Os desvios, segundo investigação, ocorreram a partir do pagamento de precatórios nas gestões do hoje senador pelo PR Blairo Maggi (2003-2010) e de Silval Barbosa (PMDB), atual governador.
Ainda segundo a reportagem, de 2009 a 2012, o Governo de Mato Grosso pagou R$ 260,6 milhões à empreiteira Andrade Gutierrez referentes a dívidas por obras feitas na década de 1980.
A Justiça do Estado questionou os pagamentos em 2009, apontando desrespeito à fila de credores, o que a gestão Maggi negou.
"Agora, na Operação Ararath, deflagrada em 2010 e que apura suposto esquema de corrupção com braços em todos os Poderes de MT, a PF descobriu que a Andrade Gutierrez, assim que recebeu a garantia de pagamento, vendeu os créditos dos precatórios a uma empresa alvo da operação. Pelo contrato, a empreiteira cede parte dos créditos com deságio, por só 54% do valor total, para a Piran Participações, de Valdir Piran, investigado pela PF", diz a reportagem.
Para a polícia e o Ministério Público Federal, diz Rodrigo Vargas, a operação deu prejuízo à empreiteira e "serviu apenas para escudar transferência de recursos do Estado para a Piran".
A investigação aponta três razões para isso diz a reportagem da Folha: 1ª) não havia vantagem em vender créditos com deságio, porque o Estado já tinha assumido pagar no prazo; 2ª) o Estado pagou à Andrade Gutierrez parcelas mais altas e antes mesmo das que a Piran assumiria; 3ª) se fosse mesmo cessão de crédito, o correto seria a Piran pagar primeiro e depois receber os créditos.
Papéis dessa transação foram apreendidos com Éder Moraes (PMDB), ex-secretário da gestão Maggi e do governo de Silval Barbosa. Ele está preso e é acusado de operar o suposto esquema.
A PF diz que é preciso quebrar o sigilo bancário da Andrade Gutierrez e da Piran –ainda não há decisão a respeito. Para a PF e o Ministério Público Federal, a Piran e Moraes são operadores do "banco clandestino" que movimentava empréstimos privados fraudulentos e dinheiro público desviado em MT.
Outro empresário apontado como operador, Gércio Mendonça Jr. aceitou ser delator em troca de benefícios na acusação e disse que a Piran "lava dinheiro" para Moraes e seu grupo político.
"Suspeita-se ainda que o esquema tenha braços no Legislativo, no Judiciário e no Ministério Público do Estado de Mato Grosso", conclui Rodrigo Vargas, correspondente da Folha de São Paulo em Mato Grosso.