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‘Cobras viraram bichos de estimação’, diz moradora afetada por cheia no AM

 
A dona de casa Sandra Pena, de 47 anos, chega a brincar com a situação. "Estamos acostumados, já. As cobras já viraram nossos bichos de estimação!", diz.Sandra conta que chegou a matar uma cobra. Na geladeira de casa, guarda a gordura do animal. "A gordura da cobra cura inflamação e feridas. É uma receita antiga, do tempo da minha avó. Funciona", afirma.
 
Em uma casa vizinha, um grupo de crianças também fala sobre episódios envolvendo cobras durante a cheia. Dizem que, à noite, as luzes não podem ser desligadas por causa do medo da chegada dos animais. "Um dia encontramos uma cobra no banheiro. Era uma sucuri muito grande, que pulou e fugiu. Dá medo de brincar aqui. Sempre vemos animais na água", diz um menino de 8 anos.Outro local afetado pela cheia do Rio Negro é o bairro da Glória, na Zona Sul de Manaus. Lá, os moradores também buscam alternativas para não terem contato com a água e o lixo.
 
A desempregada Andressa Oliveira, de 33 anos, que aparece no vídeo no início da reportagem, construiu "marombas" (pontes de madeira feitas no período de cheia) dentro da própria casa."Vejo as pessoas ao meu redor sendo atendidas e até saindo daqui, mas, comigo e com a minha família, nada até agora. Esse ano a prefeitura não nos deu nada. Tivemos que construir sozinhos, senão ficaríamos esperando", diz. "Sempre vou atrás para pedir que nos tirem daqui, mas nunca tenho resposta. Por causa da cheia, perdi sofá, armário e outras coisas. Por sorte, a casa tem um segundo andar onde posso colocar as coisas", diz.
 
No beco Bragança, localizado no bairro São Jorge, na Zona Oeste da cidade, alguns comunitários afirmaram já estar acostumados com a situação, que se repete todos os anos. "Está crítico. Esperamos pelo poder público e ninguém dá resposta", afirma um morador da comunidade que não quis se identificar."O resultado é a dificuldade de locomoção, esse cheiro ruim e a possibilidade de aparecer doenças como leptospirose. Isso sem falar que é um perigo para as crianças. Elas saem correndo nessas marombas, podem cair na água e até morrer, como já aconteceu algumas vezes", diz.
 
Todos as famílias visitadas pela equipe de reportagem relataram falta de auxílio do poder público. Procurada pelo G1, a Defesa Civil do município afirma que "todas as famílias afetadas pela cheia em Manaus foram cadastradas e receberam kits oferecidos pela Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos [Semasdh], além do aluguel social".Em comunicado, a Semasdh diz não há registro de famílias cadastradas que estão sem receber o benefício. "Até o momento desconhecemos esta denúncia ou nenhuma família nestas áreas que tenha sido atingida pela cheia e não tenha sido cadastrada pela Prefeitura. Caso alguma família se encontre em situação de risco, pode contatar a Defesa Civil Municipal pelo telefone 199", afirma a nota.
 
A secretaria informou ainda que 3 mil famílias atingidas pela cheia do Rio Negro foram cadastradas em 19 áreas da cidade, incluindo os bairros da Glória e São Jorge, citados nesta reportagem. "Todas as moradias em risco devido à cheia tiveram laudo técnico realizado pela Defesa Civil Municipal e levantamento socioeconômico pelas equipes da Semasdh.  Todas as famílias que comprovadamente estavam em situação de vulnerabilidade devido à enchente receberam o benefício do aluguel social, pago em duas parcelas de R$ 300,00".
 
Cheia
O último balanço da Defesa Civil do Amazonas aponta que 39 municípios foram atingidos pela cheia dos rios. Conforme o órgão, atualmente, 37 municípios estão em situação de emergência e dois em estado de calamidade, com mais de 317 mil pessoas afetadas. As cidades começaram a enfrentar o problema ainda no mês de abril deste ano.Em maio, o Rio Negro, que banha Manaus, ultrapassou a marca de 28,94 metros, considerada de emergência, e alcançou a faixa de alerta na capital. A previsão do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) é que o nível rio deve sair da faixa de alerta no mês de agosto.
 
Cinco municípios entraram na lista de afetados: Autazes, Itacoatiara, Anori, Careiro Castanho e Codajás. Além dessas cidades, a lista atualizada tem Borba, Apuí, Envira, Guajará, Ipixuna, Lábrea, Novo Aripuanã, Manicoré, Nova Olinda do Norte, Tapauá, Anamã, Barreirinha, Beruri, Boa Vista do Ramos, Caapiranga, Canutama, Careiro, Careiro da Várzea, Coari, Fonte Boa, Iranduba, Jutaí, Manacapuru, Manaquiri, Maraã, Maués, Nhamundá, Parintins,Pauini, Silves, Tefé, Itamarati, Urucará e Urucurituba.
 
G1

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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