Moradora de Anápolis, a 55 km de Goiânia, Márcia nasceu, em setembro de 1992, com a doença e cerca de 80% do cérebro lesionado. Ela já passou por cinco cirurgias no cérebro e possui duas válvulas, que drenam o líquido gerado em excesso. Para a mãe, a funcionária pública Norys Souza Rodovalho, de 55 anos, é motivo de orgulho saber que a filha superou tantos desafios e conseguiu entrar em uma universidade. “É uma conquista muito grande para quem não ia sequer engolir, que teria que se alimentar por sonda. É algo grandioso. Fiquei muito feliz”, afirma.
Márcia foi aprovada em 1ª chamada no processo seletivo 2014/1 por meio de cotas para pessoas com deficiência. Atualmente, a universidade possui 91 estudantes com algum tipo de problema físico ou mental. Segundo a UEG, o Núcleo de Acessibilidade Aprender Sem Limites oferece a assistência necessária a esses alunos.
Há dois anos Márcia resolveu colocar sua história no papel e começou a escrever uma autobiografia. Foi então que surgiu a ideia de prestar vestibular para um curso de letras. “As matérias de humanas eu gosto demais. Sempre gostei de ler e escrever. Até pensei em fazer jornalismo, mas vi que seria difícil para mim e também o que eu queria mesmo era letras”, ressalta.
Márcia conta que está ansiosa para o início das aulas, previsto para abril. Em visita à universidade, ela relata que foi bem recebida. “Temo a adaptação, porque acho que sou diferente dos colegas da escola, mas acho que vão ser receptivos. Todos querem me cumprimentar, abraçar, gosto desse carinho”, afirma.
Segundo a jovem, ela sempre foi incentivada a estudar pela família e pelo neurocirurgião Paulo César Francisco. Desde pequena, Márcia estudou em escolas públicas. Simultaneamente, até aos 14 anos, ela também frequentava a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Anápolis.
“No começo foi complicado, até os dez anos, por exemplo, ela não conseguia controlar as necessidades. Na Apae, recebeu um apoio multidisciplinar e foi se desenvolvendo. No ensino médio a gente descobriu que ela poderia chegar a uma universidade”, explica a mãe.
Norys acredita que a filha vai evoluir ainda mais durante a faculdade. “É uma alegria grande saber que nesses quatro anos ela vai conviver com gente da idade dela. Ela vai desenvolver, vai se relacionar e isso é muito importante”, acredita.
Acompanhando Márcia desde que nasceu, o neurocirurgião Paulo César Francisco se tornou amigo da estudante. Ela afirma que o médico foi importante para que gostasse de ler. Inclusive, foi ele quem deu para Márcia o livro Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez, que é um dos preferidos da jovem. “Percebi que ela precisava desenvolver a leitura e que aceitava as sugestões. Então, passei a incentivá-la”, disse o neurocirurgião.
Atualmente, Márcia visita cerca de três vezes por ano o especialista. Paulo César acredita que a jovem não vá precisar passar por nova cirurgia no cérebro. “Ela está em uma fase estável. Ao olhá-la na rua, você não vê nada de diferente. Ela se comunica bem e é talentosa. Ela só possui um pouco de deficiência na parte de cálculos”, explica.
G1