Cidades

Cuiabá 295 anos: Centro tem grande legado histórico

 
O fotógrafo profissional Rai Reis e o publicitário João Manteufeul, o João Gordo, são exemplos de profissionais antenados. Já estão devidamente instalados no entorno da Praça da Mandioca, o principal reduto cultural e popular da capital mato-grossense, localizada justamente entre os antigos casarões da região central.
 
Esse movimento natural de revitalização do centro, bem marcante nos 295 anos de Cuiabá, vem de encontro ao valor arquitetônico e histórico do local, como bem descreve a doutora em Teoria e História da Arquitetura e Urbanismo e professora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Luciana Mascaro: “Prédios e construções antigas não são itens isolados que formam o patrimônio histórico de uma localidade, pois o traçado urbano e a paisagem que proporcionam determinado ponto também compõem a história e a cultura de uma região”, observa Luciana.
 
Outros são sinônimo de abandono e descaso com o patrimônio histórico da cidade - Foto: Mary Juruna Para a especialista, uma edificação isolada não apresenta o mesmo valor histórico e cultural, em termos qualitativos, do que um conjunto, dando o exemplo do Conjunto Arquitetônico, Urbanístico e Paisagístico do Centro Histórico da Cidade de Cuiabá, e seu traçado urbano, que remonta ao início da colonização da região, no século XVIII. Ela diz ainda que esses espaços são também fonte de conhecimento.
 
“Temos no Centro Histórico aquele traçado urbano, das ruas, que permanece original desde o início da cidade. Esse traçado é muito importante. Uma edificação isolada talvez não tenha o mesmo valor em termos qualitativos, por isso que o Conjunto Arquitetônico do Centro Histórico de Cuiabá possui relevância. Esses fatores, além da paisagem, possuem um valor histórico e cultural, além de ser fonte de saberes daquela época”, diz ela.
 
Ela afirma também que o patrimônio de uma região tem fundamental importância na identidade e no sentimento de pertencer a uma localidade que recai sobre as pessoas. “A edificação tem seu valor histórico e cultural, e ela também é um documento que transmite saberes. O patrimônio tem um sentimento de identidade. Se você não conhece nada da sua história, fica parecendo que não existe nada lá atrás. Mas, a partir do momento em que você conhece, forma laços muito mais facilmente, cria vínculos com aquilo. Se você não entende, não sabe o que é aquilo, não atribui valor e fica fragilizado em sua autoestima”, afirma ela.   
 
Jogo de empurra retarda revitalização
 
Os poderes públicos – sobretudo da esfera municipal e estadual – protagonizaram um conflito durante muitos anos em relação ao que deveria ser feito com o patrimônio histórico da cidade, segundo o arquiteto e professor da Universidade de Cuiabá (Unic) José Antônio Lemos, em entrevista ao Circuito Mato Grosso.
 
Arquiteto e professor da Unic, José Antônio Lemos - Foto: Mary JurunaJosé Lemos destaca que, além de o imóvel necessitar de características marcantes de determinada época para ser tombado, além da técnica, precisa ter vinculação com a cidade, dando exemplo de um prédio onde tenha acontecido algo marcante. Mas lamenta o jogo político que permeia a discussão, sobretudo numa cidade com quase 300 anos como Cuiabá, que tem exemplos de arquitetura que valem a pena ser tombados.
 
“Assisti, durante muitos anos, a mais um conflito do que uma tentativa de acordo entre os poderes. Vi muitas vezes o município querer fazer um serviço, mas aí o Estado não entrava em acordo e vice-versa. Acho lamentável, pois, no caso de Cuiabá, temos imóveis que datam do século XVIII que poderiam ser tombados e revitalizados, não apenas pelo seu estilo mas também pelo vínculo que têm com a cidade”, diz ele.
 
De acordo com o arquiteto, um dos investimentos mais urgentes que deveriam ser feitos seria o rebaixamento da fiação dos postes do Centro Histórico, tendo em vista que essa é uma condição primordial para a realização de um “trabalho superficial”. Afirmando que outros imóveis contemporâneos também deveriam receber o tombamento, o professor universitário relata que, ao longo dos anos, os investimentos públicos foram insuficientes para cumprir tal demanda.
 
 

Redação

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