro, maior ainda.
 
E, aí, como na vida, saber que só há um jeito, começar tudo de novo: nadar, rezar e acreditar… 
 
*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “Ponta do Leme”, do SEM   FIM…  delcueto.wordpress.com

Valéria del Cueto

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Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “Ponta do Leme”, do SEM FIM... delcueto.wordpress.com

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