O estudo “Oportunidades na cadeia de processamento de cereais para produção de proteínas e biocombustível – Uma avaliação das oportunidades do Centro-Oeste do Brasil” foi produzido pela Céleres Consultoria a pedido da associação. Segundo o diretor da Céleres, Ricardo Giannini, não há empecilhos em relação à tecnologia, que já é bem conhecida dos brasileiros. “O que precisamos trabalhar é o acesso ao financiamento para a construção ou ampliação das usinas, e o marco regulatório para a produção”, explicou.
Por enquanto, o governo federal não informou se haverá uma linha de financiamento diferenciada por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “Atualmente, a taxa de juros é alta, girando por volta de 10%, e é indexada em dólar”, explicou Giannini. Em relação ao marco regulatório, o que existe são regras para a produção de etanol à base de cana-de-açúcar. “Não sabemos se a legislação continuará a mesma para a produção de etanol de cereais”, disse.
Tomando como exemplo uma usina full (que produz etanol somente a partir de cereais), com o processamento de mil toneladas de milho por dia seriam produzidos 130 mil metros cúbicos de etanol por ano, e 80 mil metros cúbicos de DDG – farelo proteico originado do cereal, muito utilizado para alimentação animal. Isso sem contar com a geração de CO2, outra oportunidade de negócio. Nos cálculos feitos no estudo, com a situação atual da legislação tributária para etanol, o investimento de US$ 69 milhões na construção da usina teria retorno em 66 meses, contando com a construção. O lucro líquido seria de 10% e a taxa de retorno, por volta de 25%.
Porém, o problema do etanol seria quase o mesmo do milho: a dificuldade para vender o produto. “Não é simples entrar no mercado de combustíveis”, pontua o gerente de Planejamento da Aprosoja-MT, Cid Sanches. De acordo com o conselheiro consultivo da entidade, Glauber Silveira, Mato Grosso produz mais de 1 bilhão de litros de etanol, dos quais 60% são consumidos no estado e 40% são vendidos para o norte do Brasil e também para São Paulo.
Silveira acredita que o mercado está saturado e é preciso incentivar o consumo de etanol. “Para termos um aumento no consumo de etanol, precisamos aumentar a diferença entre o preço do etanol e o da gasolina. Mas podemos pensar não apenas no aumento do preço da gasolina, mas também na redução do preço do etanol”, comenta. Glauber acredita que, com a aptidão de Mato Grosso em produzir milho e cana-de-açúcar (e consequentemente produzir etanol nas usinas flex), os consumidores poderiam utilizar somente este combustível, pagando entre R$ 1,90 a R$ 2,00 o litro.
Giannini reforça ainda que mesmo com investimentos em usinas flex e full, haverá milho suficiente para abastecer o mercado da cadeia de carnes. “Existe a produção de farelo que abastece esta cadeia e, com a usina, há potencial de desenvolvimento das regiões por atrair outros negócios”, reforçou o diretor da Céleres.